Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira abre em 16 de dezembro com cerca de 150 obras produzidas por mais de 60 artistas de diferentes períodos e regiões do país, a partir do mapeamento do Projeto Afro;
Em cinco eixos,
mostra destaca nomes centrais da arte afro-brasileira: Arthur Timótheo da
Costa, Maria Auxiliadora, Rubem Valentim e Mestre Didi e Lita Cerqueira;
Exposição pode
ser conferida gratuitamente até 18 de março 2024
Sem título, 2023 | Kika Carvalho Crédito: cortesia Portas Vilaseca Galeria |
Toda história
tem mais de um lado. E só um lado, o do branco na arte, vem sendo
incansavelmente e repetidamente contado ao longo do tempo nos livros, nas salas
de aula e nas exposições. Agora, uma expressiva coletânea de obras de artistas
negros ganha holofotes em uma exposição inédita, superlativa e reveladora no
Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo(CCBB).
Com
patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset Management, Encruzilhadas da Arte
Afro-Brasileira, aberta ao público a partir de 16 de dezembro,
reúne obras produzidas por 61 artistas negros, de diferentes regiões, nos
últimos dois séculos no Brasil. São cerca de 150 pinturas, fotografias,
esculturas, instalações, vídeos e documentos abordando uma variedade de
temáticas, técnicas e descritivos, distribuídos pelos cinco andares do CCBB.
Para conferir na íntegra, a visitação tem duração média de duas horas.
“O propósito
da mostra é um diálogo transversal e abrangente da produção artística
afro-brasileira no país”, explica o curador Deri Andrade, pesquisador,
jornalista, curador assistente no Instituto Inhotim e criador da plataforma
Projeto Afro (projetoafro.com)
de mapeamento e difusão de artistas negros/as/es da cultura afro-brasileira.
A exposição
é um desdobramento do Projeto Afro, em desenvolvimento desde 2016 e lançado em
2020, que hoje reúne cerca de 300 artistas catalogados na plataforma. São nomes
que abarcam um vasto período da produção artística no Brasil, do século 19 até
os contemporâneos nascidos nos anos 2000. “A exposição traz outra referência e
um novo olhar da arte nacional aos visitantes”, afirma o curador. “A história
da arte do Brasil apaga a presença negra e o artista negro do seu referencial”,
completa.
O trabalho
de pesquisa por trás do projeto e da exposição nasceu do desejo e, na
sequência, da frustração de Andrade ao não encontrar muitas referências em
torno da arte afro-brasileira no Brasil. Ao se debruçar em publicações,
materiais de outras exposições (a exemplo de várias com curadoria de Emanoel
Araujo nos anos 90, que mais tarde viria a se tornar diretor da Pinacoteca do
Estado de São Paulo) e inúmeras pesquisas para o mapeamento de artistas negros
e suas obras pelo Brasil, Deri Andrade iniciou um minucioso projeto de
catalogação de uma arte que, por vezes, foi marginalizada pela sociedade.
“Ser artista
acho que já é difícil, ser artista negro no Brasil é ainda um pouco mais
complicado”, afirmou o artista Sidney Amaral (São Paulo, SP, 1973/2017), em
2016, ao ser entrevistado pelo projeto AfroTranscendence. Desde a conversa,
esse pensamento acompanha Andrade, que dedica parte de seu tempo a conhecer e
investigar a produção artística de autoria negra no Brasil.
Afetocolagens, 2022 Silvana Mendes Foto: divulgação |
Uma exposição em cinco eixos
Cinco eixos,
cinco artistas. Assim foi desenhada a exposição que, a partir de cinco nomes
centrais, revela diferentes épocas e discussões, contextos, gerações e regiões.
De grande abrangência, a mostra percorre do período pré-moderno à
contemporaneidade e discute eixos temáticos em torno de artistas negros
emblemáticos: Arthur Timótheo da Costa (Rio de Janeiro, RJ, 1882-1922), Lita
Cerqueira (Salvador, BA, 1952), Maria Auxiliadora (Campo Belo , MG, 1935 - São
Paulo, SP, 1974), Mestre Didi (Salvador, BA, 1917- 2013) e Rubem Valentim
(Salvador, BA, 1922- São Paulo, SP, 1991).
Cada um dos
nomes acima lidera, respectivamente, um eixo: Tornar-se, Linguagens,
Cosmovisão (sobre engajamento político e direitos), Orum
(sobre as relações espirituais entre o céu e a terra, a partir do fluxo entre
Brasil e África) e Cotidianos (discussão sobre
representatividade).
A exposição
conta ainda com cinco trabalhos comissionados assinados por Gustavo Nazareno
(Três pontas/MG), Lídia Lisboa (Guaíra/PR), Elidayana Alexandrino (Coremas/PB),
Helô Sanvoy (Goiânia/GO) e Rafael Bqueer (Belém/PA). A primeira obra da coleção
do Projeto Afro, do artista Vitú de Souza (Belo Horizonte/MG), também compõe a
mostra.
