Endocrinologista responde a dez dúvidas sobre a esteatose hepática
A doença hepática
esteatótica associada à disfunção metabólica, conhecida popularmente como
gordura no fígado, ou simplesmente esteatose hepática, acomete cerca de 20% a
30% da população, sendo que parte dessas pessoas podem desenvolver cirrose ao
longo de muitos anos, com risco aumentado de câncer de fígado.
A Dra. Marília
Bortolotto, endocrinologista da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP) responde
a dez perguntas sobre a esteatose hepática.
O que
diferencia a esteatose, esteatohepatite e fibrose, e como esses espectros podem
evoluir?
A esteatose
hepática, que é o acúmulo de gordura no fígado, pode ser benigna ou ter maior
gravidade. A esteatohepatite é quando há inflamação associada, podendo evoluir
aos longos dos anos para fibrose, com cirrose e até câncer de fígado, sendo que
dentre os pacientes com cirrose, o risco para câncer ao longo dos anos pode
chegar há 5%.
Como
fazer o diagnóstico de esteatose hepática
A esteatose
hepática pode ser detectada através do ultrassom, porém sua sensibilidade é
limitada para graus leves e em pacientes obesos. A ressonância magnética poderá
nesses casos ser utilizada. A elastografia - procedimento que utiliza o
ultrassom para medir a elasticidade do fígado – é eficaz na detecção da
fibrose. Quando há dúvida no diagnóstico, a biópsia pode ser considerada.
Pessoas
magras também podem ter esteatose hepática?
Sim, é menos
comum, mas em pacientes magros sem fatores de risco tradicionais é crucial
excluir outras causas, como uso crônico de corticoides, anabolizantes ou certas
drogas usadas no tratamento do câncer de mama.
Qual é
a relação entre o consumo de álcool e a esteatose hepática?
Não existe uma
dose totalmente segura de álcool, e o risco está presente mesmo em pequenas
quantidades. O consumo acima de um a dois drinques por dia pode estar
associado à doença hepática.
Trabalhadores
expostos a solventes derivados de petróleo têm maior risco de esteatose
hepática?
Sim, a exposição a
solventes derivados de petróleo pode ser uma causa de esteatose hepática.
Qual é
o percentual de pessoas com esteatose que eventualmente evoluirá para câncer de
fígado?
Cerca de 20% a 30%
das esteatoses podem progredir para esteatohepatite. Dentre essas,
aproximadamente 20% podem desenvolver cirrose ao longo de muitos anos,
aumentando o risco de câncer de fígado em 3% a 5%.
O
consumo de frutose, especialmente em produtos ultraprocessados, pode causar ou
piorar a esteatose hepática?
O carboidrato em
excesso, especialmente em produtos ultraprocessados, pode contribuir para a
esteatose hepática. É importante diferenciar a frutose natural proveniente das
frutas, consumida moderadamente, da presente em produtos industrializados. O
açúcar em excesso, pode se transformar em gordura e assim se depositar no
fígado.
O
consumo de café tem benefícios para a saúde do fígado?
Sim, estudos
mostram que o café, consumido moderadamente (uma a duas xícaras por dia), ao
longo do tempo, pode oferecer proteção contra fibrose e câncer de fígado
Como tratar
a esteatose hepática? Existem medicamentos eficazes?
A mudança de
estilo de vida é a principal abordagem de tratamento. Estudos mostram que a
perda de peso, atividade física e mudança na alimentação são eficazes. A
redução de pelo menos 7% do excesso de peso já traz benefícios. Não há um
medicamento específico, e a prioridade é a modificação do estilo de vida.
Existem
dietas preferenciais para tratar a esteatose hepática? O jejum intermitente tem
algum valor?
A perda de peso é
o benefício mais comprovado, independentemente da dieta escolhida. Dietas
mediterrâneas são estudadas e trazem resultados positivos. O jejum intermitente
pode oferecer benefícios indiretos, pela perda de peso.
É
possível reduzir a fibrose hepática e quanto tempo isso pode levar?
A redução de
fibrose é possível, especialmente quando a inflamação e a agressão não estão em
estágios mais avançados, nos casos de fibrose avançada não é possível retornar
para o fígado normal. A melhora é observada ao longo do tempo, podendo levar
mais de um ano.
É importante frisar que, apesar da preocupação com a saúde do fígado, a esteatose hepática está associada a um maior risco cardiovascular. Nós endocrinologistas devemos estar atentos à esteatose hepática em pacientes com diabetes e pré-diabetes, realizar rastreamento regular e encaminhar para hepatologistas quando necessário.
SBEM-SP - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo
http://www.sbemsp.org.br
https://www.facebook.com/sbem.saopaulo/
https://www.instagram.com/sbemsp/
https://www.youtube.com/c/SBEMSP
bit.ly/PODCASTSBEMSP
Nenhum comentário:
Postar um comentário