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quarta-feira, 3 de junho de 2020

Ciência investiga a genética do novo coronavírus e origem de transmissão da covid-19



Desde que foram relatados os primeiros casos de humanos com covid-19, na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, em dezembro de 2019, pesquisadores e órgãos internacionais de saúde investigam a origem da transmissão da doença. Logo que surgiram os primeiros casos, a suspeita divulgada foi de que a contaminação estaria associada à venda de animais silvestres para o consumo humano no mercado chinês de frutos do mar da cidade chinesa. 

No entanto, segundo o médico-veterinário Ricardo Dias, professor do Laboratório de Epidemiologia e Bioestatística, da Faculdade de Medicina de Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), os primeiros casos de covid-19 não foram de pessoas com histórico de contato no mercado de Wuhan. “Uma teoria alternativa, proposta pela comunidade científica, é a de que tenha havido a transmissão zoonótica em outro local. Quando alguns infectados foram ao mercado, aí, sim, teriam transmitido para mais pessoas, espalhando a doença pela cidade”, explica.

Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, sigla em inglês), até o momento, a fonte ou a rota original de transmissão ao ser humano não é conhecida com exatidão. As pesquisas, entretanto, sugerem que, de acordo com os dados da sequência genética do novo coronavírus (SARS-CoV-2), ele poderia ter emergido de uma fonte animal e seria um parente próximo de outros coronavírus encontrados em populações do morcego-ferradura (Rhinolophus affinis).

Numa série de sete vídeos disponíveis no YouTube, Dias, que é doutor em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses, fala sobre o genoma dos diferentes coronavírus existentes e como está sendo para a ciência o enfrentamento desse novo tipo. Assista.



Origem

De acordo com nota produzida pelos integrantes da Comissão Nacional de Animais Selvagens, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNAS/CFMV), os estudos genéticos revelaram que os morcegos hospedam um tipo de vírus muito semelhante ao SARS CoV-2, que possivelmente infectou uma outra espécie animal, dando origem a uma recombinação genética que resultou no vírus responsável pela pandemia. No entanto, a comissão destaca que a identidade de qualquer hospedeiro intermediário que possa ter facilitado a transmissão para humanos ainda não foi comprovada, assim como a sua forma de transmissão.

Para a CNAS, a transmissão animal-humano da covid-19 ainda precisa ser mais bem estudada. “Mas o pangolim (Manis sp.) vem sendo apontado como um possível hospedeiro intermediário do vírus, porém, ainda sem consenso entre os pesquisadores”, pondera a nota da comissão.

A médica-veterinária Hilari Hidasi, presidente da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (Abravas), reforça que ainda está sob investigação o surgimento desse novo coronavírus. Ela esclarece que as “pesquisas mostraram que o coronavírus encontrado em morcego tem 96% de similaridade com o SARS-CoV-2, porém, a proteína S, que constitui o receptor pelo qual o SARS-CoV-2 se liga nas células do homem, é diferente nesse vírus encontrado no morcego”. Ela acrescenta: “É importante dizer que essa espécie de morcego (R. affinis), na qual se detectou o vírus, é endêmica da China e estava em período de hibernação na época de aparecimento”.

Sobre a origem da transmissão, Hidasi concorda com a CNAS e diz que a suspeita é de que o coronavírus do morcego teria sido transmitido primeiro ao pangolim (Manis javanica), pois o R. affinis não estaria presente no mercado chinês durante a investigação. Já o pangolim teria sido encontrado no local, fruto de importação ilegal, e nessa espécie teriam identificado um coronavírus com a proteína S similar ao do SARS-CoV-2.

“Porém, o SARS-CoV-2 ainda tem um sítio de clivagem polibásico, não presente nos coronavírus encontrados no morcego e pangolim. Ou seja, a teoria mais aceita pelos cientistas é de que ocorreu nesses animais uma seleção natural para adquirir esse sítio antes da transmissão ao homem. Isso seria possível, pois há muitos tipos de coronavírus existentes em populações de animais de vida livre”, explica Hidasi. 

Na visão do professor Dias, evidências apontam para o pangolim, entretanto há outros animais que poderiam ter sido hospedeiros intermediários, incluindo animais domésticos e silvestres. “Vários deles sabidamente se infectam e poderiam ter transmitido o SARS-CoV-2 a humanos”, afirma.

O fato é que, em 2012, quando ocorreu o surto de Síndrome Respiratória no Oriente Médio, causado pelo coronavírus MERS-CoV (Middle East respiratory syndrome-related coronavirus), a transmissão se deu de morcegos a camelídeos e, depois, para humanos. Dez anos antes, a Síndrome Respiratória Aguda Grave na China, causada pelo SARS-CoV-1, também tinha o morcego como reservatório, que a transmitiu a civetas (animais consumidos como fonte de proteínas) e das delas para os humanos.

“Dentre os 38 coronavírus conhecidos, 22 foram descobertos na China. Os coronavírus que têm capacidade de se ligar ao receptor ACE2 no homem [proteína presente no corpo humano, especialmente no pulmão, que atua como receptor do coronavírus] são os mais estudados, por causa do seu potencial zoonótico, e eles foram todos isolados em morcegos do gênero Rhinolophus sp., que têm distribuição cosmopolita [pode ser encontrado praticamente em qualquer lugar do mundo]”, afirma Hidasi.

A médica-veterinária explica que o sistema imune dessa espécie de morcego é diferenciado, por conta da sua adaptação para o voo, o que a torna ainda mais suscetível a diferentes vírus, quando comparada a outros mamíferos. Ao mesmo tempo, essa mesma capacidade de voo e migração favorece a disseminação do vírus.

Dias acrescenta que os morcegos são tão suscetíveis aos vírus quanto outros mamíferos. “Porém seu sistema imune é mais complacente, lidando de forma diferente com infecções virais e a resposta inflamatória”, diz o professor da USP.

“O histórico das epidemias por coronavírus, a ocorrência dos morcegos e a proximidade e relação entre possíveis hospedeiros, como animais sendo consumidos como alimento, e grande densidade populacional, facilitam a mutação viral e sua dispersão, seja por contato direto ou por fômites contaminados [qualquer objeto inanimado ou substância capaz de absorver, reter e transportar organismos contagiantes ou infecciosos de um indivíduo a outro]”, conclui a presidente da Abravas.



