Influência das redes sociais e falta de educação financeira desviam jovens de investimentos de longo prazo e afetam consumo. Planejador financeiro comenta sobre impactos
Levantamento solicitado pela instituição Educa Insights
descobriu que 35% dos interessados em fazer uma graduação em 2024 não começaram
o curso por gastarem dinheiro com bets e plataformas de cassino virtual, como o
jogo do tigrinho.
Esse impacto também afeta a economia do país em diversas
frentes. Outra pesquisa realizada em maio pela Sociedade Brasileira de Varejo e
Consumo, apontou que 63% dos entrevistados afirmam ter tido parte de sua renda
principal comprometida pelas apostas, sendo que 23% deixaram de comprar roupas,
19% deixaram de realizar compras de supermercados e 11% deixaram de pagar
contas.
Com o avanço da internet e a influência crescente das redes
sociais, o mercado de apostas ("bets") tem se expandido rapidamente
no Brasil. A facilidade de acesso a esse tipo de entretenimento tem levado
muitas pessoas, especialmente jovens, a optar por esse caminho em vez de
investir em educação financeira de longo prazo. Rodrigo Cohen, planejador
financeiro e co-fundador da Escola de Investimentos, alerta para os impactos
negativos desse comportamento na economia e nas finanças pessoais dos
brasileiros.
O especialista destaca o papel dos influenciadores digitais
no crescimento das apostas. "Com o aumento do uso da internet e do número de
influenciadores no mundo digital, vimos uma explosão de apostas promovidas por
esses perfis. Isso atraiu empresas para investir no setor, criando um ciclo que
atrai cada vez mais pessoas ao mercado de apostas online e gerando grandes
lucros para essas empresas", explica Cohen.
A falta de educação financeira também é apontada como um
fator que agrava o problema. "Se a população fosse mais educada financeiramente,
saberia que o melhor é, em vez de usar esse dinheiro em apostas, em
investimentos. É possível começar a investir mesmo com pouco
dinheiro", afirma Cohen. "A chave é disciplina. Reservar
uma parte do salário, fazer aportes mensais e investir em opções seguras, como
a renda fixa, pode garantir uma vida financeira estável no longo prazo. No
entanto, muitos preferem o caminho mais fácil das apostas, que geralmente leva
ao endividamento", explica o especialista.
Além disso, Cohen comenta sobre a tendência do ser humano em
buscar recompensas rápidas, algo que impulsiona o mercado de apostas. "A dopamina,
o hormônio do prazer, está diretamente ligada a essa busca por gratificação
imediata. Isso faz com que muitos jovens desistam de investir em educação, como
uma graduação, e prefiram realizar apostas para se sentirem satisfeitos mais
rápido”, diz.
Cohen ainda ressalta a importância de ensinar educação
financeira desde cedo, mencionando sua própria experiência com seus filhos
adolescentes. “Todo mês eu transfiro aos meus filhos um valor que eles podem gastar
apenas em investimentos para que eles possam ir aprendendo a lidar com o
dinheiro. Eles decidem onde aplicar e, juntos, nós acompanhamos os
resultados".
Apesar do
crescente interesse pelas apostas, especialistas como Cohen defendem que o
caminho mais seguro e sustentável continua sendo a educação financeira sólida e
o investimento disciplinado. "Ganhos rápidos são ilusórios, e o único
caminho seguro para construir um patrimônio é através de boas escolhas de
investimento, consistência e paciência", conclui o analista.
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