Um dos grandes privilégios proporcionados pela evolução tecnológica dos últimos anos está relacionado à comunicação. Durante o período da pandemia de Covid-19, as videoconferências entraram na nossa rotina diária, para falarmos com nossos familiares, para reuniões de trabalho e até mesmo para delegação de funções e tarefas à distância.
Há mais de sete anos atuo em um projeto de saúde na
Amazônia e quando nós não tínhamos comunicação, pelo fato de estarmos meio da
floresta amazônica e a comunicação de urgência era feita por um telefone via
satélite, percebemos a importância de coisas simples no nosso dia a dia e que,
para as pessoas que vivem lá, é algo normal. Jogar dominó, tocar violão, bater
papo, conversar em família.
O que se vê hoje nos centros urbanos é um fenômeno
chamado hiperconectividade. Hiperconectividade é o uso excessivo de tecnologia,
em especial smartphone, tablet e computadores. Eu costumo dizer
que a tecnologia aproximou pessoas distantes e afastou pessoas próximas e
comprometendo relacionamentos.
Existe um conceito que vem sendo discutido há
alguns anos chamado FOMO (Fear of Missing Out ou, em tradução
livre, medo de perder algo ou ficar de fora). E como esse comportamento das
pessoas diante da tecnologia pode ser extremamente comprometedor para as nossas
vidas? Você já pensou, por exemplo, na hora do jantar, colocar uma cesta sobre
a mesa para que todos coloquem seus aparelhos nela e não os usem durante a
refeição?
Meu objetivo neste texto é mostrar os riscos que a
hiperconectividade traz para a saúde. Crianças de até dois anos de idade não
devem ser expostas às telas, principalmente de celulares, por mais que os pais
acreditem que isso acalma. Entretanto, a criança se acalma porque o seu cérebro
entra em alfa. O cérebro humano passou por uma evolução do córtex frontal e
pré-frontal. Se compararmos um símio ao ser humano, a parte frontal da cabeça é
onde atribuímos as nossas funções cognitivas.
Quando começamos a ter o desenvolvimento cerebral
afetado, e o cérebro das crianças quando está numa fase crítica e
desenvolvimento, a exposição excessiva das telas pode afetar áreas relacionadas
à tensão, controle de impulsos, desenvolvimento de habilidades sociais,
problemas de atenção, a constante simulação pode levar a dificuldade de
concentração, atenção sustentada. A luz azul da tela altera o processo de
produção de melatonina, que leva à alteração do sono. Por este motivo que as
crianças tão dormindo mal, por ficarem com o celular na cama.
O problema não é a ferramenta, mas como estamos
utilizando-a, seja computador, tablet ou smartphone. Os
pais precisam aprender a serem mais responsáveis, para evitar os chamados
sintomas do vício. Por exemplo, sintomas comportamentais, mudança de padrão de
sono, isolamento social, falta de interesse em outras atividades, incapacidade
de controlar o uso da tecnologia, ansiedade, irritabilidade, mudança de
desempenho acadêmico e profissional.
Entretanto, vinte anos atrás, acreditávamos que
várias ferramentas iriam ajudar a melhorar a nossa inteligência. E isso não
aconteceu. Infelizmente, não conseguimos prever o que as novas tecnologias que
surgiram gerariam e hoje constatamos que os filhos têm uma inteligência
inferior à dos pais.
Portanto, pais, tenham a disciplina de usar
aplicativos e controlar as horas dos seus filhos no celular. Nós temos o poder
de mudar, usando essas ferramentas tecnológicas para construir relacionamentos,
um mundo melhor, não destruir relacionamentos e o cérebro das pessoas.
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