Segurança sanitária

Para evitar tragédias anunciadas como a que estamos passando e mitigar futuras pandemias, o caminho seria proibir a venda de animais silvestres para o consumo humano como alimento? Para a CNAS, a falta de controle sanitário na produção dos alimentos de origem animal é o maior dos problemas, já que a manipulação correta, a cocção ou o congelamento de carnes exóticas pode eliminar ou inativar patógenos.

“Acreditamos que a promoção de campanhas de educação em saúde direcionada à produção e ao consumo de alimentos de origem animal seja uma boa conduta. Aliada, é claro, ao cumprimento da legislação, com a aquisição de animais silvestres procedentes de locais devidamente registrados e com controle sanitário adequado”, afirma a comissão.

Assim também pensa a presidente da Abravas. Ela explica que as condições insalubres às quais os animais são submetidos em mercados sem regulamentação, com diversas espécies (cães, galinhas, cobras, porcos, civetas) dividindo o mesmo espaço físico, em gaiolas pequenas, péssimas condições de higiene, com dieta deficiente, manipulados e abatidos em local sem controle higiênico-sanitário, acabam gerando estresse prolongado nos animais, o que leva à imunossupressão, predispondo-os ao contágio e transmissão viral e, consequentemente, aumentando a possibilidade do aparecimento de zoonoses e antropozoonoses.

“A criação em cativeiro, se realizada de acordo com as normas sanitárias e de bem-estar e supervisionada por um médico-veterinário capacitado, reduz ao mínimo a possibilidade de contágio”, afirma Hidasi.

Como medidas preventivas contra novas pandemias, o Dias defende o combate ao tráfico de animais selvagens, o aumento da seguridade alimentar, ou seja, o acesso à alimentação adequada e segura, e a melhoria do saneamento básico da população.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês), especificamente em seus escritórios na Europa e Ásia, tem feito alertas diversos, desde o início da pandemia de covid-19, tem divulgado ativamente as práticas de higiene, inclusive com relação ao consumo de carne de animais selvagens.

“As pessoas não devem manipular, preparar, sacrificar, vender, ou consumir carne que se origina de animais selvagens, de gado doente ou que tenha morrido de causas desconhecidas” destaca a FAO. Ainda acrescenta que a carne crua de animais selvagens ou pratos crus, à base de sangue de animais selvagens, não devem ser consumidos. "Essas práticas expõem as pessoas a alto risco de infecções", informa a entidade, que recomenda a adoção das boas práticas de higiene habitual, como lavar as mãos antes e depois de manipular ou alimentar o gado ou os pets, incluindo o manejo de carne de animais silvestres.

Para contribuir com a prevenção e o controle da propagação de coronavírus, a FAO ressalta que todas as ações devem ser coordenadas com o enfoque da Saúde Única, vinculadas a especialistas em saúde animal, humana e ambiental, como o médico-veterinário. A entidade reitera a necessidade de comunicação imediata ao serviço veterinário oficial e às autoridades de sanidade animal a respeito de qualquer morbidade ou mortalidade incomum dos animais.



Transmissão

Alinhada às autoridades sanitárias internacionais, a FAO reforça que, até o momento, não há evidências significativas da transmissão do novo coronavírus de animais para humanos, portanto, não há justificativa para tomar medidas que comprometam o bem-estar dos animais.

Desde a primeira manifestação global do novo coronavírus, a FAO colabora estrategicamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a OIE para ajudar os países-membros a identificar animais que possam hospedar esse vírus e reduzir os eventos de contágio humano.

“Se você está realizando pesquisas para determinar a epidemiologia da covid-19 e a participação de animais como reservatório de vírus ou hospedeiros intermediários, comunique a organização”, solicita a FAO, que supervisiona e compara informações detalhadas sobre a situação dos doentes em todo o mundo, além de coordenar atividades de prevenção, preparação e detecção de animais.

A CNAS acrescenta que é prematuro falar da transmissão da covid-19 entre animais e apontar quais espécies podem ou não se infectar com o novo coronavírus. O que já se sabe sobre as coronaviroses, catalogadas e estudadas antes mesmo dessa pandemia e que nada têm a ver com o SARS-CoV-2, é que são mais comuns em mamíferos e aves, segundo a presidente da Abravas. “Podem acometer grupos animais específicos, como cetáceos, quirópteros, felinos, caninos, humanos, ouriços, ungulados, podendo ocorrer transmissão entre espécies, porém, o fato de haver transmissão não, necessariamente, significa manifestação de doença”, diz Hidasi.

De qualquer forma, para toda doença, a CNAS recomenda seguir o protocolo de prevenção instituído, desde que se conheça o perfil epidemiológico da população, o patógeno e como ele causa alterações na saúde de animais e humanos. “Para alguns coronavírus das espécies domésticas já existem até vacinas para os animais, as quais fazem parte de protocolos preventivos”.

“A transmissão não necessariamente significa manifestação de doença”, complementa a presidente da Abravas. De qualquer forma, como velejamos em mares nunca dantes navegados, a presidente da Abravas recomenda as medidas sanitárias adequadas para a prevenção de doenças de uma forma geral: lavar as mãos regularmente, fornecer manejo adequado ao animal (temperatura, ventilação, iluminação, nutrição, recinto etc.), manter o ambiente que o animal frequenta sempre limpo e evitar contato direto do animal com pessoas imunocomprometidas. “O tratamento dos animais infectados deverá ser realizado de acordo com a espécie acometida e os sinais clínicos apresentados, sendo o médico-veterinário especializado nessas espécies o responsável por conduzir o caso”, alerta.

Esse tem sido o protocolo no caso da tigresa do zoológico do Bronx, em Nova York, nos Estados Unidos, que testou positivo para o novo coronavírus. Hidasi está em contato com os médicos-veterinários da instituição e relata que a tigresa e os outros felídeos acometidos (cinco tigres e três leões) receberam tratamento paliativo, conforme as necessidades. “Até o momento, foi relatado que os animais estão evoluindo bem, clinicamente, e todos os funcionários estão utilizando Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nos cuidados de todos os felídeos selvagens da instituição”, diz.

A médica-veterinária da Abravas explica que os felídeos apresentam um receptor homólogo ao ACE2 nos pulmões, assim como os humanos, implicando predisposição a desenvolver a doença se expostos ao vírus, mas nada que comprove que, uma vez doentes, são capazes de transmitir esse vírus ao homem.



Selvagens pets

Quais são os cuidados para quem cria jiboias, iguanas, papagaios, jabutis, entre outras espécies selvagens, como animais de estimação, seja em uma casa ou apartamento?

No Brasil, a criação legalizada de animais silvestres é prevista em lei. A importância de ter um animal com origem conhecida desde o nascimento garante a sanidade dele e de seus cuidadores. “O risco sanitário ocorre quando a origem do animal é desconhecida, quando não há assistência médico-veterinário periódica, nem ambiente e nutrição adequados, de acordo com as características biológicas da espécie”, alerta a CNAS.

A presidente da Abravas revela que os proprietários que adquirem animais silvestres comercializados legalmente recebem, em sua maioria, orientação adequada sobre o manejo dos animais e acompanhamento médico-veterinário.

“De forma geral, havendo conscientização dos tutores sobre a importância de adquirir animais silvestres de criadores legalizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de conhecer a biologia e o manejo da espécie, bem como orientação e acompanhamento veterinário especializado com check-ups periódicos, reduz-se o risco de ocorrência e disseminação de doenças infectocontagiosas”, tranquiliza Hidasi.

O risco, segundo a médica-veterinária de selvagens, está nos animais silvestres oriundos de tráfico, “pois normalmente foram expostos a condições insalubres e manejo incorreto, predispondo a manifestação de doenças diversas (zoonóticas ou não)”, complementa.

Para os profissionais que atuam nos serviços veterinários essenciais que recebem, atendem, reabilitam ou mantêm animais silvestres e exóticos, sejam em centros de triagem, zoológicos, aquários e criadouros ou mantenedouros de fauna similares, a CNAS recomenda que se mantenha a vigilância em saúde dos funcionários e oriente a utilização dos EPIs por todos. “A saúde do trabalhador também é uma função da Responsabilidade Técnica”, lembra a comissão.

Já a Abravas, publicou uma nota com 23 recomendações específicas aos médicos-veterinários de animais selvagens e pets não convencionais. O documento pode ser acessado no site da associação. Confira.






Dra. Hilari Hidasi - atua como médica-veterinária do Zoológico Municipal de Guarulhos (SP), desde 2012. Preside a Abravas, é doutora em Ciência Animal, com ênfase em ornitopatologia, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), onde também concluiu o mestrado e a graduação em Medicina Veterinária (2006). Tem também pós-graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens, pelo Instituto Qualittas.


Dr. Ricardo Augusto Dias - médico-veterinário formado na USP e pós-graduado em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses. Atualmente, é professor associado do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ-USP. É membro de comitês consultivos dos ministérios da Agricultura, Pecuária Abastecimento (Mapa) e do Meio Ambiente, além de integrar grupos de trabalho da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Trabalha com Epidemiologia, conservação da biodiversidade e zoonoses.


Ventilador pulmonar aguarda homologação para ser produzido em larga escala



Imagem do protótipo 
Depois de ter sido aprovado em vários testes, expectativa é de que o equipamento seja homologado pela Anvisa já nos próximos dias; ventilador pulmonar vai atender primeiramente hospitais e órgãos públicos com preços subsidiados


Determinados em preservar vidas e evitar um possível colapso no sistema de saúde do país, provocado pela falta de respiradores nos hospitais, os sócios da Tacom, sediada em Belo Horizonte, utilizaram a expertise tecnológica da empresa para desenvolver, por meio do projeto social Inspirar, um ventilador pulmonar inteligente, voltado especificamente para a recuperação de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Depois de ter sido aprovado em vários testes, o equipamento aguarda a homologação da Anvisa para ser produzido em larga escala.

Com a homologação, a empresa pretende fabricar, em 90 dias, 10 mil equipamentos. “Estabelecemos uma política de custos bancados pelas empresas parceiras para que o primeiro lote da Fiemg chegue sem ônus para os hospitais e a preço de custo para o Estado. Nossa política também prevê que antes de atender qualquer pedido de empresas revendedoras, vamos atender primeiramente hospitais e órgãos públicos com preços subsidiados”, afirma o diretor comercial da empresa, Marco Antônio Tonussi. Os primeiros equipamentos serão enviados para a cidade de Itajubá, no Sul de Minas, em uma fábrica erguida especialmente para finalização da montagem. “Estamos fazendo os testes em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Em paralelo a isso, nossa fábrica em Itajubá já está pronta para atender a demanda, onde temos um parceiro que monta equipamentos eletrônicos que vai nos ajudar”, completa.

O diretor conta que mobilizou engenheiros, programadores e desenvolvedores na criação do aparelho que, em apenas vinte dias, saiu do papel e se tornou realidade. “Foi um projeto muito diferente do normal. Eu estava inquieto em casa querendo participar efetivamente do combate à doença e pensando como poderíamos aproveitar a tecnologia que desenvolvemos na empresa para isso. A questão da falta de respiradores é grave e fui estudar ventilação mecânica para entender o que poderíamos fazer. O esforço deu origem a um equipamento de base tecnológica avançada e baixo custo, que superou todas as minhas expectativas”, explica.

Entre os apoiadores do projeto estão a Fiemg e a Rede Mater Dei de Saúde, que cedeu profissionais para o desenvolvimento do equipamento e a estrutura para os testes do novo respirador. “Prontamente disponibilizamos médicos, engenheiros clínicos, técnicos de engenharia clínica e fisioterapeutas respiratórios para o projeto. O que nos foi solicitado foi expertise prática para que esse equipamento fosse efetivo no tratamento do Covid-19. É um apoio intenso e quase contínuo. Nos vimos na obrigação de apoiar. É difícil mensurar em valores. Em outro cenário seria tudo muito mais caro e demorado”, pontua o presidente da Rede Mater Dei, Henrique Salvador.

Com uma interface simples e custo aproximado de R$ 15.000,00, os ventiladores são significativamente mais baratos que os respiradores importados existentes no mercado, cujo preço médio é US$ 30 mil. E outras vantagens colocam o ventilador à frente dos respiradores comuns. O equipamento evita o vazamento de ar contaminado, expirado pelos respiradores convencionais. Além disso, o uso do aparelho possibilita que profissionais da saúde especialistas em ventilação mecânica possam se dedicar a casos mais graves, já que os ventiladores pulmonares são controlados remotamente, bastando apenas um profissional para controle de até 50 equipamentos simultaneamente.

Os primeiros 1.300 equipamentos já foram encomendados pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), que fará a distribuição para hospitais e prefeituras selecionadas. O governo do Estado também já sinalizou a compra de outros 1.500 respiradores.


