Eventos climáticos trazem prejuízos para quem
depende de medicamentos termolábeis
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A alternativa é se preparar com um “sistema backup", explica especialista do Grupo Polar
A Grande São Paulo
tem ainda cerca de 36 mil clientes sem energia elétrica, desde um apagão
iniciado na última sexta-feira (11), após um temporal.
Mais de três
milhões de pessoas foram impactadas com o ocorrido, resultando em série de
prejuízos, muitos deles, envolvendo a área da saúde. Em Santo Amaro, todo o
estoque de insulina de duas casas de repouso foi parar no lixo. Em São Bernardo
do Campo, uma paciente perdeu R$ 600 em insulinas.
Dados da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que, em 2023, o consumidor
brasileiro ficou 10,4 horas sem eletricidade, com cinco cortes de fornecimento
no ano. O levantamento representa dado médio, tempo e número de eventos de
interrupções divididos pelo total de consumidores. Em 2022, os cidadãos ficaram
11,2 horas sem energia, com 5,47 cortes de fornecimento, em média, para cada
um.
Eventos
climáticos, como o temporal do último dia 11, e falhas no sistema elétrico –
que não são incomuns, –, trazem transtornos diversos, prejuízos e, inclusive,
riscos à saúde de quem faz uso de medicamentos termolábeis, ou seja, remédios
que devem ser armazenados dentro de uma faixa de temperatura específica, até
8°C.
É o caso da
insulina, usada por pacientes com diabetes tipo 1. De acordo com a Sociedade
Brasileira de Diabetes, o Brasil tem 16,8 milhões de pessoas com a doença,
entre as quais cerca de 560 mil têm diagnóstico de diabetes tipo 1 e necessitam
de insulina diariamente para sobreviverem. Já de acordo com o relatório
"Type 1 diabetes estimates in children and adults", de diabetes tipo
1 em crianças e adultos, da IDF (Federação Internacional de Diabetes, na sigla
em inglês), o Brasil é o 3º país no mundo em casos absolutos de diabetes tipo
1, atrás apenas dos Estados Unidos (1º colocado) e da Índia.
Por ser um
medicamento biológico - produzido a partir de células vivas -, as insulinas
lacradas precisam ser mantidas refrigeradas entre 2°C e 8°C. E aí, quando falta
energia, o que fazer?
A alternativa é se
preparar com um “sistema backup”, explica Liana Montemor, farmacêutica e
diretora técnica do Grupo Polar, que atua em pesquisa e desenvolvimento de
soluções para a Cadeia de Frio.
“Pode ser feito da
seguinte maneira: tenha dentro do freezer gelos específicos para este fim (tipo
gel ou em espuma), que já estejam congelados devidamente. Esses gelos podem ser
encontrados em lojas especializadas em produtos para refrigeração. Os itens têm
propriedades exclusivas que garantem a estabilidade na manutenção térmica de
produtos de cadeia fria e são indicados para produtos que requerem tempo e
temperaturas controlados, principalmente para a faixa de 2 a 8°C, como o caso
da insulina”, fala.
Quando a energia
acabar, a orientação é pegar o medicamento e os gelos, e colocá-los no “sistema
backup”, que pode ser uma bolsa térmica ou uma caixa térmica. Existem bolsas
térmicas que são qualificadas para manter a refrigeração por 12 a 15 horas e há
caixas com prazo de conservação que vão de 72 a 96 horas. Tudo depende do
quanto o paciente precisa manter o medicamento dentro dessa embalagem e
baseado, principalmente, no histórico de queda de energia.
“Vamos supor: em
caso em que a área onde o paciente resida sofra com falta de energia
corriqueiramente ou quando a interrupção dura 24 horas ou mais– situação que
costuma acontecer quando há chuvas de grandes proporções, com quedas de árvores
e danos no fornecimento de energia -, o ideal é que a pessoa tenha uma solução
que dure mais de 24 horas e, para isso, o “sistema backup” é o “plano B” a ser
executado quando a geladeira não funcionar”, pontua Liana. “Sendo assim, é
importante deixar tudo pronto para, quando acontecer uma queda de energia,
poder acondicionar o medicamento em um lugar que seja seguro e qualificado, do
ponto de vista térmico, para sua conservação”, completa.
Termômetros ou
dispositivos que monitoram a temperatura podem ser utilizados para garantir que
a insulina ou outro medicamento termolábil esteja armazenado na faixa de
temperatura adequada.
“E atenção: Importante
ressaltar que o gelo água (aquele produzido em casa, por meio de forminhas)
jamais deve ser utilizado, devido ao risco inerente de congelamento do
medicamento”, ressalta. Ainda nesse contexto, o gelo artificial não pode
encostar diretamente no frasco, sob o risco de congelar a insulina. Por isso, é
importante ter caixas e bolsas térmicas que já contenham tais instruções e
utilizem esses materiais adicionais para evitar o congelamento, impedindo,
assim, que o medicamento entre em contato direto com o gelo. Se congelar, a
medicação não poderá mais ser utilizada. “Existem empresas que são
especialistas nesse tipo de solução e que ensinam ao paciente fazer esse
procedimento de forma correta, garantindo a qualidade e eficiência do
medicamento.
E mais um alerta:
a partir do momento em que o medicamento for colocado dentro da caixa ou da
bolsa térmica, é importante que a embalagem não seja aberta, a menos que a
pessoa precise fazer a utilização”, diz.
A insulina e
outros medicamentos termolábeis podem perder sua potência e eficácia se forem
armazenados fora da faixa de temperatura recomendada, o que pode resultar em
possíveis complicações no tratamento. “Portanto, com atenção aos detalhes, você
dá luz ao que há de mais importante: a sua saúde”, conclui.
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