Mauro Jácome, médico cirurgião geral e especialista em endoscopia, esclarece relação entre o coração e o acúmulo exagerado de gordura
Além do que
diz a canção Frisson, interpretada por artistas como Tunai, Elba Ramalho e
Ivete Sangalo, existem muitos outros motivos para um coração bater cansado a
não ser um amor não correspondido. Um desses é a obesidade, condição que pode
complicar a pulsação cardíaca e levar a quadros de saúde letais.
Tanto a
obesidade quanto o sobrepeso podem provocar uma sobrecarga ao coração e também
a todo o sistema cardiovascular. Isso porque, quanto maior o excesso de peso,
maior o esforço que o coração precisa fazer para bombear o sangue
adequadamente. Esse esforço adicional provoca mudanças na estrutura e
funcionamento do órgão, o que pode ter consequências graves a longo prazo.
“O coração
de uma pessoa com sobrepeso precisa aumentar de tamanho para compensar o
trabalho extra, levando à hipertrofia ventricular, que é o aumento do músculo
cardíaco. Essa condição, com o tempo, pode dificultar o bombeamento eficaz do
sangue para o restante do corpo. Além disso, a obesidade facilita o acúmulo de
gordura nas artérias, formando placas de gordura, as chamadas aterosclerose,
que restringem o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos”, esclarece o
médico Mauro Jácome, cirurgião geral e especialista em endoscopia.
Mauro ainda
esclarece que essa limitação na circulação aumenta a pressão arterial, tornando
o coração ainda mais sobrecarregado. “O risco de infarto aumenta
significativamente quando as artérias ficam totalmente obstruídas, impedindo a
passagem de sangue para o coração. Conforme uma pesquisa publicada pelo The
Lancet, a obesidade e o sobrepeso já são a segunda maior causa de morte
evitável no mundo, atrás apenas do tabagismo. O estudo reforça que esses
problemas poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida, alimentação e
acompanhamento médico”.
No Brasil, a
obesidade também tem se tornado uma questão de saúde pública alarmante. Dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que cerca de
25% da população brasileira está obesa, com números ainda mais preocupantes em
algumas regiões. Minas Gerais, por exemplo, apresenta um dos maiores índices de
obesidade no país, com mais de 20% dos habitantes adultos com excesso de peso,
de acordo com levantamento da Vigitel 2023.
Essa
condição não impacta apenas o peso, mas também a saúde do coração. A Sociedade
Brasileira de Cardiologia aponta que cerca de 30% das mortes causadas por
doenças cardiovasculares no Brasil estão relacionadas à obesidade. Já uma
pesquisa realizada pela American Heart Association indica que o risco de
infarto é mais alto em pessoas obesas, principalmente aquelas que possuem
outros fatores de risco associados, como hipertensão e diabetes. Logo, a
obesidade atrai o infarto.
“A
combinação de obesidade e níveis elevados de açúcar no sangue contribui ainda
mais para a deterioração do sistema cardiovascular. O excesso de glicose
endurece as artérias, processo chamado de arteriosclerose, o que também resulta
em elevação da pressão arterial. Esses fatores criam um cenário em que o
coração precisa bombear sangue contra uma resistência maior, o que pode reduzir
a função do músculo cardíaco ao ponto de gerar insuficiência cardíaca”,
continua Mauro Jácome.
A
insuficiência cardíaca ocorre quando o músculo do coração, por estar mais
espesso e menos flexível, não consegue realizar o bombeamento eficaz de sangue.
Isso pode levar a sintomas como fadiga, falta de ar e inchaço, além de aumentar
significativamente as chances de infarto e derrame. No caso do infarto, ele
ocorre quando uma ou mais artérias do coração ficam completamente bloqueadas,
interrompendo o fluxo sanguíneo. Se não tratado rapidamente, o dano pode ser
fatal.
Porém, a
batalha contra esse casamento indesejável não é tão difícil quanto parece. “A
cada dia, a medicina tem lançado novos tratamentos, medicamentos e
procedimentos para o combate à obesidade e desta maneira melhora da condição
cardíaca. Estudos comprovados certificam o risco cardiovascular cai para a
metade caso um paciente consiga uma perda de 10% de peso. Então se a pessoa
pesa 100 quilos e consegue se livrar de 10 quilos de uma forma saudável, por
exemplo, ela imediatamente reduz em 50% o risco de doenças cardíacas”,
acrescenta o cirurgião.
Contudo, o
alerta, portanto, não poderia ser mais claro: a obesidade é um fator de risco
grave para doenças cardiovasculares. A prevenção e o tratamento adequado são
essenciais para reduzir esses números alarmantes e proporcionar mais qualidade
de vida.
“O ideal é
começar procurando orientação médica e multidisciplinar, se submeter a uma
dieta que tenha relação saudável com o organismo de cada paciente, praticar
atividade física e seguir a recomendação de profissionais aptos para tratar a
saúde geral. Caso não apresente resultados resultado, o médico pode orientar
tratamento medicamentoso e, em alguns casos, procedimentos como cirurgia
bariátrica, balão intragástico, a gastroplastia endoscópica ou endosutura,
entre outras técnicas apropriadas para o controle e perda de peso”, finaliza
Mauro Jácome.
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