SUS: o desafio de ser único



Começo pedindo licença ao economista Carlos Octávio Ocké-Reis, que é doutor em saúde coletiva, para usar o nome de seu livro como título deste artigo. O livro foi publicado pela Editora Fiocruz, em 2012, e é uma obra para ser lida, estudada, debatida, sobretudo pelos políticos no governo e nos legislativos, que são os encarregados de regular e dirigir a política de saúde no país. Neste momento de grave crise, mais que nunca é necessário estudar e falar de políticas de saúde.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define que saúde é o estado de completo bem estar físico, mental e social, e não a simples ausência de doença ou enfermidade. Nossa Constituição Federal diz, no artigo 196, que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Então, aí temos as diretrizes maiores para a política de saúde no país.

Após a Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) começou a ser idealizado e foi regulado e implantado no governo de Fernando Collor, com a Lei no 8080 de 19 de setembro de 1990. Essa lei, que está prestes a completar 30 anos, afirma em seu artigo 2o que “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis a seu pleno exercício”, e segue, no parágrafo 2o, dizendo que “o dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade”.

Os modelos de assistência à saúde e sua sustentação financeira historicamente se deram por três caminhos: o assistencialismo, o previdencialismo e o universalismo. O primeiro modelo, basicamente assistencialista, predominou até os anos 1850 e atendia basicamente a população sem recursos, em geral por meio de instituições como as Santas Casas de Misericórdia e entidades públicas ou privadas de caráter filantrópico. O assistencialismo é uma espécie de solidariedade humana, de inspiração religiosa, fundada na compaixão ou como política pública de combate à pobreza e ao sofrimento.

O segundo modelo, de natureza previdenciária, é um esquema de seguro-saúde em que pessoas participam de um grupo e fazem contribuição rotineira previamente fixada. Exemplo histórico conhecido é a caixa de seguro-saúde dos trabalhadores do artesanato especializado, na segunda metade do século 19. Os planos de saúde privados seguem esse modelo, que foi expandido e testado pela adoção da “saúde em grupo” nas empresas alemãs, com a participação de empregados e empregadores no custeio, até a implantação do previdencialismo a todos os trabalhadores formais na Alemanha pelo governo de Otto von Bismarck, em 1883 , com a participação adicional do Estado.

O previdencialismo é bem conhecido de nós. Os participantes do grupo contribuem com recursos destinados a cobrir uma finalidade só – por exemplo, assistência médica –, ou para atender a várias finalidades – como aposentadoria, pensão por morte, auxílio por acidente, pensão por invalidez etc. A função da empresa gestora do sistema (a operadora) é recolher as contribuições dos participantes e cobrir os gastos dos que são acometidos por eventos cobertos pelo contrato. Para isso, a operadora do plano monta uma estrutura administrativa, a ser paga com um porcentual da arrecadação.

O terceiro modelo é o universalismo, formato como o SUS foi concebido. O universalismo tem origem na Inglaterra, em 1942, com o Plano Beveridge, feito pelo economista William Beveridge (1879-1963), a pedido do governo conservador britânico. Esse plano propunha que todas as pessoas em idade de trabalhar deveriam pagar uma contribuição ao Estado para formar um fundo destinado a subsidiar os doentes, os desempregados, os reformados (aposentados) e as viúvas.

A ideia central de Beveridge era que esse sistema permitiria um nível de vida mínimo, abaixo do qual ninguém deveria viver. Adicionalmente, ele propôs que o governo inglês deveria mobilizar formas de combater os cinco grandes males da sociedade: a escassez, a doença, a ignorância, a miséria e a ociosidade. Alguém pode dizer que existe um quarto modelo: o individualismo, pelo qual cada um cuida de si e paga seus gastos de saúde com seu próprio dinheiro. Esse modelo não é considerado uma política pública, porquanto somente ínfima parcela da população tem condições de bancar todos os eventos de saúde e doença.

O SUS nasceu com a pretensão de ser um sistema nacional de saúde, de caráter universal (atender toda a população), que completa 30 anos apresentando virtudes de concepção e vícios de execução. O principal vício (ou falha, como queiram) está expresso em um dado: do total de gastos da população brasileira com saúde, 58% é gasto privado e apenas 42% é gasto coberto pelo SUS. Em saúde, o Brasil gasta 9% do Produto Interno Bruto (PIB), o que dá R$ 657 bilhões sobre o PIB de R$ 7,3 trilhões em 2019.

Vale lembrar que os gastos com saúde são abatidos da renda tributável no Imposto de Renda, fazendo que o governo contribua com a fração do imposto que deixa de arrecadar em face do abatimento. Se a população arca com 58% do gasto nacional com saúde, por meio de planos privados de saúde ou por conta própria sem plano, o SUS não conseguiu cumprir o objetivo de ser um sistema universal e único. Esta pandemia reforçará o apoio ao fortalecimento do sistema único universal, mas o SUS requer melhorias substanciais em três pontos: eficiência gerencial, fontes de sustentação e combate às fraudes. Há mais a discutir sobre o tema, mas isso é assunto para outro artigo.





José Pio Martins - economista, e reitor da Universidade Positivo.

Conheça as medidas da Caixa para evitar a inadimplência e até mesmo incentivar a compra da casa própria



Com a falta de perspectiva positiva para o retorno da vida normal, tentando fazer com que o mercado imobiliário não perca o ritmo e se desacelere, a Caixa Econômica Federal tem adotado medidas que atraem negócios para o banco mediante benefícios ao consumidor. Novas modalidades e pausa do financiamento, além de carência nas primeiras prestações são as principais novidades.

Segundo o Vinícius Costa, presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), Vinícius Costa, durante anos, o financiamento habitacional foi pautado em contratos com correção do saldo devedor vinculado à TR e taxas de juros que flutuavam entre 4,5% (contratos do Minha Casa Minha Vida) e 12% (contratos SFH e SFI) ao ano. “Pouco tempo antes da pandemia de coronavírus, duas novas modalidades foram anunciadas pela Caixa e garantiram ao consumidor estudar qual a melhor para o seu caso concreto”, aponta.

Ele conta que a primeira tem como base a correção do saldo devedor pelo IPC-A e uma taxa de juros de 3% a 5%, para contratos fora do Programa Minha Casa Minha Vida. A segunda, se relaciona à não correção do saldo devedor e taxa de juros pré-fixada no contrato. “Esta conta com a possibilidade de saber qual o valor da primeira e da última parcela”, explica.

