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sexta-feira, 8 de março de 2024

DIA DA MULHER

 

Menopausa: um dos grandes tabus dos ambientes corporativos

Estudo do Bank of America aponta que a menopausa é tabu no ambiente corporativo; as profissionais relatam falta de acolhimento durante essa fase da vida. Mais da metade (51%) delas, no período pré e pós-menopausa, dizem que a condição impactou o desempenho profissional de forma negativa; 64% sentem falta de benefícios que poderiam ser ofertados pelas empresas para que elas se adaptassem melhor a essa fase.

 

O incômodo mensal – anotado de forma quase invisível no calendário de mesa – dera lugar às incertezas de sua nova condição. Tudo aconteceu de forma tão brusca, sem que, de fato, pudesse saber a data precisa do fim de tudo, como muitas mulheres foram educadas a pensar. Constatou, com tristeza, que poucas vezes pronunciou a palavra menstruação; vergonha, certamente, como tantas outras mulheres ainda sentem, tanto que preferem trocar o termo por “naqueles dias”, “minhas regras” ou, o pior de todos, “estar de chico”, cuja expressão tem origem no português lusitano e é sinônimo de sujo, como o período menstrual é considerado por muitos, mesmo em pleno século 21. Exagero?! Não. Basta um rápido olhar para os comerciais de absorventes, que, em sua maioria, insistem em ilustrar o líquido, escarlate, na cor azul. Sorriu ao se lembrar de um anúncio recente de TV, com mulheres pronunciando a palavra MENSTRUAÇÃO, com letras maiúsculas, sem pudor, sem tabu, como deve ser. Bons ventos, pensou.

Agora, diante dessa nova condição, não havia tempo para lamentos. Era preciso combater mazelas com informação, então, abriu sem demora o notebook e começou a pesquisar. Se o ciclo menstrual ainda é encarado como tabu por algumas sociedades, que endemonizam a mulher, a falta dele também é sinônimo de preconceito e exclusão. A nós, mulheres, não nos é lícita a menopausa, como se nossa única função fosse a reprodução, ainda que o sangue expurgado pelo útero seja considerado quase maligno — como na Grécia antiga, por exemplo.

Ampliando a pesquisa, deparou-se com profissionais — de diversos setores — pouco capacitados ou empáticos para lidar com o tema. De acordo com um estudo do Bank of America, de 2023, a menopausa também é um tabu no ambiente corporativo, no qual mulheres relatam não serem acolhidas durante esse momento delicado. Mais da metade (51%) delas no período pré e pós-menopausa disseram que essa condição impactou o desempenho profissional de forma negativa. Além disso, 64% das mulheres sentem falta de alguns benefícios que poderiam ser ofertados pelas empresas para que elas se adaptassem melhor a essa fase. E a situação é especialmente preocupante nos consultórios ginecológicos, onde alguns médicos, incluindo os do sexo feminino — moldados pela cartilha do discurso patriarcal —, dão o diagnóstico a mulheres de forma lacônica e similar a uma pena capital.

Quando uma mulher se assume na menopausa, precisa lidar com olhares autoritários, que querem silenciá-la a qualquer custo. Assim, após ouvir a “sentença punitiva”, era como se para ela não houvesse nada além. Então, a mulher mais uma vez sentiu todo o peso do julgamento da sociedade. O que restaria a ela? Seu companheiro seria solidário nesse processo?

Quantas mulheres, assim como ela própria, sentem-se angustiadas e sem apoio para lidar com as mudanças físicas e emocionais decorrentes da menopausa? Por que elas sempre precisam se justificar, pedir desculpas por todos os males do mundo (como pregam algumas religiões)? Por que não falarmos sobre a questão sem estereótipos, entendendo o processo como parte natural da vida?

Não é de hoje que “varremos” para debaixo do tapete assuntos incômodos, mantendo-os na escuridão. Preferimos ignorá-los, ainda que o nosso silêncio machuque, faça vítimas, dilacere almas. Mulheres não são incentivadas a falar, a expor questões íntimas, sob pena de serem inadequadas, inconvenientes, segundo os ditames estabelecidos pela sociedade. O fato de não compartilharmos nossas incertezas, nossos medos, nossa percepção sobre temas relevantes criam obstáculos intransponíveis para as mudanças necessárias, adoecendo física e mentalmente pessoas. Calar é consentir, é aceitar a exclusão, é chancelar comentários jocosos proferidos nas rodinhas de homens e mulheres.

Mulheres no mundo todo, não importa raça ou etnia, vivenciam os sintomas da menopausa — ressecamento vaginal, falta de libido, sensações térmicas indescritíveis, dores musculares — achando que são problemas só seus, sem, muitas vezes, pasmem, encontrar eco no universo feminino. É como se houvesse um pacto tácito de silêncio, porque, no fundo, temos medo de falar em alto e bom-tom, para não sermos tachadas, equivocadamente, de “velhas”, o que nos conduz a outro tema relevante, o etarismo feminino. São tantas questões a serem discutidas...

Estava tarde, o ocaso se aproximava. Riu sozinha da palavra escolhida. Diferentemente do termo, usado figuradamente para descrever o fim de algo, ela não se sentia assim. Estava viva, tinha planos, porque a vida é feita de ciclos. Não havia por que se envergonhar. Não. Ela não seria assim. Estava decidida a inspirar outras mulheres a se sentirem confortáveis com sua natureza, admirando o longo caminho que percorreram até aqui. Se, em outros tempos, mulheres se calavam para sobreviver, hoje, elas devem falar — consigo, com o outro, com o mundo. 



Tânia Lins - formada em Administração de Empresas e pós-graduada em Língua Portuguesa e Comunicação Empresarial e Institucional. Atua há mais de quinze anos na área editorial, com experiência profissional e acadêmica voltada à edição, preparação e revisão de obras, gerenciamento de produção editorial, leitura crítica e analista literária. Atualmente é coordenadora editorial na Editora Vida & Consciência.


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