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segunda-feira, 26 de março de 2018

Especialistas sinalizam principais tendências para escolas do futuro


Tecnologia, inclusão e gestão são alguns dos desafios a serem enfrentados no segmento educacional


O avanço da tecnologia possibilita mais acesso à informação e ao conhecimento. Diante dessa perspectiva, os professores de hoje se deparam com grandes desafios. Não é mais função exclusiva da escola educar, afinal, as crianças estão aprendendo por elas mesmas com os novos recursos. Como perceber esses desafios e se manter atualizado às tendências pedagógicas? “É fundamental inserir dentro de sala de aula as ferramentas que esses alunos estão acostumados – e querem usar. Há diversas possibilidades de agregar a tecnologia ao conhecimento. A criatividade do professor fará a diferença”, explica Fábio Vizeu, coordenador da Pós-Graduação de Negócios Escolares da Universidade Positivo (UP).

Essa integração da tecnologia na sala de aula não exclui a metodologia off-line, mas serve como um complemento e até uma maneira de potencializar esses ensinamentos. “Os cidadãos são formados na escola. Os valores, deveres e direitos serão sempre trabalhados, tanto no ambiente virtual como no físico”, enfatiza Vizeu. A diretora pedagógica da Editora Positivo, Acedriana Vicente Sandi, defende que é preciso considerar o aluno de forma empática e se colocar no lugar dele para organizar a escola e um projeto pedagógico que converse com os estudantes atuais e do futuro.

 “Precisamos entender como as crianças e jovens de hoje aprendem. A interação para eles é fundamental. Não temos mais alunos passivos, que simplesmente absorvem o que o professor tenta passar. E quando o aluno não se sente levado em consideração, ele não consegue produzir de forma adequada a partir de todas as suas potencialidades”, explica Acedriana.


Conscientização e inclusão

Com uma sociedade preocupada com temas como diversidade, inclusão, direitos humanos e questões ambientais, é preciso formar alunos que também tenham essa preocupação e estejam preparados para serem parte dessa conscientização. “Esses conceitos não devem ser apenas a política da escola, mas devem estar dentro do projeto pedagógico. A escola não deve seguir os preceitos por causa da legislação, mas entendê-los como diferenciais de formação”, afirma Vizeu.

A doutora em Educação e coordenadora da Pós-Graduação em Educação Especial e Inclusiva da Universidade Positivo, Liliamar Hoça, também destaca as tendências para a educação inclusiva. “As instituições de ensino recebem alunos com deficiências, síndromes, transtornos e que legalmente têm direito ao acesso à educação. Como profissionais da educação, é preciso entender todas as peculiaridades desses alunos. É preciso discutir o autismo, por exemplo, suas características biológicas e neurológicas mais a fundo para preparar esses cidadãos com igual qualidade. Para isso, nessas situações, deve-se privilegiar a socialização, acessibilidade de tempo-espaço, entender o indivíduo como único, e só depois disso pensar no currículo escolar”, explica a professora.


Aproximação da família

“É fundamental trabalhar todas as ideias, tanto com as crianças quanto com os pais”, conscientiza Vizeu. “A escola do futuro tem que gerar espaços de diálogos e reflexões com as famílias. Não pode se limitar a reuniões pedagógicas, é preciso ter canais mais intensivos - e a interação com canais tecnológicos podem auxiliar nesse processo”, complementa.

Com a facilidade em criar aplicativos, essa aproximação com os pais pode ser facilitada e a falta de tempo, tão comentada, não será mais desculpa. “Vejo que a conversa próxima dos pais também colabora para deixar a expectativa deles mais próxima da realidade. Com anos de experiência, percebo que, em algumas situações, os pais deixam grandes responsabilidades para a escola, pensando que é obrigação dela resolver todas as questões relacionadas aos filhos. Mas não é assim, é um trabalho conjunto”, explica Liliamar Hoça.


Administração do negócio escolar

Além das propostas pedagógicas e didáticas, outra questão é muito comentada para a sustentação da instituição de ensino: a gestão escolar. “As escolas têm que ter mais cuidado na eficiência da gestão financeira, da mercadológica, dos recursos humanos. Se o gestor de uma escola tem plena consciência de todas as implicações das relações trabalhistas, por exemplo, pode reduzir os custos operacionais. Assim, pode fazer investimentos financeiros em inovação com maior facilidade”, explica Vizeu.

Em resumo, as tendências nas questões educacionais se destacam no uso de tecnologia dentro da sala de aula, na compreensão da singularidade dos alunos, na participação dos pais na educação e nas questões administrativas da escola para que os recursos possam ser melhor aproveitados. "Assuntos como esses devem estar em constante discussão com os profissionais da educação. Essa abordagem determinará a existência das instituições - e todos os conceitos devem ser explorados dentro das disciplinas e atividades regulares", finaliza o coordenador.


Pesquisa inédita no Brasil mostra quais as dores dos moradores em situação de rua


Para 82,6% a dor é rotina. Dados mostram ainda que 73,8% das queixas são referentes a dor em músculos, tendões, ligamentos, articulações e ossos.



