Vivemos em uma era em que a informação é fluida, dinâmica e, sobretudo, influenciável. Se outrora os grandes palcos da política se desenrolavam nas ruas e nos comícios, hoje, as redes sociais tomaram esse papel e se converteram no principal veículo de formação de opiniões políticas. Nesse contexto, figuras como Pablo Marçal no Brasil tornam-se expoentes dessa transformação, utilizando as mesmas ferramentas que uma marca usaria para vender um produto a fim de propagar uma ideia política.
Marçal não é
apenas um coach ou empresário, ele é um produto. Ascendeu ao cenário público
inicialmente como mentor de desenvolvimento pessoal e rapidamente percebeu que
o caminho para o crescimento político estava diretamente ligado ao domínio do
ambiente digital. Seu discurso, ora motivacional, ora político, mas sempre
destoante dos demais, encontra eco em uma audiência vasta. Essa fusão entre
influenciador e político reflete um fenômeno que, por mais bizarro que pareça,
se tornou corriqueiro. No fim das contas, o público (eleitor ou consumidor)
responde sempre a um item principal: sensação de pertencimento.
Esse
fenômeno não é exclusividade brasileira. Na verdade, as redes sociais vêm
moldando o discurso político em escala global há anos. E é aqui que vemos a
tênue, mas poderosa, ligação entre a política e o consumo. Donald Trump é
provavelmente o caso mais notório de como as redes sociais podem moldar um
destino político. Ao utilizar o Twitter como sua principal plataforma, ele não
apenas contornou a mídia tradicional, como a subjugou, ditando o ritmo da
cobertura jornalística através de uma série de tuítes muitas vezes polêmicos,
por vezes curtos e aforísticos, refletindo a lógica de mercado: simples,
impactantes e memoráveis, como slogans publicitários.
Outro
exemplo emblemático é o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que de ator de
televisão tornou-se um líder mundial em tempos de crise. Zelensky não utiliza
as redes apenas para comunicar decisões políticas; ele cria histórias, gera
empatia, constrói uma imagem de resiliência que transcende a política tradicional.
Seus discursos, muitas vezes transmitidos ao vivo e compartilhados milhões de
vezes, ressoam como uma marca que busca ser “comprada” – neste caso, não por
consumidores, mas por aliados políticos ao redor do globo.
Esse
cruzamento entre política e marketing não deveria surpreender ninguém. As
técnicas que Marçal, Trump, Zelensky e vários outros utilizam para angariar
apoio não são diferentes das utilizadas pelas maiores marcas do mundo. As redes
sociais derrubaram as barreiras entre esses dois universos, transformando
eleitores em consumidores e consumidores em eleitores. As estratégias de
marketing político são as mesmas que promovem um novo tênis ou um smartphone:
alcance, engajamento e, claro, uma boa dose de storytelling.
Hoje, as
campanhas políticas se baseiam mais na psicologia do consumo do que no debate
ideológico. O que importa é como a narrativa é apresentada. O eleitor não está
apenas votando; ele está comprando uma ideia, investindo em uma visão de mundo.
O processo de escolha entre marcas e candidatos, por mais paradoxal que pareça,
segue as mesmas lógicas de mercado.
O
comportamento do eleitor foi transformado da mesma forma que o do consumidor.
Antes, decisões políticas e de compra eram feitas com base em informações
provenientes de fontes mais “oficiais” – televisão, rádio, jornais. Hoje, essas
decisões são moldadas pelas redes sociais, por influenciadores e por algoritmos
que ditam o que você verá no seu feed. Repito. A busca dos dois lados desta
mesma moeda é pertencimento, é a procura de uma narrativa que o faça sentir
parte de algo maior.
E é
justamente isso que as figuras públicas modernas – sejam elas políticos ou
marcas – entendem tão bem. Em vez de apenas vender ideias ou produtos, elas
vendem estilos de vida. Pablo Marçal, por exemplo, não oferece apenas uma visão
política; ele oferece um caminho para o desenvolvimento pessoal, uma “marca”
que seus seguidores desejam consumir.
No fim das
contas, a linha entre política e consumo foi completamente apagada. O que resta
é uma narrativa única, onde marcas e ideais políticos competem pelo mesmo
ativo: a atenção do público. Quem domina as redes sociais controla a narrativa,
e quem controla a narrativa, controla o voto e a compra.
Se antes política e consumo se mostravam distintos, hoje
se encontram amalgamados em um único espaço digital, onde cada post, cada like
e cada compartilhamento podem significar tanto um novo cliente quanto um novo
eleitor. O futuro? Bem, se há algo que podemos aprender com esses casos é que,
para influenciar, é preciso contar uma boa história e que, no fim, todos nós
estamos, de certa forma, comprando algo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário