Pesquisar no Blog

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O que as empresas têm feito para incentivar o protagonismo paterno

Especialista da Filhos no Currículo fala sobre a normalização do pai presente e os impactos na carreira das mulheres


“- Cadê a mãe dele?”. “Ela mora em outro país”. “Sim, ele mora comigo”. “Não, não sou um coitado”. Essas são algumas das questões com as quais Luis Silva (47) lida frequentemente. Pai de Miguel (8), Luis é divorciado há cinco anos e, nos últimos dois, tomou as rédeas da criação do filho para sua ex-esposa estudar fora do país. A experiência internacional durou um ano e oito meses e, após o retorno dela ao Brasil, os cuidados continuaram com o pai. “Nossa relação é ótima, idem a relação dele com a mãe. Mas, preferimos, por enquanto, seguir nossa rotina”, avalia. 

Trabalhando como coordenador de tesouraria de uma multinacional em São Paulo, Luís atua remotamente dividindo seu tempo entre a coordenação da equipe, as demandas da casa e os cuidados com o filho, que incluem levar e buscar na escola e na natação. Perguntado sobre o impacto da paternidade em sua carreira, responde: “já encontrei barreiras para crescer por não conseguir tempo para vender melhor o meu peixe ou flexibilidade para viajar a trabalho. Mas isso também depende muito do líder. Hoje, tenho esse líder. Quando preciso me ausentar, aviso e alinho de me conectar mais tarde para dar continuidade às entregas. A escolha em assumir integralmente meu filho foi consciente e busco estar em ambientes e com pessoas que respeitem a minha dinâmica de vida”, destaca.

 

A masculinidade saudável e o impacto na carreira das mulheres 

“Com a sua realidade, o que Luis mostra para o filho? E para os amigos do filho? A resposta é: que uma mãe pode investir em sua carreira e ficar ausente para uma viagem a trabalho, se preciso for. E que um homem pode, sim, cuidar. Homens não devem normalizar comentários que anulem seu papel paterno no cuidado. Devem também questionar mensagens que limitem o cuidado das crianças exclusivamente às mães, como “Cadê a mãe dessa criança”, “Pai faz tudo errado”, “Pai é menos responsável” ou “Vai ficar de babá hoje?”, defende Vinícius Bretz, CEO interino da Filhos no Currículo, consultoria de parentalidade. 

Para ele, a paternidade hoje emerge com um vetor transformador: um laboratório para uma masculinidade mais saudável. Um exemplo é a crescente de homens interessados na licença paternidade estendida. Do outro lado, organizações com estratégias para a isonomia nas políticas parentais. “Depois da pandemia, os homens passaram a valorizar mais o tempo com os filhos, dado que muitas rotinas de cuidado antes eram terceirizadas ou assumidas predominantemente por mulheres”, explica. 

Pesquisa Radar da Parentalidade 2024*, desenvolvida com colaboradores de organizações (figuras parentais ou a espera de filhos), revela que 82% dos pais desejam uma licença-paternidade estendida: 34% (superior a 21 dias), 26% (superior a 120 dias) e 22% (de 6 a 22 dias). Somente 11% concordam com os 5 dias previstos na Constituição. O estudo retrata ainda que 69% dos entrevistados afirmam ser a licença estendida um fator relevante na hora de avaliar pela permanência ou pela troca de emprego. Para 91%, o benefício estendido os ajuda a assumir um papel mais protagonista na criação dos filhos, além de colaborar para um equilíbrio entre os gêneros para as atividades familiares. 

“É notório o avanço na percepção dos colaboradores em relação aos seus direitos, o que é uma provocação construtiva para que as organizações promovam uma paternidade protagonista em suas atitudes e processos, com risco significativo de perder seus talentos homens para organizações mais maduras nessa temática”, completa Bretz.

 

Ações concretas 

De acordo com o especialista, empresas que promovem iniciativas de incentivo à paternidade protagonista têm experimentado resultados notáveis. incluindo o aumento da representatividade feminina, especialmente em posições de liderança.

Mas, o que mudou nos últimos anos em termos de trabalho, carreira e políticas parentais para garantir esse protagonismo paterno e o que ainda pode ser feito?

Entre as ações concretas já aplicadas no mercado estão a liberação de horários flexíveis e a opção de trabalho remoto para esses pais; a inclusão de benefícios de apoio, como berçário nas instalações da empresa na qual trabalham, programas de engajamento das lideranças para a desconstrução de estereótipos de gênero. Além disso, programas abrangentes de desenvolvimento de liderança, RH e aliados sobre participação parental ativa e inclusiva para todos os gêneros. 

Tais iniciativas são um convite para que esses pais se tornem participantes ativos na vida de seus filhos desde os primeiros momentos”, destaca o especialista da Filhos no Currículo, que vem ajudando organizações a integrar benefícios, processos e políticas e definindo objetivos claros para onde desejam chegar a partir de diferentes estágios de maturidade em relação à parentalidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados