Fato incontestável: as mulheres deixaram de ser apenas espectadoras. As Olimpíadas de Paris são a prova. Do tempo em que o único lugar a elas permitido era a arquibancada ao ano em que elas foram aplaudidas, de pé, por trazerem os únicos ouros brasileiros para casa, muita coisa mudou.
A primeira vez que uma mulher recebeu permissão para participar
das Olimpíadas foi em 1900, na segunda edição dos Jogos Olímpicos modernos.
Agora, mais de um século depois e de novo em Paris, elas celebram a maior participação
feminina da história.
De feito em feito, as mulheres vêm batendo recordes – nos jogos e
na vida – e mostrando que podem estar exatamente onde querem: na escola, na
política, no governo, no exército, na liderança de empresas e em atividades
antes exclusivamente masculinas. Tanto faz.
Em 2024, mais da metade das disputas olímpicas teve presença
feminina e pela primeira vez a delegação brasileira teve mais mulheres do que
homens. Foi também a primeira vez que elas conquistaram mais medalhas olímpicas
do que eles: 13 de um total de 20 (uma delas em esporte misto). Ou seja, 65% do
total.
E, como se isso não fosse o suficiente, elas se superaram outra
vez: as únicas três medalhas de ouro do Brasil nesta edição das Olimpíadas
foram delas. O lugar mais alto do pódio foi exclusivamente feminino.
Um recorde atrás do outro
Mais de cem anos se passaram desde que as mulheres foram
autorizadas a fazer o mesmo que os homens em Olimpíadas: competir. E ainda que
de forma desigual, elas não desistiram. Nem as brasileiras nem as estrangeiras.
A primeira vez que o pódio olímpico foi ocupado por uma atleta
brasileira foi em Atlanta, em 1996, 76 anos depois dos homens. Na história
geral das Olimpíadas a virada de chave foi em Amsterdã, em 1928, quando a
participação feminina chegou a 10%, mas só em 2012 é que todos os países
tiveram representação feminina.
Em Atenas, em 2004, elas somaram 40% dos atletas, mas foram necessários
mais 20 anos para o percentual se equilibrar em 50/50. No Rio de Janeiro, em
2016, outro destaque: a maior porcentagem de medalhas conquistadas por mulheres
em uma Olimpíada (44%).
Esses são apenas exemplos. Ao longo do tempo e em todas as áreas
não faltam casos de superação, força, determinação, coragem e resiliência. A
jornada é dura, mas bem-sucedida e cheia de marcos.
Em 1923, nos Estados Unidos, Alice Coachman foi a primeira mulher
afro-americana a colocar no peito uma medalha de ouro olímpica. Já a ginasta
romena Nadia Comaneci recebeu a primeira nota 10 da história das Olimpíadas e
estabeleceu um novo padrão para as provas de barras assimétricas.
Coragem e determinação
A norte-americana Simone Biles, a ginasta mais premiada de todos
os tempos, superou não apenas a infância difícil e o preconceito, mas mostrou
ao mundo toda a sua coragem ao abandonar as Olimpíadas de Tóquio, em 2020, para
cuidar da saúde mental.
Em Paris, Biles voltou incrível e, atualmente, tem medalhas
olímpicas que, se somadas, equivalem a quase 12% do seu peso. Outras tantas
mulheres merecem aplausos. No caso dos Estados Unidos, vencedor dos jogos de
Paris, as mulheres subiram 67 vezes no pódio e os homens, 52. Só de ouro foram
26 medalhas femininas contra 13 dos homens.
E mais: entre os top 15 medalhistas de Paris, 12 são mulheres,
incluindo a brasileira Rebeca Andrade, com um ouro, duas pratas e um bronze.
Seja qual for o desafio ou o lugar no mundo, as mulheres vêm travando batalhas
para estar onde querem e para mostrar seu protagonismo, dando exemplo e abrindo
caminho para as novas gerações.
Mulheres na logística
Mas o que tudo isso tem a ver com a vida fora das quadras, piscinas ou tatames? Tudo! Este artigo não é exatamente sobre esportes. É sobre mulheres e seus desempenhos.
Assim como nas Olimpíadas, subimos, degrau a degrau, outros
pódios. Em 1827, as mulheres brasileiras foram autorizadas a frequentar a
escola primária. O acesso às faculdades foi permitido em 1879 e o direito ao
voto, em 1932. Em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a
necessidade de equidade e publicou um documento sobre a igualdade de direitos.
A expectativa no universo corporativo, segundo a Agenda 2030, é
que até 2025 as mulheres ocupem 30% dos cargos de liderança e, até 2030, esse
percentual chegue a 50%. Levantamentos da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) mostram que as mulheres representam cerca de 24% da força de trabalho
global em logística. Entre os CEOs e CFOs, a média global de mulheres não passa
de 15%. No Brasil, ficam abaixo disso.
É verdade que esses índices vêm crescendo, ainda que timidamente.
As plataformas de emprego são bons balizadores para mostrar a ampliação das
oportunidades de trabalho em áreas predominantemente masculinas, como logística,
tecnologia e engenharia.
Especificamente no setor de tecnologia e na área de inovação, onde
trabalham menos de 1% das mulheres brasileiras, o viés é de alta nas
contratações de mulheres. A notícia é positiva também no setor de transportes.
A pesquisa Vez e Voz Índice de Equidade, realizada anualmente pelo Sindicato
das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região, avalia as políticas
e esforços das empresas pela igualdade de oportunidades.
A nota geral do setor subiu de 37 para 40 (de um total de 100)
entre 2023 e 2024. Um avanço tímido, é verdade, mas no cenário atual, cada
“medalha” merece ser comemorada.
Trabalho a fazer
No quesito remuneração, o desafio persiste. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, todas as profissões têm defasagem na
remuneração oferecida às mulheres. Em geral, os homens recebem 20% a mais para
exercer a mesma atividade e, segundo projeções do IBGE, a mudança desse cenário
levará mais de meio século.
É por isso que o desempenho das mulheres nas Olimpíadas tem tudo a
ver com o dia a dia de todas nós, que, em algum momento, tivemos nossa
capacidade de entrega questionada.
A ginasta Rebeca Andrade, a judoca Beatriz Souza ou a dupla de
vôlei de praia, Duda e Ana Patrícia são os exemplos mais recentes do potencial
feminino. E que bom que essas não foram as únicas vezes que conseguimos
surpreender o mundo.
No esporte, na política, na economia, na educação e, é claro, na logística, o Brasil é feito por milhares de mulheres como Rebeca, Beatriz, Duda e Ana Patrícia. De boa performance a gente entende e é capaz de fazer entregas excepcionais todos os dias.
Para quem tem dúvidas, as Olimpíadas de Paris são a prova e, para quem não entendeu, este artigo não é sobre os Jogos Olímpicos. Fato incontestável: nosso lugar não é na arquibancada, é onde quisermos.
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