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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Pacientes voltam aos consultórios em busca de dentes mais naturais

Freepik
 Especialista aponta aumento nos casos de pacientes que desejam refazer as lentes de contato para chegar perto da aparência original


Assim como tem acontecido com procedimentos faciais, como a harmonização, muitas pessoas têm procurado reverter procedimentos estéticos bucais.

Com a chegada das lentes de contato para os dentes, que possibilitam a uniformização da arcada, bem como a recuperação da cor do esmalte, muitas pessoas lotaram consultórios: problemas de dentes irregulares, manchados, desgastados, espaçados, entre outros casos, já podiam ser resolvidos.

No entanto, Marcelo Kyrillos, cirurgião-dentista da clínica Ateliê Oral, alerta para o que ele chama de ‘desvio de rota’. “Há um mal uso da tecnologia em um número significativo de clínicas. Com a demanda, o processo ficou robótico em muitos locais. Trata-se de um processo feito por escala, devido a alta demanda, e que resulta nesses dentes que estamos vendo agora: brancos, enormes e fakes. É como se viessem lotes de dentes para uma linha de produção de bonecos. No entanto, a onda contrária começou a aparecer, com muitas pessoas arrependidas”, conta Kyrillos que recebeu cerca de 60 pacientes em 2024, vindos de outras experiências, em busca de procedimentos para voltar o mais perto do tamanho e da cor original dos dentes.

“Essa robotização da beleza vem banalizando um mercado sério”, frisa Kyrillos, que, junto ao sócio Marcelo Moreira, iniciou os procedimentos com lentes de contato na década de 90, logo após a chegada da novidade ao Brasil. Ele conta que, para devolver o aspecto natural dos dentes, é preciso um trabalho artesanal com um protético experiente para usar a tecnologia. “Muitas vezes, é preciso fazer enxertos para devolver a gengiva a pacientes, visto que muitos chegam com as gengivas cortadas desnecessariamente para dar lugar a lentes excessivamente longas. Com isso, é possível chegar ao tamanho original dos dentes”, explica.

Kyrillos chama atenção para outro ponto: a cor. “O dente natural é policromático, ou seja, possui várias cores, não é um branco chapado. Possui ainda brilho e texturas distintos, além de proporções diferentes – o que chamamos de arranjos – entre um dente e outro. Muitos profissionais utilizam uma porcelana fresada e fazem o trabalho redutivo de lapidar e “recortar” para um formato dental, o que dá um aspecto mais grosseiro, sem formas e exageradamente branco, pois o bloco de porcelana é monocromático”, informa.

E destaca: “o uso de lentes de contato é seguro e benéfico para uma diversidade de casos. As lentes possibilitam a uniformização da arcada, bem como a recuperação do esmalte, do tamanho dos dentes (no caso de desgastes ou erosão), o preenchimento de espaçamentos dentários (conhecido como diastema), colaborando inclusive na melhora da mastigação, entre outros fatores positivos. No entanto, é preciso fazer com que os profissionais não usem as lentes de forma indiscriminada, passando por cima da saúde e da função dos dentes e, principalmente, tendo um senso crítico na estética”.


“Ele bateu o pé dizendo que era por estética”

O executivo Emílio Marques, 60 anos, e a assessora de investimentos Gabriela Maximo, 30 anos, passaram pelo mesmo processo. Após viverem situações traumáticas, ambos optaram por desfazer o procedimento e voltar à aparência mais próxima da original.

“Fui em uma profissional reconhecida, mas o padrão de beleza dela não é o mesmo padrão que o meu. Quando finalizou o tratamento, não via o meu sorriso, meu sentimento foi de tristeza. Senti uma perda da individualidade. Tive que ficar mais de um ano assim, pois passei um período morando no exterior. Logo após retornar ao Brasil, procurei outro profissional em busca da cor e do tamanho natural”, conta o executivo.

Gabriela colocou lentes de contato há 10 anos. Naquela época, conta que relevou o resultado, mesmo achando que os dentes estavam muito grandes e desproporcionais. Em 2024, decidiu procurar outro profissional para refazer e deixar mais natural. No entanto, teve diversos problemas de saúde, além do estético.

“As lentes pareciam vir daqueles lotes de mercadoria que chegam da fábrica para todo mundo. Um branco chapado, claramente dava para ver que era falso. Fora isso, a lente foi colocada sobreposta à minha gengiva para dar aquela sensação de amplitude e deixar o dente mais longo. A recomendação era passar o fio dental entre a gengiva e a cerâmica. Achei estranho, pois não tinha como limpar. Mas o dentista bateu o pé dizendo que era pela estética. Como era impossível limpar plenamente, naquele local foi juntando bactérias, o que evoluiu para dores e sangramentos, explica Gabriela que contraiu uma infecção que lhe custou meses de tratamento. “Para disfarçar, eu colocava a mão na boca para sorrir. Fiquei abalada psicologicamente”. Foram três meses de sessões com outro dentista para sanar os problemas de saúde e recuperar o tamanho e a cor natural dos dentes”, destaca.

Kyrillos, que atendeu os dois casos, explica especificamente o que aconteceu com Gabriela. No caso dela, o especialista pontua que o primeiro passo foi resolver a questão da saúde: tratar a gengiva inflamada pela sobreposição das lentes, e fazer canais, devido ao excessivo desgaste do esmalte, feito anteriormente. O segundo passo foi a função bucal, quando foram restabelecidas as engrenagens para uma oclusão e mastigação corretas. Só depois, eles deram início à estética.  

“Para isso, foi utilizado um software, no qual acessamos um banco de dados com milhares de dentes naturais que ajudou a recuperar o formato dos dentes da Gabriela para que pudessem ficar harmonizados com os traços faciais específicos dela, incluindo a dinâmica muscular de seus lábios durante o sorriso. Já com relação à cor, foi recuperada por meio de uma aplicação artesanal com o uso de uma cerâmica específica. Um trabalho minucioso feito com pincel, para não atrapalhar a estrutura do dente  que, como disse, é policromático, com brilho, textura e proporções distintas. Há beleza na individualidade e na naturalidade. Essa deve ser a premissa do mercado para os pacientes”, acrescenta o especialista que é co-autor de livros como Sorriso Modelo – o Rosto em Harmonia”; “A Arquitetura do Sorriso” e “Precision – Os segredos da Odontologia Estética Minimamente Invasiva”.

 

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