Embora cerca de 80% das doenças raras tenham causas
genéticas, estudos mostram que mais de 84% das pessoas são portadoras
assintomáticas e sem história prévia da patologia. Isso porque existem
variantes genéticas “de risco” que apenas irão se manifestar quando forem
herdadas por ambos os progenitores, como é o caso das doenças de herança autossômica
recessiva. O casal pode ter conhecimento prévio, antes de uma gestação, para
evitar a maioria desses casos se os progenitores identificarem um risco
aumentado para ter filhos com muitas dessas doenças através de um teste
genético de portador (CGT, do inglês Carrier Genetic Testing), popularmente
conhecido como teste de compatibilidade genética.
A geneticista Taccyanna Mikulski Ali, gerente
científica da Igenomix Brasil, explica que o Teste de Compatibilidade Genética
compara o DNA da mãe e do pai para identificar se eles são portadores de
variantes patogênicas conhecidas em genes em comum para doenças de herança
autossômica recessiva ou ligadas ao cromossomo X. “Ser portador geralmente não
tem implicação clínica direta no casal, mas os futuros filhos podem ser
afetados pela patologia se herdarem ambas as variantes patogênicas de seus
genitores”, ressalta Taccyanna.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) são
conhecidas mais de 6 mil doenças raras, sendo que algumas dessas patologias
ainda são “sem nome”. Mas este valor está crescendo constantemente, pois hoje
existem técnicas diagnósticas cada vez mais eficazes na detecção de condições
até então desconhecidas. Entre as doenças raras já conhecidas, estão Anemia
Falciforme, Doença de Pompe, Hemofilia, Fibrose Cística, Histiocitose,
Hipotireoidismo Congênito, Fenilcetonúria, Galactosemia, Doença de Gaucher
Tipos 1, 2 e 3, Doença de Fabry, Hiperplasia Adrenal Congênita, Homocistinúria,
entre outras.
O PAPEL DOS TESTES GENÉTICOS - Os avanços dos últimos anos em pesquisa científica propiciaram
mudanças no cenário das doenças raras, com aprimoramento do diagnóstico,
tratamentos e até mesmo da prevenção, com potencial de mudar a história natural
de muitas doenças raras. Ter acesso a testes genéticos e acompanhamento
específico é fundamental para reduzir o tempo de espera para o diagnóstico de
doenças raras e evitar as sequelas, muitas vezes irreversíveis, que a demora em
identificar corretamente uma doença provoca. Os resultados dos testes genéticos
podem ser aplicados no diagnóstico e prognóstico, na previsão do risco e até
mesmo na prevenção das doenças raras para as futuras gerações, assim como nas
correlações fenótipo (manifestações clínicas da doença) e genótipo
(características genéticas de um indivíduo).
Somado à indicação do teste de compatibilidade
(CGT), é crescente a recomendação das sociedades médicas internacionais, como o
ACOG (Colégio Americano de Obstetrícia e Genética), de realizar a triagem de
portadores em casais que estão planejando a gravidez. Com o sequenciamento de
nova geração (NGS) essas análises vêm ganhando agilidade e reduzindo preço.
“Com a detecção do risco aumentado, em muitos casos é possível prevenir a
passagem da variante genética que pode causar a doença nas futuras gerações”,
comenta a geneticista Larissa Antunes, assessora científica da Igenomix Brasil.
Para tanto, acrescenta Larissa, o casal precisará realizar uma Fertilização in
Vitro (FIV) com análise genética de biópsia de embriões (teste PGT-M).
DOENÇAS RARAS EM NÚMEROS – Atualmente, as doenças raras acometem mais de 300 milhões de pessoas,
o que representa cerca de 5% da população mundial. Existem mais de 6 mil
doenças raras identificadas. Uma doença é considerada rara quando ela afeta
apenas uma entre 2 mil pessoas. No conjunto, o número de pessoas que vivem com
uma destas doenças raras é equivale à população dos Estados Unidos, o terceiro
país mais populoso do planeta.
A cada ano, cerca de 250 novas doenças raras são
descritas. Uma em cada vinte pessoas viverá com uma doença rara em algum
momento de sua vida, mas 70% das doenças raras de origem genética começam na
infância. Um dos maiores gargalos está no atraso na investigação: um paciente
leva em média quatro anos para obter um diagnóstico.
As doenças raras são patologias crônicas e muitas
vezes incapacitantes, que apresentam altas taxas de morbidade e mortalidade.
Para preservar a qualidade de vida, os pacientes requerem cuidados integrais e
multidisciplinares, nos quais participam o pediatra ou médico de família,
especialistas que lidam com problemas clínicos específicos, enfermeiros,
fisioterapeutas, profissionais de serviços sociais e de apoio psicológico.
Cerca de 30% dos pacientes acometidos pelas doenças raras morrem
antes dos cinco anos de idade.
PRINCIPAIS GARGALOS - A Igenomix Brasil alerta que, entre as dificuldades encontradas para quem tem uma doença rara estão a dificuldade para obter o diagnóstico correto; opções de tratamento limitadas ou nulas, pouca ou nenhuma pesquisa disponível sobre sua doença específica, dificuldade em encontrar médicos ou centros de tratamento com experiência no tratamento de uma doença específica; em grande parte dos casos, não há tratamentos ou eles são muito caros; assim como a escassez de serviços médicos, sociais, assistenciais ou financeiros especializados.
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