Estudo da associação revela que a grande maioria compromete até 33% da renda
para pagar pela assistência
Uma
pesquisa inédita da Associação Nacional de Hospitais Privados -- Anahp, em
parceria com o PoderData, revela que 5 em cada 10 usuários dos serviços de
saúde suplementar estão satisfeitos com o sistema. No recorte de usuários
exclusivos do Sistema Único de Saúde (SUS), 45% aprovam a assistência. A
avaliação “regular” é feita por 45% do público geral pesquisado, que reúne
usuários dos serviços público e privado.
O levantamento faz parte da campanha da associação “2022: o
ano de ouvir a saúde”, que visa pautar o setor público e
privado. Ao todo, foram entrevistados mais de 3 mil brasileiros em 388
municípios que demonstraram suas percepções sobre os serviços oferecidos no
país.
Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp,
acredita que durante o enfrentamento da pandemia de Covid-19, cresceu a
preocupação das pessoas com a qualidade dos serviços de saúde. “O brasileiro
agora tem mais propriedade e conhecimento sobre os sistemas, partes boas e
ruins. Ele se sente mais participante das discussões sobre o tema”, afirma.
Os achados da pesquisa indicam ainda que o nível de instrução da população está
diretamente ligado à percepção dos brasileiros sobre os sistemas. Quanto mais
alta a escolaridade, maior a insatisfação, que chega a 50% entre os que têm
ensino superior.
A saúde no Brasil em 2023
Para colocar o tema no centro das discussões que
antecedem o calendário eleitoral, a Anahp reuniu lideranças políticas na saúde
para debater as ações que podem otimizar os serviços de assistência.
Para Humberto Costa, senador e atual presidente da Comissão de Direitos Humanos
do Senado, a pesquisa é um roteiro para quem está pensando a política de saúde
daqui para frente. “Apesar do estudo apontar investimento em desenvolvimento
tecnológico como prioridade, é preciso colocar o tema recursos humanos em
evidência. Nós precisamos ter médicos que atendam no SUS com qualidade. Essa
questão é fundamental. Por exemplo, regulamentar a telemedicina pode ser
fantástico para capacidade de resolução na atenção básica, na própria área de
especialidades, e fazer uso disso com a preocupação profissional, de recursos
humanos, é essencial.”
Trabalhar a meritocracia na saúde pode ser um caminho. É o que sugere Osmar
Terra, deputado federal pelo PMDB-RS. “Deveríamos ter um prêmio pela diminuição
de pessoas acometidas por doenças e não pelo tratamento. Os profissionais que
trabalham na ponta devem ter mapeado de maneira adequada desde a promoção da
saúde até o atendimento ultrassofisticado. Quanto melhores forem os indicadores
na área geográfica que o médico atua, mais ele deve ganhar. Isso faz com que o
profissional esteja mais presente. Afinal, médico sem dedicação exclusiva não
tem tempo para atender com qualidade”, considera. Essa harmonia entre
prevenção, promoção e atendimento médico hospitalar tem que existir no sistema,
de acordo com Terra.
A falta de cuidado com prevenção é preocupante e
envolve mudança de hábito de vida, o que é muito difícil, segundo Denizar Vianna,
professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) e ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do
Ministério da Saúde. “Temos muitos desafios, esse é só um. Entender como fazer
a integração dos setores público e privado e onde faz sentido que isso
aconteça, é outro ponto relevante. Assim como telemedicina sem regulação gera
mais gasto sem necessariamente entregar mais resultados. É um instrumental
muito importante para dar acesso a mais de 5 mil municípios, mas precisamos do
cuidado presencial também. Temos, ainda, que olhar para P&D com uma visão
interministerial. Esses são os pontos principais para articular numa proposta.”
Para Leandro Piquet, professor e coordenador do Programa Partido Novo, na área
da saúde é fundamental pensar a ideia de parcerias público privadas (PPPs) e a
reforma do sistema previdenciário. “Passar para papel de prestador de serviço e
não apenas de assistencialista para que não gere esse tipo de relação quase
parasitária que existe também é uma preocupação. E, ainda, precisamos pensar de
uma forma inovadora a importância fundamental nos gastos de saúde no setor
privado, pensar a efetividade dos gastos e olhar o resultado final dos
atendimentos”, completa.
Líderes das principais entidades do setor como Federação Brasileira de
Hospitais (FBH), Conselho Nacional de Saúde (CNSaúde), Interfarma, Associação
Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (Abimed), SindHosp, Associação
Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO), Sindusfarma,
Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Federação Nacional de Saúde
Suplementar (FenaSaúde) e Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica
(Abramed) foram responsáveis por compor o debate.
Gastos com saúde suplementar
Sete a cada 10 brasileiros (73%) usuários da saúde
suplementar gastam até 33% da renda mensal para pagar pela assistência. Na
perspectiva da Anahp, esse índice não é sustentável, mas a diminuição dos
custos com essa despesa e ampliação dos serviços de saúde suplementar, estão
diretamente ligadas à geração de emprego e renda. Isso porque a associação
estima que cerca de 70% dos planos de saúde contratados no Brasil são feitos de
forma corporativa. "Se a economia, o volume de empregos, a renda e salários
não crescerem, de onde as pessoas e as empresas vão tirar dinheiro para
aumentar o número de beneficiários?", questiona o diretor-executivo.
O estudo acende um alerta com relação às atividades de prevenção. A saúde
suplementar no Brasil deixa a desejar no quesito ao constatar que apenas 15%
dos usuários participam das iniciativas preventivas oferecidas visando o
cuidado e a promoção à qualidade de vida. Segundo Antônio Britto, esse é um dos
dados mais preocupantes da pesquisa. O executivo prevê que “se não começarmos
rapidamente a dar mais importância para prevenção, a corrida para oferecer
saúde de qualidade será perdida, porque o número de doenças crônicas está
aumentando assim como a expectativa de vida.”
Novo governo
Quando questionados sobre o que desejam que seja a principal prioridade do
próximo governo na área da saúde, em primeiro lugar, os brasileiros esperam
mais tecnologia e inovação, seguido de maior disponibilidade de medicamentos
gratuitos fornecidos pelo SUS.
Na visão de Britto, é preciso definir uma política de inovação, consistente, coerente e continuada para o setor. “O potencial dos nossos cientistas, reconhecido mundialmente e a capacidade produtiva de instituições como a FioCruz e o Butantan não são acompanhadas de políticas públicas e interesse privado que ampliem o nível de inovação. Por consequência, nós dependemos dos chamados grandes insumos para produção de vacinas, medicamentos e equipamentos. Isso ficou evidente durante a pandemia quando passamos a ter carência de insumos básicos para serviços assistenciais”, avalia o executivo.
Metodologia
Os dados da pesquisa “O que pensam os brasileiros sobre a saúde no Brasil?”
foram coletados entre os dias 1 e 8 de abril de 2022, por meio de ligações
telefônicas, adotando seleção aleatória do discador e IVR (Interactive Voice
Response). Foram entrevistadas 3.056 pessoas acima de 16 anos em 388 municípios
nas 27 unidades da Federação, sendo que 83% são usuários do SUS e 17% da saúde
suplementar, mesmos percentuais do universo pesquisado. A margem de erro é de 2
pontos percentuais e o intervalo de confiança é de 95%. Foi aplicada ponderação
paramétrica para compensar desproporcionalidades nas variáveis de sexo, idade,
grau de instrução, região e renda. Alguns resultados da pesquisa foram
arredondados. Devido a esse processo, é possível que o somatório de algum dos
resultados para algumas questões seja diferente de 100. Acesse o
estudo na íntegra.