Apesar dos
desafios, colaboradoras vêm conquistando respeito e espaço em mercado
historicamente dominado por homens; hoje, mulheres em importantes construtoras
de Goiânia estão nos escritórios, obras e à frente de departamentos
Com a chegada de mais um 08 de março, é imperativo
refletir sobre a presença feminina em setores historicamente dominados por
homens, como a construção civil e o setor imobiliário. Segundo dados da Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS), divulgada pelo Ministério do Trabalho, em
2010, 7,8% dos trabalhadores formais do setor eram mulheres, enquanto em 2021,
esse número aumentou para 10,85%. Apesar do crescimento tímido, é fato que
mulheres têm conquistado espaços cada vez mais significativos nesse mercado,
liderando equipes e até configurando maioria da equipe nas grandes empresas em
Goiânia.
É o caso da Sousa Andrade Construtora, em que 54%
da equipe é composta por mulheres. Juliana Queiroz, que é superintendente de
Incorporação e Projetos da Sousa Andrade, explica que, apesar das mulheres
estarem mais presentes no backoffice do que nos canteiros de obras, o número já
é um indicativo de mudança no cenário imobiliário. “Na empresa temos programas
de desenvolvimento que valem para todos os colaboradores, mas vemos claramente
como as mulheres têm ganhado destaque. Ter mais mulheres no time do escritório
nos mostra como força de trabalho feminina pode agregar em diversas frentes
dentro do mercado de imóveis”, diz.
Já na EBM Desenvolvimento Imobiliário, maior
construtora da região Centro-Oeste, são 362 mulheres, em que 27 delas ocupam
cargos de liderança na coordenação ou gestão de equipes. O número de destaque
vai justamente para a quantidade de mulheres nos canteiros de obras – são 122.
“O detalhismo, atenção e cuidado fazem com que as mulheres sejam mais
solicitadas para acabamento de obras, finalização de detalhes e revestimento,
por exemplo”, explica Thais Nayara Aguiar Martins, coordenadora de obras da
EBM.
Thais afirma que é visível o aumento da quantidade
de mulheres no mercado, o que reflete uma mudança positiva no cenário rumo à
igualdade de gênero. “Acredito que nós, mulheres, somos mais comunicativas e
empáticas, o que ajuda a estabelecer uma conexão com o cliente e compreender
suas necessidades. Temos também facilidade para realizar múltiplas tarefas e
somos mais adaptáveis a mudanças”, justifica.
Na CMO Construtora, entre os canteiros de obras e
os escritórios administrativos, são 78 mulheres, com 15 delas em cargos de
liderança na empresa, sendo que todos os departamentos contam com profissionais
do sexo feminino. Para a gerente do departamento comercial da CMO, Fátima
Stival, que comanda uma equipe de 11 pessoas, a força de trabalho feminina tem
ganhado cada vez mais o merecido valor no segmento imobiliário. “Nós seguimos
uma filosofia de trabalho muito pautada pelo planejamento, o engajamento
cuidado, uma gestão ativa e participativa, assim como o envolvimento da equipe
na busca de resultados. São quesitos que demonstram como a postura feminina de
conduzir, orientar e executar o trabalho é assertiva, comprometida e
cuidadosa”, diz. Nesse sentido, a construtora investe na realização de algumas
ações de qualificação, como o projeto de patrocínio de bolsas de estudo, com o
intuito de incentivar a capacitação, o desenvolvimento individual e em equipe.
Desafios
De fato, a entrada das mulheres no mercado da
construção não apenas quebra estereótipos de gênero, como também traz
benefícios tangíveis para o setor, afinal, a diversidade de ideias e
perspectivas resulta em soluções mais inovadoras e eficazes. “As mulheres costumam
ter uma percepção mais ampla e sistêmica do negócio, e, ao mesmo tempo, estão
sempre atentas aos detalhes. Ao nos aprofundarmos nos assuntos do setor,
conseguimos agregar esse ponto de vista que é muito importante para a empresa”,
esclarece a superintendente da Sousa Andrade.
Apesar do claro avanço do público feminino, ainda
persistem desafios no mercado, como a desigualdade salarial e a
sub-representação em cargos de liderança. Um cenário que já não se vê hoje na
Sousa Andrade, visto que existe uma forte presença de mulheres à frente de
departamentos como Engenharia, Comercial, Incorporação, Projetos, Jurídico,
Secretaria de vendas e repasse e Gente, além da equiparidade salarial entre os
gêneros. “Um grande exemplo a ser seguido por outras empresas”, afirma Juliana.
Ainda segundo a profissional, para trilhar uma
carreira – em qualquer área, mas principalmente nas que ainda são
predominantemente masculinas – é necessário acreditar em si mesma. “É
importante termos domínio de conteúdo, acreditarmos em si e sermos firmes em
nossas colocações. Precisamos ter todas atribuições que qualquer bom
profissional precisa ter, porém os desafios ainda nos exigem mais pulso”,
reitera.
Thais também lembra que lembra que conciliar a vida
profissional e pessoal ainda é um desafio, visto que as mulheres continuam
enfrentando expectativas desproporcionais em relação à gestão do lar e família.
“Essa perspectiva pode impactar a percepção sobre nossa disponibilidade e
comprometimento com papéis de liderança e alta demanda. Por isso, muitas vezes,
precisamos provar nossa capacidade para alcançar o mesmo reconhecimento e ter
as mesmas oportunidades que os homens”, diz a coordenadora de obras da EBM.
Felizmente, Thais comemora o apoio que sempre
recebeu da empresa, que investe em qualificação, treinamento e projeção de
carreira para suas colaboradoras. “Na EBM, a liderança estabelece relações de
confiança com as profissionais que são mulheres, a fim de escutá-las e
estabelecer estratégias que atendem suas necessidades. Para mães, a título de
exemplo, é oferecido um benefício chamado auxílio-creche, que ajuda nos
cuidados com filhos pequenos. Assim, vamos conquistando lugares cada vez mais
importantes”, assegura.
Incentivo ao crescimento
A diretora de empreendimentos da Consciente
Construtora e Incorporadora, Camila Inácio, relata os esforços da empresa para
aumentar a representatividade feminina na construção civil. "Promovemos
iniciativas para a ascensão feminina, contando com colaboradoras em todas as
esferas de trabalho e mais de 100 profissionais ativas no administrativo e
operacional”, destaca. Ela ressalta a importância do programa desenvolvido pela
empresa, 'Empodera', que discute tanto questões femininas quanto experiências
profissionais das colaboradoras.
Camila enfatiza a necessidade de aumentar e
celebrar a presença feminina para promover a igualdade de gênero como um
processo natural na empresa. “Quanto maior a presença feminina, mais
significativa a discussão sobre sua importância”, conclui, apontando para o
impacto positivo dessa estratégia na cultura corporativa e no setor como um
todo.
Na Brasal Incorporações, os dados do aumento do
número de mulheres surpreendem – a porcentagem passa dos 2500% nos últimos 10
anos. “Nos cargos de liderança elas dominam aqui na filial de Goiânia e das
oito cadeiras de coordenação e gerência, cinco são delas”, explica a psicóloga
e analista de gestão de pessoas, Júlia Nunes. Ela destaca que a empresa pratica
a valorização da confiança como geradora de resultados, independentemente do gênero,
e oferece benefícios especiais para as mulheres, como licença maternidade
estendida para 5 meses, incluindo um kit natalidade para as mães funcionárias.
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