Os sintomas da
urticária são lesões na pele chamadas urticas, que têm aspecto avermelhado e
elevado, coçam muito e se apresentam de forma isolada ou agrupada formando
placas. Essas manchas podem aparecer em qualquer parte do corpo, não deixam
cicatrizes e podem durar até 24 horas. Em alguns casos, as urticas podem vir
acompanhadas de angioedema (inchaço deformante) em olhos, lábios, língua,
genitália, palma das mãos e dorso dos pés.
A urticária pode
ser classificada em aguda (quando tem duração de menos de seis semanas) e
crônica (quando a duração tem mais que seis semanas). A maioria das urticárias
crônicas tem causa espontânea, ou seja, sem um motivo aparente. É uma doença
autoimune e autorreativa, onde o próprio corpo gera anticorpos contra ele
mesmo, produzindo sintomas da urtica e/ou angioedema.
Na urticária
aguda, que é aquela que acontece com menos de seis semanas, a reação pode ser
causada por alimentos. “Por exemplo, o paciente foi para a praia, comeu camarão
e em até 2 horas a boca inchou, apareceu lesões avermelhadas e coceira. Sim,
pode ser a urticária aguda e é muito comum em crianças e adultos. Porém, na
urticária crônica, essa relação com o alimento é de menos de 1%”, explica a Dra. Janaina Melo, membro do Departamento
Científico de Urticária da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
(ASBAI).
A especialista
explica que as diretrizes brasileira, americana, britânica e europeia mostram
que não deve ser indicada a restrição alimentar para controlar a urticária
crônica, por não ser o tratamento mais eficaz. “Mas a realidade no
consultório é outra, pois chegam pacientes que retiraram por conta própria
alimentos nutricionalmente importantes para ter uma melhora no quadro de
urticária. Já cheguei a atender paciente que só se alimentava de arroz sem
tempero e tomava água e, mesmo assim, sem melhora na urticária”, conta Dra.
Janaina.
Alfa-gal - Mas se o alimento não causa a urticária crônica, ele pode
agravar um quadro já existente? A especialista explica que existe um tipo de
urticária tardia que acontece depois de duas horas da ingestão do alimento. A
síndrome da alfa-gal, resultante da ingestão de carnes de mamíferos, às vezes
não bem cozidas. Nessa síndrome específica, evita-se a carne vermelha. “Um
outro tipo de restrição que podemos adotar é a ingestão de peixes crus. Muitos
deles podem estar contaminados com o anisakis, presente no peixe cru, marinado ou pouco refogado. Então,
por conta desse nematoide (verme), pode-se ter uma piora da urticária”, explica
a especialista da ASBAI.
Quais
são os riscos de fazer uma restrição sem um acompanhamento, sem uma orientação
do especialista para evitar danos nutricionais que podem se desagravar?
A maior
preocupação, segundo Dra. Janaina, é justamente o paciente ficar desnutrido e
começar a evoluir para hipovitaminose, perda indevida de peso, além da piora de
qualidade de vida.
É importante que o
especialista faça testes como o PRICK teste, IgE específica antes de eliminar
um alimento, sempre seguido da orientação do alergista. Porém, foi visto que no
caso da intolerância, esses testes não são tão eficazes, porque não é uma
doença IgE mediada, com diagnóstico sempre com especialista.
“Nesse caso, a
gente tem que fazer a restrição alimentar por três semanas. Se o paciente
melhorar com essa restrição, já é um sinal de que o alimento em questão possa
estar relacionado com a urticária. E quando eu provoco o paciente novamente com
o alimento suspeito, a tendência é que ele tenha uma piora. Essa é uma ferramenta
que chamamos de teste de exclusão e provocação, que é extremamente importante
para guiar o especialista na orientação dietética”, explica a alergista.
Muito mais do que
retirar um alimento, pode ser interessante suplementar o paciente. Solicitar
dosagem de 25 hidroxivitamina D pode ser uma indicação. Para esses casos de
vitamina D baixa, recomenda-se uma reposição por seis semanas. “Foi visto um
benefício nos pacientes com urticaria crônica a investigação de vitamina D e
reposição quando necessário. Outra suplementação que também pode ser feita em
casos selecionados é a de D-aminoxidase, uma enzima que degrada a histamina.
Lembra que a urticaria é causada pelo mastócito que libera a histamina? Então,
há descrição na literatura que em casos específicos repor uma enzima que
degrade essa histamina, possa ter algum benefício, claro que nada é superior ao
tratamento padronizado com anti-histamínico de segunda geração”, conta Dra.
Janina Melo, da ASBAI.
Antes de fazer a restrição alimentar é preciso que um médico especialista avalie a história clínica do paciente e realize testes específicos de alergia para ter certeza da relação do alimento com urticaria crônica. “Lembre que a urticária crônica é uma doença autoimune, ou seja, ela vai aparecer mesmo fazendo a dieta de restrição”, alerta Dra. Janaina.
ASBAI - Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
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