Há mais de 30 anos morando na rua, José Roberto da Silva diz que sente dores todos os dias (Foto: Cristiane Bomfim | Divulgação Einstein)

Pés inchados e com feridas. Mãos calejadas. Dor constante nas costas e braços. Morador das ruas da cidade de São Paulo há mais de 30 anos, José Roberto da Silva Cirilo, de 47 anos, percorre diariamente a região central puxando uma carroça. Dorme, na maioria das vezes, no frio das calçadas e sob marquises que nem sempre o protegem do sereno. Estudo inédito realizado pela enfermeira Ariane Graças de Campos e coordenado pela pesquisadora do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP), Eliseth Ribeiro Leão, mostra que a dor física sentida constantemente por José Roberto é também rotina na vida de 82,6% dos 69 moradores de rua entrevistados para o trabalho realizado na capital paulista, sendo que as musculoesqueléticas representam 73,8% das queixas – elas  ocorrem em músculos, tendões, ligamentos, articulações e ossos.

Levantamento divulgado em 2015 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) a pedido da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social mostrou naquele ano 15.905 pessoas vivendo em situação de rua na capital. No país, o número estimado no mesmo ano era de 101.854. A pesquisa “A dor do morador de rua” mostra que, em média, os moradores de rua convivem por 8 anos com a dor e que a percepção é menor para quem está há mais tempo nessa condição. Desde que foi expulso de casa pela ex-mulher há três meses, o vendedor Antônio Onofre da Silva Júnior, de 36 anos, perambula no entorno da Praça da Sé. Algumas vezes consegue vaga em algum dos albergues da cidade e diz sentir muita dor pelo corpo. “Ainda não me acostumei com essa vida de dormir no chão duro e sem conforto. Acordo arrebentado, mas dizem que depois a gente esquece”, contou. 

Mais alarmantes são as informações de que 69% dos entrevistados sentem dor todos os dias e que, em grande parte dos casos, a duração é de horas (para 39,1%) ou dias (40,6%) seguidos. “A dor faz parte do viver dessas pessoas. Eles convivem por tanto tempo com ela que se acostumam, se acomodam e na maioria das vezes não procuram ajuda”, explica Ariane que, entre 2009 e 2017, trabalhou no atendimento dessa população.  Esse comportamento é o mesmo para graus leves e intensos, sendo esse o grau mais apontado pelos moradores ouvidos no estudo:  61,2%.

A dor interfere em todas as atividades do dia a dia desses indivíduos, especialmente no sono. Para 87,2%, a condição de rua prejudica a qualidade e a duração do sono. Isso é atribuído ao fato de a maioria dormir no chão, estar exposta ao frio e vulnerável a fatores como violência. Na sequência, os itens mais mencionados foram humor (83,8%) e trabalho (79,3%).

Intensidade da dor
Atividade diária
Intensa
Moderada
Leve
Sono
87,20%
7,3%
5,50%
Humor
83,80%
13,0%
3,20%
Habilidade de caminhar
81,80%
11,0%
7,20%
Trabalho
79,30%
17,2%
3,50%
Apreciar a vida
79,20%
11,3%
9,50%
Atividades gerais
70,50%
23,0%
6,50%
Relações pessoais
67,20%
16,4%
16,40%

O carroceiro José Roberto diz que seu corpo dói mais quando está parado, percepção de 27,5% dos entrevistados. Por isso, prefere ocupar a maior parte do dia recolhendo, em lojas e prédios, materiais que podem ser vendidos em ferros-velhos. Acorda às 7h e dorme depois da meia-noite. E quando a dor aperta, não é uma Unidade Básica de Saúde (UBS) que procura. Ele se automedica, “Uma vez um médico me receitou um remédio. Agora vou e compro direto”, conta. Diferentemente dele, grande parte dos moradores – 40% – usa medicamentos prescritos. O consumo de álcool e droga também é opção válida para 13,1% e 10%, respectivamente.

Negligência
De acordo com a pesquisadora do Einstein, Eliseth Leão, o estudo é um retrato da negligência da dor no Brasil. A dor está presente em todos os países – dos desenvolvidos até os mais pobres –, mas não estamos preparados para perguntar e identifica-la nas pessoas. Um exemplo é o fato da cartilha do Ministério da Saúde (cartilha Saúde da População em Situação de Rua, publicada em 2014) não tratar do assunto. No caso dos moradores de rua, a questão se agrava: eles não têm acesso ao tratamento, sem falar nas questões de adesão e comprometimento que para eles é muito mais complicado, segundo Eliseth.


Dor emocional
No início do trabalho, a ideia de Ariane não era investigar a dor emocional, mas o tema era recorrente durante as entrevistas. O resultado demonstrou que 78,3% dos entrevistados convivem com algum tipo de dor emocional. “A maioria por conta da morte da mãe. Esse é um fator que desorganiza o sujeito, que o leva para a bebida ou para a rua”, explica Ariane. “Nunca tinha me dado conta do quanto a falta da presença materna pode desestruturar uma pessoa”, continua.

A pesquisa
O estudo considerou 69 pessoas que moram nas ruas do centro da capital paulista – região do Parque D. Pedro II, Rua 25 de Março, Zona Cerealista e Avenida do Estado. O universo inicial era maior, mas foram excluídos indivíduos com sinais de intoxicação por álcool e drogas, discurso delirante, menores de 18 anos e os que viviam há menos de 12 meses na rua. 


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