A
educação sexual infantil é essencial para prevenir o abuso e garantir a
segurança das crianças. A informação empodera e pode ser a chave para romper o
ciclo do silêncio
A violência sexual na
infância é um problema grave e silencioso que afeta milhares de crianças todos
os anos. Segundo dados do Anuário de Segurança Pública, em 2023 foram
registrados 84.000 casos de estupro e estupro de vulnerável no Brasil. No
entanto, especialistas indicam que esse número representa apenas 9% da
realidade, devido à subnotificação.
Para Mariana Ruske,
pedagoga e idealizadora da Senses Montessori School, a prevenção ao abuso
sexual infantil deve ser uma prioridade na educação e na formação das crianças.
“A educação sexual na infância não tem relação com erotização. Pelo contrário,
é um caminho fundamental para fortalecer as crianças e prevenir situações de
risco, ensinando-as a identificar situações abusivas e a confiar em adultos de
segurança”, explica Mariana.
Infelizmente, qualquer
criança pode ser vítima de abuso, independentemente da classe social ou local
onde vive. A maioria dos casos notificados envolve meninas, mas os meninos
também são vulneráveis e podem enfrentar uma subnotificação ainda maior devido
a questões culturais.
Os abusadores, em sua
grande maioria, são pessoas próximas da vítima. Dados indicam que 70% dos casos
acontecem dentro da própria casa da criança e, em 80% das situações, o agressor
é um familiar ou uma pessoa de confiança da família. O abusador, muitas vezes,
se apresenta como uma pessoa gentil, confiável e próxima, conquistando a
confiança não apenas da criança, mas também da família. Esse processo é
conhecido como "grooming", ou aliciamento, e é uma das estratégias
mais usadas para manter o abuso sem ser descoberto.
Como muitas crianças têm
dificuldade em compreender e comunicar o abuso, os adultos devem estar atentos
a sinais de alerta, como:
- Mudanças bruscas no humor, no apetite ou no sono;
- Medo ou aversão a determinadas pessoas ou situações;
- Choro frequente sem motivo aparente;
- Regressão no comportamento, como voltar a urinar na cama;
- Atrasos no desenvolvimento motor ou linguístico.
Nenhum desses sinais,
isoladamente, confirma o abuso, mas devem ser investigados com seriedade,
especialmente quando surgem sem explicação aparente.
A educação sexual na
infância tem como objetivo fortalecer a autoconfiança da criança e ensiná-la a
identificar situações inadequadas. Algumas estratégias eficazes incluem:
- Nunca guardar segredos desconfortáveis:
Crianças devem ser incentivadas a contar tudo aos pais ou adultos de
confiança.
- Círculo de confiança: Identificar e nomear
adultos em quem podem confiar.
- Conhecimento do corpo: Ensinar os nomes corretos
das partes íntimas e reforçar que ninguém pode tocá-las sem permissão.
- Reconhecimento de situações suspeitas:
Explicar que pessoas conhecidas também podem agir de forma inadequada.
- Encorajamento da fala: Garantir que a criança
saiba que será ouvida e protegida.
Uma frase poderosa que
pode ser ensinada para a criança usar em situações de risco é: “Pare agora.
Eu sei o que você está fazendo. Vou contar para meus pais e eles vão acreditar
em mim”. Isso pode intimidar o abusador e interromper o abuso antes que ele
ocorra.
A lei obriga que
qualquer suspeita de violência sexual contra crianças seja notificada às
autoridades. Denúncias podem ser feitas anonimamente e não é necessário ter
provas para relatar uma suspeita.
O papel das escolas
As escolas têm um papel
fundamental na prevenção do abuso infantil. Professores e profissionais devem
estar capacitados para identificar sinais e orientar crianças sobre segurança
corporal. Mariana Ruske reforça que “a escola precisa ser um espaço de acolhimento
e proteção. Crianças passam grande parte do tempo no ambiente escolar, e muitas
vezes é lá que demonstram os primeiros sinais de abuso”.
A luta contra a violência sexual infantil exige a colaboração de toda a sociedade. Conscientização, educação e vigilância são essenciais para garantir um ambiente seguro e protetor para as crianças.
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