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terça-feira, 15 de outubro de 2024

A vida após AVC: reabilitação precoce e tratamento personalizado são essenciais para a recuperação

Aproximadamente 1 em cada 3 pacientes pós-AVC enfrentam espasticidade, afetando mobilidade e independência


Aos 30 anos, Maíra Veiga vivia um dos momentos mais ativos de sua vida. Entre trabalho, academia e uma alimentação equilibrada, a advogada paulista não imaginava que, em agosto de 2016, enfrentaria um evento que mudaria sua rotina: um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, enquanto dormia. Mesmo com um estilo de vida saudável e sem fatores de risco aparentes, Maíra acordou com dormência no rosto e uma sensação de pressão na lombar e na bexiga. Seu pai notou a assimetria facial e, rapidamente, ela foi levada ao hospital, onde os exames confirmaram um AVC moderado a severo, que comprometeu o lado direito do cérebro e gerou consequências no lado esquerdo do corpo.
 

O AVC, conhecido popularmente como derrame, trombose ou isquemia cerebral, ocorre quando os vasos que levam sangue ao cérebro se obstruem ou rompem, causando a morte da área cerebral afetada pela falta de circulação sanguínea. No Brasil, é a segunda principal causa de morte e a primeira de incapacidade.1,2 Segundo o fisiatra Eduardo Rocha, as complicações pós-AVC são diversas. “Pode haver dificuldade para engolir, assimetria facial, alteração da fala, perda de força e equilíbrio, resultando em dificuldades para caminhar, além de déficits cognitivos, como perda de memória e concentração”, conta. 

Entre as complicações mais comuns está a espasticidade, que afeta cerca de 1 a cada 3 pacientes após um AVC. "A espasticidade é um aumento involuntário da contração muscular que atinge braços e pernas, dificultando os movimentos e a postura", explica Rocha. Ela pode surgir até três meses após a alta hospitalar e se manifesta com sintomas como rigidez muscular, espasmos, deformidades, crescimento muscular reduzido, cruzamento involuntário das pernas (posição em tesoura), além de dor e quedas frequentes. No caso de Maíra, essa rigidez afetou principalmente seu braço e mão esquerda, limitando sua capacidade de realizar tarefas cotidianas. 

Os níveis de espasticidade podem variar, mas geralmente têm um grande impacto na qualidade de vida do paciente, muitas vezes comprometendo sua independência e autonomia. “Esses sintomas são muito limitantes e exigem um tratamento multidisciplinar. Além da fisioterapia e terapia ocupacional, é fundamental o uso de medicações, como a toxina botulínica, aplicadas diretamente nos músculos afetados”, explica o fisiatra. No caso de Maíra, a combinação de diferentes tratamentos em cada fase da sua recuperação, aliado à atenção dos especialistas às particularidades do seu quadro, foi fundamental para sua melhora. O tratamento intensivo com máquinas robóticas na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em especial, foi crucial para recuperar a mobilidade dos membros superiores e inferiores. 

A reabilitação adequada após um AVC é essencial para que o paciente recupere suas atividades com autonomia, minimizando os impactos físicos, mentais e sociais. Além disso, a prevenção de um novo AVC é crucial. Segundo o especialista anualmente, entre 5 a 14% dos pacientes que tiveram um AVC sofrerão um segundo episódio dentro de um ano. “Essa é uma probabilidade que aumenta com o tempo: cinco anos após o primeiro AVC, as chances de um novo ataque são de 24% para as mulheres e 42% para os homens." Para evitar esses riscos, ele recomenda uma série de medidas, como não fumar, evitar o consumo excessivo de álcool, manter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos regularmente e controlar a pressão arterial e a glicemia. 

Maíra, hoje com 38 anos, casada e professora universitária, ainda faz tratamentos regulares para controlar a espasticidade e evitar novos surtos de rigidez muscular. Ela conta que os primeiros seis meses após o AVC foram cruciais para sua recuperação, com sessões intensivas de fisioterapia e o apoio de uma equipe multidisciplinar. “A paciência e a perseverança são fundamentais”, diz ela. Embora ainda lide com sequelas e complicações ocasionais, ela não permite que esses desafios limitem suas capacidades. “O AVC não me define. É uma batalha diária, mas estou aqui, vivendo e superando, um passo de cada vez”. 

 

Referências

¹ Global health estimates 2016: Deaths by cause, age, sex, by country and by region, 2000-2016. Geneva, World Health Organisation; 2018.


² Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Acidente Vascular Cerebral, Ministério da Saúde, 2013.


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