Além dessas possibilidades, a Caixa abriu a pausa no financiamento em tempos de crise para suspensão da cobrança das parcelas pelo período de 4 meses. “Para quem sofre com suspensão do contrato de trabalho, redução de jornada e de salário em tempos de pandemia, a medida é excelente para não perder o imóvel. Claro que esta suspensão não é a isenção das parcelas, mas é importante para evitar que imóveis sejam retomados e para que o caos na habitação se instale”, adverte Vinícius Costa.

Mais recentemente, a Caixa anunciou que os contratos novos poderão contar com uma carência de 6 meses para início dos pagamentos das prestações. “Isso quer dizer que o sonho de aquisição da casa própria poderá se realizar mesmo durante o período de crise, e que o mutuário fica garantido no imóvel pelo período de 6 meses contados da assinatura do financiamento sem precisar pagar as parcelas”, pontua o advogado.

Ele chama a atenção de que é importante entender também se essa carência significa incorporação ou não das prestações. “Carência, pelo sentido literal, não implica em vencimento das parcelas e incorporação das mesmas no saldo devedor, significar que o contrato somente tem exigibilidade a partir do sexto mês de sua assinatura. Por isso, antes de assinar o seu contrato consulte um especialista para compreender o funcionamento da carência e não ser pego de surpresa no futuro”, orienta.




ABMH – Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação

A educação é individual e não plural


O filósofo, psicanalista e especialista psicopedagogo Fabiano de Abreu diz que a educação está defasada


"Estamos na era da selfie, na era do usuário de rede social, na era da identidade pessoal como digital. A educação está defasada, seja ela a dos pais, seja ela do governo ou das instituições particulares. Temos educar as crianças como persona, indivíduo único, direcionado.", inicia Fabiano de Abreu, filósofo, psicanalísta e especialista em psicopedagogia que defende uma educação focada no individual.

Segundo o especialista, "Há, hoje em dia, mais do que em qualquer período histórico a possibilidade de criarmos ciclos de educação individualizada com base em todo o potencial tecnológico.

Os alunos devem deixar de ser vistos como um todo, como uma massa homogénea que se comporta e pensa da mesma forma. A hora é de mudança.".
Abreu refere que as particularidades de cada aluno se devem sobrepor a um todo composto pelo aglomerado.

"O aluno, o ser que está diante de nós deve ser visto nas suas particularidades, deve ser motivado a desenvolver as suas capacidades, as áreas de seu interesse e onde é particularmente notável. O ensino deve ser feito com ritmo próprio explorando o melhor de cada um.

Todos têm um papel nesta alteração, desde os pais aos professores, passando pelas instâncias governativas.

O desenvolvimento passa por uma capacidade ampla de pensar, encontrar soluções e produzir. A nossa sociedade seria muito mais avançada e faria face a muitas problemáticas se tivéssemos mentes a pensar de forma diferenciada. A formatação não trás nada de positivo, a formatação não trás inovação.", defende o psicanalista.

Para Fabiano de Abreu não há qualquer dúvida que o, "O indivíduo deve ser tratado exatamente assim, de forma especial por ser único.", concluí.

OS CONTRATUALIDAS: HOBBES, O AUTORITÁRIO



Em países com mais ou menos riqueza, desde que se viva com razoável distribuição de renda e oportunidades sociais, vive-se em paz. Não é o nosso caso. No Brasil, vivemos espantosas dessemelhanças. Somos algo assim como dois povos, um de costas para o outro, em uma mesma pátria.

Tornamo-nos um lugar de conflitos. Já banalizados, os fatos estão fartamente estampados na mídia; não obstante, provocam pouco interesse. Só quando explosões conflituosas são feitas em espetáculo midiático, fala-se, e aí com surpresa, medo e indignação, da agressão caótica que constrange.

Ora, a surpresa é hipócrita e a indignação é cínica. Para olhos de querer ver, a condição de brutal exploração na qual se desenvolveram as relações sociais brasileiras tem longa e sabida história e não poderia resultar noutra coisa que não fossem a violência e o medo que desconfortam.

Nessas ocasiões, muitos pedem abertamente por punição (e não tão poucos sugerem extinção) aos imputados como bandidos. Essa “proposição” é organizada por parte substancial da mídia, aquela popularesca que vende discursos de bravata a gente ignorante, odienta e justiceira.

A questão é mais complexa do que o encarceramento geral, ou mesmo que a eliminação de alguns. Afinal, já somos campeões de ambas as coisas. Toda consciência sensata sabe que o Brasil tem que compor o seu nunca realizado contrato de convivência e nele há que incluir os deixados à margem.

Se olharmos a geografia dos excluídos: favelas, morros, alagados, palafitas, periferias, quebradas, veremos os pobres, os filhos dos escravizados, dos indígenas aculturados, dos imigrantes malogrados; veremos os migrantes: os boias-frias, os sem-terra, os sem-teto; veremos os sujeitos produzidos e reproduzidos nessas circunstâncias expulsoras.

Criamos esta nação de miséria. A essa nação miserável foi imputada, ademais da responsabilidade por sua condição, a condição de responsável pelas circunstâncias históricas que lhe aniquilou recursos e chances, como se ela fosse voluntária da própria pobreza. Evidente, em se pensando e agindo assim, assim persistirão os efeitos desse desajuste.

Os aparatos de repressão até contêm, mas não solucionam a pressão dos excluídos. Já não há alternativa que não seja admitir a existência e reconhecer, ainda que a contragosto, o direito de existir de todos. E existir é, ou há de ser, viver dentro do mínimo considerado civilizado que a sociedade tem condições – logo, obrigação ética – de proporcionar.

Proporcionar não como concessão de classe privilegiada, mas como contrato entre cidadãos iguais. Dos nomeados contratualistas, Thomas Hobbes (1588-1679) faz o elogio da autoridade, mas relaciona condições para o humano sair do estado de natureza e viver sob a ordem de um contrato social. Conforme O Leviatã (Os Pensadores, Abril Cultural):
“A diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar” (p. 75). “A questão de decidir quem é o melhor homem não tem lugar na condição de simples natureza, na qual todos os homens são iguais” (p. 91).

Ora, este é o sentido do contrato social, ou do abandono da vida bruta porém igualitária, para investir na vida comum em harmonia: segurança e condições de igualdade: “Que ao iniciarem-se as condições de paz ninguém pretenda reservar para si qualquer direito que não aceite seja também reservado para qualquer dos outros” (p. 92).

O Estado é uma invenção dos homens para possibilitar-lhe consensualmente uma existência segura. “Por segurança não entendemos aqui uma simples preservação, mas também todas as outras comodidades da vida” (p. 200). Aos que, no Estado brasileiro, gozam de privilégios, é já passada a hora de ceder um tanto, para haver paz
Por bem ou por mal, todos querem – com o direito de querer – a sua porção das tantas coisas boas que este país oferece. Os excluídos podem buscar legitimamente o que Hobbes nomeia estado de guerra: “Numa tal situação, não há sociedade. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta” (p. 76). Estamos advertidos.




Léo Rosa de Andrade
Doutor em Direito pela UFSC.
Psicanalista e Jornalista.

Especialista em sustentabilidade fala sobre os impactos do Cisne Verde



Incêndios, tempestades, furacões, degelos, crises sanitárias e ambientais são alguns recentes acontecimentos que marcam o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nessa sexta-feira, 05 de junho. Agora, especialistas alertam para um outro sério risco que veio para ficar, o Cisne Verde. O termo “The green swan”, criado em fevereiro, pelo Bank for International Settlements (BIS) se refere à probabilidade de uma crise financeira causada pelas graves mudanças climáticas mundiais.

“Os painéis intergovernamentais do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) já levantavam essa questão, mas o estudo e livro produzido por integrantes do banco BIS, mostram que esse evento possui um potencial extremamente grave do ponto de vista financeiro”, explica o professor da IBE Conveniada FGV, Luiz Fernando de Araújo Bueno, que é especialista em sustentabilidade e responsabilidade social.

Segundo o professor, a crise causada pelo Cisne Verde pode chegar a qualquer momento, como exemplo da pandemia global de coronavírus. Para ele, o Brasil tem conhecimento e noção sobre os estragos desse acontecimento, mas as estratégias e preparação para lidar com esse possível problema ainda são consideradas rasas.

“Estudos comprovam que grandes empresas não colocaram no plano de gestão de risco, temáticas ligadas aos vírus. Era algo que ninguém esperava acontecer, mas que hoje é responsável por impactar o mundo em diversos âmbitos. É necessário estar preparado para os próximos e graves acontecimentos ligados à área ambiental e sanitária”, ressalta Luiz Bueno.

Com a chegada do Cisne Verde, os prejuízos podem impactar as interrupções na produção, destruição física de fábricas e aumentos repentinos de preços. Pessoas, empresas, países e instituições financeiras poderão ser gravemente afetados. “O ser humano vem causando alguns desrespeitos ao meio ambiente e na sustentabilidade como um todo. Se não nos organizarmos, os impactos serão semelhantes aos quais estamos sentindo com a pandemia de Covid-19.”, alerta o professor.

Segundo o especialista, além dos impactos ao mercado, capaz desestabilizar a economia de vários países ao mesmo tempo, o Cisne Verde pode causar riscos globais, com instabilidade financeira e de crédito.

Ele destaca que quando grandes e extremos eventos climáticos acontecem, escritórios e redes de computadores são fortemente impactados. As máquinas acabam ficando sem estabilidade e funcionamento. “Crises climáticas como chuvas, furacões e tsunamis geram problemas de infraestrutura e tecnologia”.

Além disso, o Cisne Verde pode trazer efeitos de liquidez, onde crises simultâneas têm potencial para afetar bancos, que não conseguirão realizar ações como empréstimos e refinanciamentos.

Empresas do setor de seguros também podem ser impactadas. “Por conta dos danos, maiores números de sinistros podem surgir, tornando o valor do seguro mais caro, colocando as empresas do segmento em xeque”.

Para o especialista, as mudanças climáticas se tornaram um fator determinante nas perspectivas de longo prazo das empresas. Por isso, os mercados do mundo inteiro já começam a se atentar sobre as questões que envolvem a economia circular, parcimônia no uso dos recursos naturais e investimentos em ações com menores taxas de carbono.

“É necessário colocar esses aspectos em prática, de um modo que não seja considerado luxo, mas sim, sobrevivência. O mercado vai mudar e a economia verde terá destaque nesse 'novo normal' pós Covid 19 ", finaliza o professor.  




Luiz Fernando de Araújo Bueno - Professor da IBE Conveniada FGV, que é especialista em sustentabilidade e responsabilidade social.

A nova gestão para pequenas e médias empresas pós-pandemia



A gestão empresarial para PMEs (Pequenas e Médias Empresas) não mudou muito nos últimos 20 anos. Desde que comecei a participar de consultorias em gestão, os fundamentos são os mesmos. Porém, a partir de março deste ano as coisas mudaram repentinamente. Fazer uma previsão pós-quarentena para nossos clientes e demais empresas é muita pretensão, mas gostaria de compartilhar algumas reflexões para ajudar no processo de reabertura dos negócios.

Algumas premissas antes de começarmos: 
  1. A pandemia não irá terminar em um dia específico. Não sou especialista em saúde, mas pelo que tenho acompanhado, o coronavírus atingiu apenas parte da população e a imunização com efeito rebanho, quando mais de 70% já tiveram contato e desenvolveram anticorpos contra o vírus, está muito longe da realidade. As vacinas, infelizmente, ainda não são viáveis. Por isso, a flexibilização e monitoramento do avanço da contaminação ditará as idas e vindas da quarentena e isolamento. Ora os estabelecimentos abrem, ora podem fechar.
  2. O medo e insegurança imperam. Medo de contaminação, medo de perder a vida ou de perder um ente querido, medo do desemprego ou de perder renda. Existe um colapso total das pessoas e isso impacta em como elas irão consumir produtos e serviços daqui para frente.
  3. Adaptação e mudanças na rotina. Vivenciaremos uma mudança importante na forma como as pessoas irão trabalhar, como irão à escola, como vão se alimentar, como consumirão cultura e entretenimento. Todas as atividades devem sofrer alguma adaptação tendo como foco seguir regras de higienização, distanciamento e a priorização das atividades remotas.
  4. Setores e segmentos. Alguns foram duramente impactados, como as áreas de eventos, turismo, bares e restaurantes. Outros, caso do segmento de higiene e limpeza, nunca cresceram tanto. Por isso, o empresário deve buscar segmentos que tenham demanda para prosseguir e crescer, mesmo no meio da pandemia. 
Com o plano de “retomada consciente” do governo do Estado de São Paulo, deveremos monitorar a abertura ou fechamento dos estabelecimentos, determinado pelo avanço ou diminuição da contaminação.

Diante de todas essas premissas, vejo que a gestão das PMEs deve ser realizada dia após dia, com planos de curto prazo e análise de indicadores de receita, pagamentos, produção, estocagem, custos e equipe feitas com bastante critério. Por conta da abertura flexível, não se pode investir muito na produção com a certeza do escoamento dos produtos. Por outro lado, o empreendedor também não pode ser surpreendido por uma demanda maior e perder oportunidade de gerar receita. Neste momento, todos os controles devem estar à disposição de cada gestor para tomadas de decisão imediatas.

Não há dúvida de que entraremos em uma recessão. Por isso, os produtos com apelo de preços menores e para baixa renda têm potencial de consumo maior. Passamos pela mesma situação em 2014 e, pela experiência acumulada, sabemos qual caminho escolher agora. Temos bagagem para entender quais produtos e serviços precisam ser readequados de acordo com a propensão e poder aquisitivo dos clientes. Isso faz com que sejamos cães farejadores de desperdício e eliminadores de custos para mantes preços baixos.

Deveremos trabalhar, ainda, nas ações de proteção. Telas de acrílico, faixas pintadas no chão indicando distanciamento, controle de entrada de clientes nos locais, dispenser de álcool gel acionado com os pés, cabines isoladas por pessoa ou por família, atendimento à domicílio e outras iniciativas devem ser executadas e divulgadas para que o cliente tenha confiança para consumir produtos e serviços da sua empresa.

Temos recomendado para os donos de empresas que não arrisquem investir em novos negócios neste pós-pandemia, pois além da demanda ser menor, há o risco de encarar concorrentes que estão fazendo de tudo para sobreviver e, por isso, corroem as margens que um iniciante não tem fôlego para enfrentar.

Infelizmente, neste momento veremos que aqueles que não trabalham com boas práticas de gestão não vão resistir à crise. A pandemia só acelerou o processo, que mais cedo ou o mais tarde, iria acontecer, que é o fechamento de empresas conduzidas por pessoas que deixaram de lado o planejamento, o acompanhamento das ações, a tomada de decisões baseadas em dados, enfim, que não se valeram da gestão atenta do próprio negócio.

É claro que também existirão boas notícias. Veremos empresas que trabalham da maneira correta se reinventando e superando as dificuldades. O novo mundo que nos aguarda será muito diferente de 2019 e de outros anos. A velocidade das mudanças já ditas há tanto tempo nunca esteve tão evidente. Empresas que utilizam plataformas digitais vendem mesmo com o isolamento social, as videoconferências e o ensino à distância já provaram que o ensino tradicional pode ser substituído. Por isso, o empreendedor deve ter a mente aberta para o novo e experimentar outras formas de gerir sua empresa. Talvez, ficar agarrado à forma como a gestão era feita até poucos meses atrás, levará a empresa a permanecer no passado. A empresa que melhor se beneficiará é aquela cujo gestor segue a citação de Alvin Toffler: “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”.






Haroldo Matsumoto - especialista em gestão de negócios e sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativa, consultoria multidisciplinar com atuação entre empresas de diversos portes e setores da economia.

Nova Lei do Agronegócio facilita abertura de crédito para produtores rurais


Incentivos criados pelo Governo devem estimular o setor após a pandemia. Advogada Sheila Shimada analisa os destaques da inovação legislativa


A lei que visa facilitar a abertura de crédito e investimentos estrangeiros aos produtores rurais no Brasil, principalmente em razão da pandemia causada pela COVID-19 apresenta novidades. Em 07/04/2020, a Medida Provisória n° 897/19 (MP do Agro) foi convertida na Lei nº 13.986/20. Para a advogada Sheila Shimada, da Shimada Advocacia e Consultoria, além de regulamentar vários aspectos no setor de Agronegócios, a lei em análise traz aumento relevante da segurança jurídica para investidores nacionais e estrangeiros. 

“Ao normatizar situações que muitas vezes eram discutidas judicialmente, diminui-se o risco das operações, o que projeta um aquecimento considerável para este mercado nos próximos anos”, esclarece a Dra. Shimada. Segundo a especialista, ao analisar a proposta, o presidente Jair Bolsonaro vetou cinco artigos do texto original, dos quais se destacam os artigos 55, 56, 57, 59 e 60 que dispõem sobre concessões de abatimentos, descontos, renúncias e alterações de prazos para renegociações de dívidas.

A Lei do Agronegócio apresenta inovações legislativas em diversas áreas do agronegócio, tratando de temas que abordam desde o financiamento até o crédito rural.  Veja, a seguir, alguns dos principais pontos destacados por Shimada:
  • Existência da figura do Patrimônio Rural em Afetação. Uma novidade que antes era permitida somente para imóveis urbanos e agora será viabilizada para imóveis rurais que é a viabilidade de submissão ao regime de afetação, que será o lastro das garantias para emissão de Cédula de Produto Rural (CPR), ou em operações financeiras por ele contratadas, via emissão de Cédula Imobiliária Rural (CIR). Os bens afetados (ex.: terrenos, acessões e benfeitorias) não poderão ser penhorados por credores diversos, salvo em caso de dívidas trabalhistas, fiscais ou previdenciárias. 
  • Criação da Cédula Imobiliária Rural (CIR). Trata-se de título de crédito nominativo, que pode ser transferido e negociado livremente e representam: i) promessa de pagamento em dinheiro decorrente de operação de crédito e (ii) obrigação de entrega ao credor de bem imóvel rural (ou fração dele) vinculado ao patrimônio rural em afetação, e que seja garantia da operação de crédito anteriormente mencionada. Por estar atrelada ao patrimônio rural em afetação, a CIR será garantida total ou parcialmente por ele. O objetivo claro da CIR é permitir o acesso aos mercados regulamentados de valores mobiliários, ampliando as operações de financiamento e crédito.
  • Ampliação da forma de emissão das Cédula de Produto Rural (CPR). O artigo 2° da Lei nº 8.929/94, ampliou o roll de pessoas que podem emitir a CPR, sendo que agora o produtor rural (seja ele pessoa natural ou jurídica), as cooperativas e associações de produtores rurais também poderão emitir a CPR. 
  • Cédula de Produto Rural (CPR) em moeda estrangeira. O artigo 3° da lei também permitiu a emissão de CPR sob forma cartular ou escritural e de título em moeda estrangeira, o que estimula a entrada de novos investidores no país.
  • Constituição e excussão de garantias reais (novidade para estrangeiros). Permissão para estrangeiros constituírem garantia real (inclusive alienação fiduciária) tendo por objeto imóvel rural. O estrangeiro poderá ainda receber, em liquidação de transações, imóvel rural por meio de realização de garantia real, de dação em pagamento ou de qualquer outra forma.
  • Criação de um Fundo Garantidor Solidário (FGS). Por meio do FGS, operações de crédito realizadas por produtores rurais e financiamentos para implantação e operação de infraestruturas de conectividade rural são garantidas por recursos integralizados pelos participantes. esses recursos, não importando a natureza da dívida ou da obrigação, não responderão por outras dívidas, presentes ou futuras, contraídas pelos seus participantes. O objetivo é facilitar a concessão de garantia aos credores e, em consequência, ampliar os empréstimos aos produtores rurais.
O Governo Federal decidiu implementar a referida lei com o objetivo de fomentar o setor do agronegócio pois, segundo o Poder executivo, há um entendimento que o mesmo pode ser muito estratégico para a economia brasileira, principalmente neste período de pandemia, considerando que o Brasil é um país com tendências de mercado agrário. 

