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terça-feira, 22 de outubro de 2024

Terapia gênica aliada a cuidados multidisciplinares potencializa benefícios aos pacientes

 Em doenças genéticas raras, o tratamento combinado a fisioterapia é essencial para o progresso motor

A A terapia gênica vem ganhando destaque como uma abordagem inovadora capaz de modificar o curso natural de doenças genéticas, multifatoriais e até mesmo alguns cânceres. Essa opção terapêutica visa corrigir problemas causados por genes defeituosos, seja substituindo o gene defeituoso por um gene saudável, corrigindo diretamente o gene defeituoso ou desativando um gene que está causando problemas.1 No entanto, para que o potencial dessa terapia seja plenamente realizado, é crucial que ela seja associada a cuidados multidisciplinares, principalmente em casos de doenças genéticas raras. Um exemplo é a deficiência da descarboxilase de L-aminoácidos aromáticos (deficiência de AADC), cuja combinação entre a terapia gênica e a fisioterapia tem mostrado grandes ganhos motores, como o desenvolvimento da marcha.

A A deficiência de AADC é um distúrbio genético que afeta a comunicação entre as células do sistema nervoso devido à falta ou baixa produção de neurotransmissores essenciais, impactando funções como coordenação motora, controle da dor, comportamento e fluxo sanguíneo. Os sintomas, que podem surgir nos primeiros meses de vida, incluem hipotonia (diminuição do tônus muscular), atraso no desenvolvimento, crises oculogíricas (movimentos oculares involuntários), convulsões e outros movimentos involuntários.2,3,4 "Nos primeiros meses, já podemos notar alguns sinais, como a hipotonia, que deixa a criança mais 'molinha', e atrasos no desenvolvimento motor, como a incapacidade de firmar a cabeça ou rolar", explica Maria Angélica Zanquetta, fisioterapeuta especialista em neurologia infantil.
 

DDe acordo com a especialista, a terapia gênica faz com que os neurotransmissores passem a ser produzidos, porém, devido à hipotonia, a criança ainda não passou pelos marcos do desenvolvimento, rolar, engatinhar e andar. “É nesse momento que a fisioterapia se torna essencial para garantir esses progressos motores”, explica a especialista.
 

AA fisioterapia intensiva, caracterizada pela alta duração e intensidade, tem sido utilizada para promover ganhos rápidos de habilidades em pacientes que receberam terapia gênica para o tratamento da deficiência de AADC. “O protocolo que seguimos envolve um mês de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia diárias, com sessões de três a quatro horas. Após esse período, é feito um intervalo de dois meses. A partir desses diferentes estímulos, a criança aprende coordenações motoras básicas que não haviam sido adquiridas ou estavam estagnadas, como sentar-se, andar, engolir, mastigar e falar”, afirma.
 

UUm exemplo que ilustra os benefícios dessa combinação é a história da família Poulin. A filha do casal, diagnosticada com deficiência de AADC, recebeu terapia gênica aliada a um intenso acompanhamento, que incluiu fisioterapia e outras terapias de suporte. Assim, em alguns anos, a menina que antes enfrentava grandes desafios motores, de desenvolvimento, além de complicações respiratórias e convulsões, passou a realizar atividades que antes pareciam distantes. Hoje, ela não apenas anda, mas também nada, fala, lê e desempenha de atividades esperadas para a sua idade, mostrando que a combinação de terapia gênica com cuidados adequados pode proporcionar um progresso significativo e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com essa condição rara.5
 

AApesar das evidências quanto aos benefícios gerados, Maria Angélica afirma que há desafios, como tornar a fisioterapia intensiva mais acessível para as pessoas afetadas, bem como de a prática ser mais adotada por outros profissionais. 

EEla alerta ainda que a falta de profissionais de saúde especializados pode levar a orientações incorretas, já que a deficiência de AADC é de difícil diagnóstico, sendo confundida com outras condições, como a paralisia cerebral. “A conscientização dos profissionais é crucial para garantir as melhores práticas. Os fisioterapeutas precisam conhecer a doença para orientar corretamente. Pacientes com a doença devem realizar exercícios com peso moderado, garantindo avanços sem sobrecarga”, explica Zanquetta, que também reforça os benefícios do uso de uma vestimenta ortopédica, composta por colete, calções, joelheiras e sapatos conectados por elásticos ajustáveis. “Esse aparato melhora o controle dos movimentos, a força muscular e a coordenação, proporcionando suporte e resistência que facilitam a fisioterapia de forma eficaz e segura”, completa. 


AADC

 

Referências

[{1. Gonçalves, G. A. R., & Paiva, R. de M. A.. (2017). Gene therapy: advances, challenges and perspectives. Einstein (são Paulo), 15(3), 369–375. https://doi.org/10.1590/S1679-45082017RB4024

[2] Wassenberg T, Molero-Luis M, Jeltsch K, et al. Consensus guideline for the diagnosis and treatment of aromatic l-amino acid decarboxylase (AADC) deficiency. Orphanet J Rare Dis. 2017;12(1):12. doi: 10.1186/s13023-016-0522-z

[3] Hwu WL, Chien YH, Lee NC, et al. Natural history of aromatic L-amino acid decarboxylase deficiency in Taiwan. JIMD Rep. 2018;40:1-6. doi: 10.1007/8904_2017_54.

[4] Lee WT. Disorders of monoamine metabolism: inherited disorders frequently misdiagnosed as epilepsy. Epilepsy & Seizure. 2010;3(1):147-153. https://www.jstage.jst.go.jp/article/eands/3/1/3_1_147/_article/-char/en.

[5] POULIN, Richard E. The Journey of Beautiful Destinations. AADC News, 2022. Disponível em: https://aadcnews.com/the-journey-of-beautiful-destinations-richard-e-poulin-iii/. Acesso em: 29 ago. 2024.

 

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