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terça-feira, 22 de outubro de 2024

A obesidade e seus riscos durante a gestação: o que toda mulher deve saber

 Estudos mostram que mais de 20% das mulheres em idade reprodutiva estão obesas, e mais de 53% apresentam excesso de peso

 

A obesidade é um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade e suas implicações para a saúde das mulheres, em especial durante a gestação, podem ser ainda mais complexas.

Dados apontados pelo mapa da obesidade da Abeso – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica mostram que 20,7% das mulheres brasileiras acima dos 20 anos são obesas e mais de 53% estão com excesso de peso, o que representa uma parcela significativa da população feminina em idade fértil. E este aumento da obesidade tem impacto direto sobre os cuidados obstétricos.

De acordo com a dra. Claudia Cristina Goulart Ribeiro, coordenadora de obstetrícia do Hospital Paulino Werneck, gerenciado pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim", as mulheres grávidas que apresentam obesidade estão expostas a uma série de riscos, o que torna ainda mais crucial o acompanhamento médico especializado e multidisciplinar.

A especialista reforça que a obesidade, definida como um índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30, pode trazer complicações que afetam não apenas a saúde da mulher durante a gravidez, mas também a do bebê.

O quadro, segundo ela, não deve ser visto apenas como um fator de risco adicional, mas como um problema que pode alterar todo o curso da gravidez, desde a concepção até o parto e o pós-parto. “Muitas vezes, esses riscos são subestimados pelas próprias pacientes, o que reforça a necessidade de informação e conscientização”, frisa.

Para compreender melhor os impactos da obesidade na gestação, a médica destaca sete principais problemas:


  1. Diabetes gestacional:

As mulheres obesas têm um risco muito maior de desenvolver diabetes gestacional. Essa condição eleva a quantidade de glicose no sangue, o que pode resultar em bebês com peso elevado ao nascer (macrossomia), parto prematuro e, em casos graves, até problemas respiratórios e cardíacos no recém-nascido.


  1. Hipertensão e pré-eclâmpsia:

A condição caracterizada pelo aumento da pressão arterial pode colocar em risco tanto a vida da mãe quanto a do bebê. Além disso, mulheres obesas têm maior propensão a desenvolver hipertensão arterial, o que pode resultar em complicações como parto prematuro e restrição do crescimento fetal.


  1. Complicações no parto:

O excesso de peso aumenta significativamente o risco de cesarianas, uma vez que partos normais podem ser mais difíceis em mulheres obesas, devido ao trabalho de parto prolongado e ocorrências como descolamento prematuro da placenta. Isso aumenta a probabilidade de infecções pós-operatórias e dificuldades na cicatrização.


  1. Anemia:

Curiosamente, a obesidade também pode estar associada a uma maior prevalência de anemia em gestantes. A anemia pode comprometer a oxigenação adequada dos tecidos e afetar a saúde tanto da mãe quanto do bebê.


  1. Problemas no desenvolvimento fetal:

Gestantes obesas estão mais suscetíveis a ter bebês com malformações congênitas, como defeitos no tubo neural, além de maiores chances de partos prematuros, o que pode comprometer o desenvolvimento pleno do feto.


  1. Obesidade infantil:

Estudos indicam que bebês de mães obesas têm maior probabilidade de se tornarem obesos na infância, perpetuando um ciclo de obesidade familiar que pode ser difícil de quebrar. Isso também aumenta o risco de outras condições crônicas, como diabetes tipo 2, desde cedo.


  1. Complicações pós-parto:

Mulheres obesas enfrentam desafios adicionais após o parto, como maior risco de infecções, especialmente em cesarianas, além de dificuldades de cicatrização e problemas como trombose venosa profunda.

 

Crescimento das taxas de obesidade nas gestantes brasileiras

A obesidade tem se tornado uma preocupação crescente em hospitais e maternidades no Brasil. Segundo a dra. Claudia, há um aumento significativo no número de gestantes obesas, particularmente em hospitais de referência, que lidam com casos de maior complexidade.

“Em muitas dessas unidades, já existem ambulatórios específicos para gestantes com obesidade mórbida, ou seja, aquelas com IMC igual ou superior a 40. Esses casos são especialmente preocupantes, uma vez que as comorbidades associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão, tornam a gestação ainda mais desafiadora”, explica a médica.

Ela acrescenta que o aumento das cesarianas está diretamente relacionado à obesidade. "Temos revisado mensalmente nossas taxas de cesariana, e é notório que muitas das indicações cirúrgicas decorrem das complicações associadas à obesidade, como diabetes gestacional e hipertensão. Essas complicações também elevam o risco de infecção da ferida operatória e de complicações puerperais, como descontrole da pressão arterial e glicemia", destaca.

 

Obesidade e fertilidade: um obstáculo adicional

Além dos riscos durante a gravidez, a obesidade também pode dificultar o processo de engravidar. As mulheres obesas frequentemente enfrentam alterações hormonais que afetam a ovulação e o ciclo menstrual.

A síndrome dos ovários policísticos (SOP), uma condição frequentemente associada à obesidade, pode causar distúrbios ovulatórios e irregularidades menstruais, dificultando a concepção.

“A obesidade tem um impacto direto sobre a fertilidade”, observa dra. Claudia. “Muitas mulheres não percebem que o excesso de gordura corporal interfere na produção de hormônios importantes, como o estrogênio e a progesterona, que são essenciais para um ciclo ovulatório saudável. Além disso, o risco de abortos espontâneos é significativamente maior em mulheres obesas.”


A abordagem multidisciplinar: cuidando da saúde da mãe e do bebê

Diante de todos esses riscos, o acompanhamento pré-natal de uma mulher obesa deve ser cuidadosamente planejado e envolvido em uma abordagem multidisciplinar. Isso inclui:


Avaliação inicial e contínua: no início do pré-natal, a gestante passará por uma avaliação abrangente de saúde, incluindo o cálculo do IMC, histórico médico e presença de comorbidades. Consultas frequentes são essenciais para monitorar a evolução da gestação.


Plano alimentar e nutricional: o nutricionista desempenha um papel fundamental no controle de peso da gestante, oferecendo orientações alimentares que garantam uma nutrição adequada, sem ganho excessivo de peso.


Exercícios físicos adequados: sob a supervisão médica, a prática de atividades físicas leves e seguras pode ajudar a controlar o peso e melhorar a saúde cardiovascular da gestante.


Controle de doenças associadas: para gestantes com diabetes ou hipertensão, o controle rigoroso dessas condições será uma prioridade ao longo de toda a gestação.


Suporte psicológico: a obesidade pode trazer desafios emocionais, como baixa autoestima e estresse. O suporte psicológico é essencial para ajudar a gestante a lidar com essas questões e enfrentar a gravidez de forma saudável.


Preparação para o parto e pós-parto: é importante que a gestante esteja ciente das opções de parto e das intervenções que podem ser necessárias. O acompanhamento também se estende ao pós-parto, onde o foco é prevenir complicações como infecções e problemas de cicatrização.


Prevenção e cuidado são essenciais

Dra. Claudia enfatiza a importância de programas de prevenção e suporte para gestantes obesas. "Ao garantir que as mulheres recebam acompanhamento médico adequado desde o planejamento da gravidez, podemos reduzir os riscos e promover gestações mais saudáveis", conclui.

O cuidado personalizado e a conscientização sobre os riscos são passos fundamentais para melhorar os desfechos maternos e infantis em um cenário de aumento da obesidade no Brasil.




CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial

 

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