Lígia Gomide, biomédica do Centro
Universitário Facens, explica a diferença entre eles e ressalta a importância
de usar produtos regulamentados
O uso de plantas medicinais é uma prática milenar presente em diversas culturas como parte da medicina tradicional. Atualmente, elas são amplamente utilizadas como alternativas ou complementos aos tratamentos convencionais, ganhando reconhecimento na ciência moderna por meio da fitoterapia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% da população mundial utilizam medicamentos à base de plantas medicinais,tanto in natura quanto através dos fitoterápicos.
Segundo Lígia Maria Micai Gomide, graduada em biomedicina e
docente do Centro Universitário Facens, “as plantas medicinais possuem inúmeras
substâncias e, se preparadas e administradas de forma correta, trazem benefícios
ao organismo. Mas como cada indivíduo faz o preparo da planta de forma
diferente, com quantidades variadas, não é possível ter o controle da dose
usada”. Já os fitoterápicos, segundo ela, “são medicamentos feitos com plantas
medicinais, regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
os quais são preparados de forma padronizada e distribuídos em diferentes
formas farmacêuticas, como comprimidos, extratos ou xaropes”.
A biomédica reforça ainda que o uso de plantas medicinais ou fitoterápicos
faz parte das Práticas Integrativas e Complementares (PICs), implementadas no
Sistema Único de Saúde (SUS), e deve complementar tratamentos com bases mais
sólidas, visando garantir a segurança para comercialização e uso de pacientes.
Isso porque, existem muitos estudos que comprovam a eficácia de alguns
fitoterápicos, “mas ainda há falta de padronização nas metodologias
experimentais e a necessidade de purificar as moléculas presentes nas plantas
para identificar qual substância é responsável por determinado efeito”,
explica.
Mito ou verdade?
Com raízes em preceitos culturais e associada a características
naturais, a fitoterapia formou no imaginário coletivo mitos e verdades a
respeito da utilização de plantas para tratamentos médicos. A biomédica explica
alguns desses pontos:
- O que é natural não faz mal: é mito. O uso indiscriminado de produtos naturais pode ser
prejudicial à saúde. “Muitas delas podem, por exemplo, interagir com
medicamentos, aumentando ou reduzindo seus efeitos, e várias possuem
propriedades abortivas, não devendo ser usadas por mulheres grávidas”, diz
Lígia.
- Medicamentos convencionais são totalmente sintéticos: mito. Lígia Maria explicou que muitos medicamentos
convencionais são produzidos a partir do princípio ativo de plantas, como
a aspirina (ácido acetilsalicílico). Ainda, a biomédica ressaltou que
existem diferenças entre um medicamento convencional e um medicamento
fitoterápico: “Mesmo que o medicamento convencional seja produzido a
partir de um princípio ativo derivado de uma planta, ele não é um
medicamento fitoterápico, visto que houve um processo de separação de
moléculas para a produção do fármaco, o que não ocorre para a produção de
um medicamento fitoterápico”, explica.
- Plantas medicinais possuem o mesmo valor científico que os
medicamentos convencionais: é mito. A
biomédica deixa claro que o conhecimento tradicional sobre plantas
medicinais não têm o mesmo valor que as evidências científicas modernas.
“Para que uma evidência científica seja construída, inúmeros estudos são
realizados de forma padronizada, com metodologias fundamentadas e
detalhadamente descritas, além de ensaios em animais e humanos, até que se
comprove a segurança do produto que está sendo estudado”, explica.
- Alho e gengibre auxiliam no tratamento de doenças: a professora destaca a importância de insumos naturais que
tiveram sua eficácia comprovada pela ciência e menciona exemplos de
plantas como o alho (Allium sativum), que possui propriedades
antimicrobianas bem documentadas contra vários tipos de microrganismos, e
o gengibre (Zingiber officinale), amplamente utilizado por suas
propriedades antieméticas em pacientes com náuseas induzidas pela
quimioterapia. “Inclusive, há um estudo brasileiro de revisão de
literatura que descreve o uso do gengibre como terapia complementar em pacientes
em tratamento contra o câncer”, afirma.
Centro
Universitário Facens
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