Cirurgiã-dentista
explica como o distúrbio que afeta a qualidade do sono, a saúde geral e oral
pode ser tratada
Um boa noite de sono reflete na saúde e na
qualidade de vida; contudo, algumas doenças e problemas comprometem esse
período de repouso. Além de noites mal dormidas, condições como o bruxismo do
sono podem prejudicar a rotina e causar consequências a curto e longo prazo.
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
(CROSP) chama a atenção para esse quadro bastante comum: estima-se que 15% da
população mundial e também brasileira apresente o bruxismo do sono, sendo que a
maior prevalência é em mulheres (65%), na vida adulta. Mas, afinal, o que é o
bruxismo do sono?
O bruxismo do sono é um distúrbio complexo e
multifatorial cuja origem não é completamente compreendida. Ele se caracteriza
pelo ranger ou apertar dos dentes durante a noite. De acordo com a
cirurgiã-dentista e especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor
Orofacial, Dra. Paula Cristina Machado, os possíveis fatores que causam o
bruxismo do sono podem ser divididos em periféricos (morfológicos) e centrais
(patológicos e psicológicos).
"Os fatores morfológicos são aqueles
relacionados principalmente à oclusão ou 'mordida'; eles têm um papel menor na
origem do bruxismo do sono, já os fatores patológicos e psicológicos (ansiedade
e depressão) têm maior importância. São também considerados causadores do
bruxismo do sono: fatores genéticos; estresse emocional; uso de algumas drogas
(cafeína, álcool, cocaína e tabaco); algumas medicações (inibidores seletivos
da recaptação de serotonina, anfetaminas, benzodiazepínicos e drogas
dopaminérgicas) e doenças neurológicas, como o mal de Parkinson."
Consequências do bruxismo para
a saúde geral e oral
No âmbito da saúde geral, o bruxismo afeta a
qualidade do sono, especialmente quando associado à apneia e despertares
durante a noite. Em casos extremos, pode impedir que o indivíduo chegue ao
estado de sono profundo, prejudicando sua produtividade durante o dia. Além
disso, pode ocorrer a interrupção constante do fluxo do sono, levando o
paciente a despertar várias vezes durante a noite, muitas vezes devido à dor na
face ou na cabeça decorrente do bruxismo.
No contexto da saúde bucal, o ranger dos dentes
gera complicações, principalmente relacionadas aos dentes, como fraturas,
fissuras, desgastes e dor de dente (canal), além de movimentação dentária e
inflamações na gengiva. Algumas dessas condições podem até levar à perda total
do dente.
“O apertar dos dentes e outros hábitos
parafuncionais como roer unha e mascar chicletes levam principalmente à dor
muscular, manifestando-se ao mastigar, ao abrir e fechar a boca, na região das
têmporas (músculos da mastigação – masseter e temporal – causando dor de
cabeça) e na região da articulação temporomandibular (ATM), podendo resultar em
disfunção articular na ATM”.
O bruxismo do sono requer frequentemente um
tratamento multidisciplinar. Dra. Paula esclarece que o cirurgião-dentista
especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial é o profissional
capacitado para promover o tratamento com base em conhecimentos científicos
para a compreensão do diagnóstico e no tratamento de dores e distúrbios do
sistema da mastigação, região orofacial e outras estruturas relacionadas,
incluindo o bruxismo.
“Porém, é importante lembrar que o bruxismo, em
algumas situações, requer a avaliação completa dos sintomas com uma equipe
multidisciplinar, que inclui cirurgiões-dentistas, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos e psicólogos, para avaliar as causas e intervenções em cada área
de atuação”.
O mais comum
bruxismo do sono é atualmente considerado o tipo
mais comum de bruxismo. No entanto, segundo a cirurgiã-dentista, o bruxismo
diurno ou de vigília, que começou a ser estudado há menos tempo, vem mostrando
prevalência semelhante.
“Temos, portanto, o bruxismo noturno ou do sono e o
bruxismo diurno ou de vigília. Em geral, o 'ranger' acontece mais durante o
bruxismo noturno e o 'apertar', no diurno. É importante ressaltar que o simples
encostar dos dentes já caracteriza o bruxismo, uma vez que apenas encostamos os
dentes no final da mastigação e deglutição”.
Tratamentos disponíveis
A especialista esclarece que o bruxismo não tem
cura, mas pode ser controlado por meio de vários tipos de intervenções,
incluindo o tratamento cognitivo-comportamental.
“O tratamento cognitivo-comportamental promove a
mudança de hábitos que são parafuncionais (ações frequentes realizadas pelas
pessoas, mas sem uma função essencial reconhecida), como apertar os dentes,
mascar chicletes, roer as unhas, entre outros. Por meio dele, são utilizados
durante o dia recursos de autogestão e relaxamento”.
Além do tratamento cognitivo, existem recursos como
as placas estabilizadoras para o sono, os dispositivos para bruxismo de
vigília, ultrassom, fisioterapia e a toxina botulínica A.
Dra. Paula orienta que as pessoas procurem sempre
um cirurgião-dentista especialista em DTM/DOF (Disfunção Temporomandibular e
Dor Orofacial) para indicar o melhor tratamento.
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