Acompanhamento regular e cuidado adequado
específico para saúde cardíaca são essenciais para evitar complicações da
enfermidade
A
distrofia muscular de Duchenne (DMD) é uma doença que afeta meninos. Trata-se
de uma condição genética rara em que o organismo não consegue produzir uma
proteína essencial, responsável pelo funcionamento correto dos músculos, a
distrofina. Sem ela, os músculos vão perdendo força e são substituídos por
fibrose e gordura, o que leva à fraqueza muscular progressiva desde a primeira
infância.1 A cardiologista especialista em
doenças neuromusculares e o coração, Ana Paula Cassetta, explica que os
primeiros sinais da doença incluem dificuldades para andar e quedas frequentes.
Com o avanço da enfermidade e maior sobrevida dos pacientes, devido aos
cuidados multidisciplinares adotados, algumas complicações cardíacas podem ser
desencadeadas. “O coração também é um músculo. Na medida em que a doença
progride, ele sofre danos similares aos demais músculos do corpo. Isso pode
levar a uma diminuição do seu funcionamento, causar dificuldades para o coração
em se contrair de forma eficiente e pode gerar batimentos irregulares, o que é
perigoso e pode ser fatal”, afirma a médica.
Antigamente,
o coração não era visto como um órgão afetado pela DMD, já que os pacientes não
tinham expectativa de vida suficiente para ver a cardiomiopatia se manifestar.
2 “Com os avanços no tratamento e na fisioterapia respiratória, a longevidade
aumentou, e isso permitiu que os problemas cardíacos fossem observados”,
explica a especialista, que pontua que os principais sinais de alerta são:
complicações cardíacas, falta de ar, inchaço nos membros inferiores, alterações
no sono, irritabilidade e perda de apetite.2 A cardiologista reforça
ainda, que como muitas dessas manifestações podem ser sutis, é fundamental que
familiares e cuidadores fiquem atentos às mudanças no comportamento e na
disposição do paciente. "É necessário estar alerta com os sinais e ter um
monitoramento regular, com exames como eletrocardiograma, holter e
ecocardiograma com strain. Esse olhar atento é essencial para detectar
precocemente alterações e definir a melhor opção de cuidado”, ressalta Ana
Paula.
A
médica explica que o tratamento das complicações cardíacas na DMD envolve o uso
de medicamentos que ajudam a preservar a função do coração, a partir da redução
da fibrose e controle das arritmias. "Na medida que a DMD compromete mais
o coração, os medicamentos necessários para tratar e prevenir problemas
cardíacos também se tornam mais complexos. Em casos mais graves onde há risco
de morte súbita, pode ser indicado o CDI (cardioversor-desfibrilador
implantável), que controla arritmias importantes, e até mesmo transplante
cardíaco", destaca. A abordagem nutricional também é crucial, uma vez que
a dieta influencia diretamente na sobrevida desses pacientes. "A dieta tem
relação diretamente proporcional à sobrevida. É preciso dar atenção à
mastigação, para que as alterações mastigatórias não comprometam a oferta
adequada de alimentos", reforça.
A
especialista recomenda a prática de atividades físicas, uma vez que promove
socialização e bem-estar. "A atividade física em grupo é muito bem-vinda.
Ela aumenta a socialização destes jovens pacientes. Mas é necessário realizar
exames antes, como para qualquer pessoa que deseje se exercitar, e adaptar os
exercícios de acordo com cada caso”, orienta.
Por
fim, Ana Paula Casseta reforça que apesar de existirem condutas médicas de
prevenção e de cuidado bem estabelecidas, ainda há desafios. Um exemplo é a
dificuldade de acesso a exames avançados, essenciais para o diagnóstico mais
preciso. “Os nossos maiores desafios são o diagnóstico da cardiomiopatia apenas
através do ecocardiograma, pois a ressonância cardíaca é de difícil acesso pelo
custo”, explica. Além disso, segundo a médica, para os casos graves, o acesso a
tratamentos de maior complexidade, como o implante do CDI e medicamentos de alto
custo para arritmias, ainda é limitado. “Diante desse cenário, é fundamental
ampliar a conscientização sobre a DMD e reforçar a necessidade de um
acompanhamento multidisciplinar para garantir maior qualidade de vida aos
pacientes”, finaliza.
Sobre a distrofia muscular de Duchenne1,2,3,4,5
Afetando
os meninos, a distrofia muscular de Duchenne (DMD) é uma doença genética rara e
fatal que resulta em fraqueza muscular progressiva desde a primeira infância e
leva à morte prematura na casa dos vinte a trinta anos
devido à insuficiência cardíaca e respiratória, quando não tratada. É um
distúrbio muscular progressivo causado pela falta da proteína funcional
distrofina. Ela é fundamental para a estabilidade estrutural de todos os
músculos, incluindo os esqueléticos, diafragma e coração. Em fases avançadas da
doença, as pessoas com DMD passam a necessitar de ajuda para realizar as
atividades de vida diária. Em todos os casos a força muscular piora ao longo do
tempo, mas a velocidade desta piora varia caso a caso. Em média, cerca de 90%
dos meninos estarão na cadeira de rodas por volta dos 15 anos. Para obter
informações adicionais sobre a doença e conhecer histórias de meninos com
Duchenne, visite o hub Movimento Duchenne.
Referências
1 Flanigan KM. Duchenne and Becker muscular dystrophies.
Neurol Clin. 2014 Aug;32(3):671-88, viii. doi: 10.1016/j.ncl.2014.05.002. PMID:
25037084.
2HUNTER, Casa. Desvendando o coração de Duchenne. 2023.
Disponível em: https://www.casahunter.org.br/wp-content/uploads/2023/09/Livro-Desvendando-o-coracao-de-Duchenne.pdf.
Acesso em: 6 mar. 2025.
3 Freitas, M. M., Santos, A. R. C., Oliveira, J. V. R.
de, Maia, D. da C., & França, R. dos R. (2013). Perfil epidemiológico e funcional
de pacientes com distrofia muscular de Duchenne atendidos em clínicas de
fisioterapia na cidade de Aracaju. Interfaces Científicas - Saúde E Ambiente,
1(2), 21–32. https://doi.org/10.17564/2316-3798.2013v1n2p21-32.
4 Araujo APQC, Carvalho AAS, Cavalcanti EBU, Saute JAM,
Carvalho E, França MC Junior, Martinez ARM, Navarro MMM, Nucci A, Resende MBD,
Gonçalves MVM, Gurgel-Giannetti J, Scola RH, Sobreira CFDR, Reed UC, Zanoteli
E. Brazilian consensus on Duchenne muscular dystrophy. Part 1: diagnosis,
steroid therapy and perspectives. Arq Neuropsiquiatr 2017;75(8):104-113.
5 Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Prevalence of Duchenne/Becker muscular dystrophy among males aged 5-24 years -
four states, 2007. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2009 Oct 16;58(40):1119-22. PMID:
19834452.
Nenhum comentário:
Postar um comentário