A expectativa é que ocorra um desenvolvimento no cenário rural, bem como haja uma atração de investimentos estrangeiros de natureza privada e o setor seja modernizado. “É um grande passo para o setor que, se souber modernizar e digitalizar os meios de produção, poderá impactar a economia de forma muito positiva, andando na contramão da recessão”, observa a Dra. Sheila Shimada.

Para se adequar à nova lei, tanto para receber investimento de capital estrangeiro como para se enquadrar no perfil de requisitos para aquisição dos benefícios do governo, o setor de agronegócios deverá investir em compliance, normas jurídicas e aspectos contábeis.


Saiba como economizar água e energia elétrica durante a quarentena


Tirar eletrônicos da tomada e colocar em prática o uso da meia-descarga ajudam na redução do consumo 


A maioria da população está passando mais tempo em casa por conta da quarentena e, nesse período, gastos com energia elétrica e consumo de água tendem a aumentar. Pensando nisso, Camilla Irion, gerente do Porto Faz, e-commerce de serviços da Porto Seguro, separou algumas dicas que podem evitar surpresas nas contas de água e luz. 

Para poupar gastos excessivos com a energia, o ideal é evitar que aparelhos eletrônicos fiquem em stand-by, pois mesmo desligados, eles podem representar um gasto de até 12%, segundo a gerente. Também deve ser evitado o uso de ferro elétrico, chuveiro e máquina de lavar tudo ao mesmo tempo e em horários de pico. “O chuveiro elétrico gasta mais energia entre 18 e 21 horas, quando a maioria das pessoas finaliza o home office”, afirma Camilla, que indica ainda não deixar fogão e geladeira muito próximos, pois interferem um no consumo do outro devido a diferença de temperatura.

Quando se trata de gastos com a água, a gerente recomenda fazer as manutenções preventivas das torneiras e chuveiros da residência. “Uma pequena peça gasta pode fazer com que uma torneira ou chuveiro fique pingando por vários dias”, alerta. “Se desconfiar de algum vazamento em suas tubulações e hidrômetro, solicite o conserto o quanto antes”, complementa.

Manter a torneira fechada enquanto não estiver utilizando a água ao escovar os dentes, fazer a barba e lavar a louça, também é essencial. Além disso, colocar em prática o uso da meia-descarga no banheiro pode ajudar na contenção dos gastos. “Uma válvula sanitária comum é capaz de consumir até 15 litros de água por descarga”, comenta. “Se possível, investir em sanitários com sistema ‘dual flush’, um botão para descarga mais longa e outra para mais curta, auxilia muito na redução do consumo”, conclui. 




Porto Faz 

E agora, como fica o dia dos namorados em tempos de pandemia?

Consultora financeira ensina 10 dicas para não deixar passar a data em branco


O Dia dos Namorados sempre foi uma das melhores datas do ano para as vendas. O comércio investia em propagandas, atrações e sorteios, com o objetivo de aumentar os lucros. Mas com o isolamento social, não é só o comércio que irá sofrer, muitos casais estão "afastados" e terão que usar e abusar da criatividade para não deixar a data passar em branco. Veja algumas dicas da economista doméstica e consultora financeira Daniela Godinho
para ganhar alguns pontos com seu amor, fazendo mais, com menos:

1) Presentes personalizados - uma ideia muito criativa e carinhosa é personalizar uma agenda, um caderno, uma almofada ou até mesmo uma camiseta com uma linda foto do casal.

2) Kit SPA - uma ideia muito legal é montar um Kit contendo sabonetes cheirosos, óleo de massagem, uma pantufa e uma toalha... o amado ou amada poderá usá-los e lembrar de você ou quem sabe...poderão usar juntinhos logo, logo... 

3) Kit Zen - se sua cara metade anda um pouco estressada, monte um kit contendo incenso, velas aromáticas e um bom livro.

4) Monte um álbum com fotografias do casal ou escolha uma em especial e coloque em um lindo porta retratos.

5) Uma cesta de café da manhã ou até mesmo uma cesta com queijos e vinho, podem ser montadas por você e ficam ótimas para presentear.

6) Um pendrive com as músicas que marcaram o namoro de vocês pode ser um presente emocionante.

7) Um jantarzinho romântico feito por você e entregue na casa do seu amor, sempre surpreende e agrada muito.

8) Use sua criatividade e faça um lindo cartão.

9) Bichinho de pelúcia para ela e uma miniatura colecionável para ele... agrada sempre!

10) Flores e chocolates também são sempre uma boa pedida!!

Você vai ter que se apressar, pois alguns itens terão que ser comprados via internet e podem demorar alguns dias para chegar. Ah, não se esqueça de reservar o serviço de entrega, pois se deixar para última hora, pode ser que não consiga. Espero que tenha um ótimo Dia dos Namorados e que em breve, possam estar juntinhos novamente!






Daniela Godinho  - Conhecida por ministrar palestras “inspiradoras e transformadoras”. Uma das poucas profissionais do Brasil com Bacharelado em Economia Doméstica. Com 27 anos de experiência profissional, é uma das pioneiras e mais atuantes estudiosas e consultoras em Economia Doméstica, Finanças Pessoais, Comportamentais e Consumo Consciente na atualidade. Autora do livro: Inteligência Financeira – Faça MAIS com menos (editora Scortecci) 5a. edição, já ministrou mais de 4.000 cursos e palestras para milhares de pessoas em cerca de 650 empresas, faculdades, escolas e cooperativas de todo Brasil. 

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