Figuras centrais
No primeiro
eixo, o público confere a arte de Arthur Timótheo da Costa, cuja produção
transita entre os séculos 19 e 20, expõe a relação do artista com seu ateliê,
com a pintura, a fotografia e com artistas que se autorretratam. Seus traços
revelam certa dramaticidade e evoluem para uma obra pré-modernista.
Rubem
Valentim, homenageado na seção 2, é considerado um mestre do concretismo
brasileiro. Propõe uma discussão sobre forma e elementos religiosos. Iniciou a
carreira produzindo de natureza-morta a flores e paisagens urbanas e enveredou
para o uso de símbolos e emblemas geométricos de religiões de base africanas.
O eixo 3 é
dedicado à Maria Auxiliadora, que encanta pelo uso das cores em seus retratos,
autorretratos e festas religiosas. Mas não só. Sua obra carrega uma discussão
mais política, engajada no debate sobre moradia, territórios, segurança
alimentícia e direitos da população negra.
Mestre Didi,
na seção 4, foi artista e sacerdote, revelando muito da espiritualidade e da
relação Brasil/África em seus trabalhos. Sua obra também é marcada pelo uso de
materiais naturais como búzios, sementes, couro e folhas de palmeira e trata
bastante das afro-religiosidades a partir das relações entre Brasil e África.
No último
eixo, a artista central é Lita Cerqueira, única ainda viva dentre os cinco
nomes-chave da exposição. Aos 71 anos se consagra como uma das mais importantes
representantes da fotografia brasileira, com reconhecimento internacional.
Iniciou a carreira capturando imagens de festas populares da Bahia, da capoeira
e detalhes da arquitetura do centro histórico de Salvador. Logo depois,
enveredou para a fotografia cênica, realizando importantes registros de músicos
de sua época, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa.
Em cartaz
até 18 de março de 2024, Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira
oferecerá ainda laboratórios e oficinas e contará com um espaço próprio do
Projeto Afro, no qual o público poderá consultar materiais de pesquisa e
acessar a plataforma. Fique atento à programação do CCBB São Paulo, em
bb.com.br/cultura.
Para o Centro
Cultural Banco do Brasil, receber a exposição Encruzilhadas da
Arte Afro-Brasileira, valida seu compromisso de ampliar a conexão
do brasileiro com a cultura, por meio de um projeto que reafirma nossas origens
e ancestralidade, suas narrativas e símbolos, a decolonização, dentre outras
questões que oferecem caminhos para compreender a construção contemporânea de
identidades. A mostra ainda rompe paradigmas sobre o próprio fazer artístico e
apresenta trabalhos que expressam pluralidade cultural, diversidade e a riqueza
de manifestações regionais brasileiras, proporcionando diálogos relevantes e
trocas significativas com público, artistas, mercado e sociedade.
Sobre o curador
Deri
Andrade, alagoano, vive entre São Paulo e Belo Horizonte, é pesquisador,
curador e jornalista. Mestrando em Estética e História da Arte na linha de
pesquisa História e Historiografia da Arte (Programa de Pós-Graduação
Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo -
USP), especialista em Cultura, Educação e Relações Étnico-raciais (CELACC -
Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP) e
formado em Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo (Centro Universitário
Tiradentes - Unit). Interessa-se pelo conceito de arte afro-brasileira, investigando
a correlação entre conteúdo e forma presente nas poéticas de artistas
negros/as/es. Desenvolveu a plataforma Projeto Afro, resultado de um mapeamento
de artistas negros/as/es em âmbito nacional, por entender que a arte é um
importante instrumento catalisador na luta antirracista. Tem passagens por
instituições culturais, como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, a Unibes
Cultural e o Instituto Brincante. Atualmente é Curador assistente no Instituto
Inhotim.
As cerca de 150 peças da mostra contam com
trabalhos de
Adriano Machado (Feira de Santana/BA), Ana Lira (Caruaru/PE), André Vargas
(Cabo Frio/RJ), Andréa Hygino (Rio de Janeiro/RJ), Arthur Timótheo da Costa
(Rio de Janeiro,/RJ), Augusto Leal (Simões Filho/BA), Castiel Vitorino
Brasileiro (Vitória/ES), Davi Cavalcante (Aracaju/ SE), Eder Oliveira
(Timboteua/PA), Elian Almeida (Duque de Caxias/RJ), Elidayana Alexandrino
(Coremas/PB), Emanoel Araújo (Santo Amaro da Purificação/BA), Flávio Cerqueira
(São Paulo/SP), Gê Viana (Santa Luzia/MA), Gleyson Borges (Maceió, AL),
Guilherme Almeida (Salvador/BA), Guilhermina Augusti (São Paulo/SP), Gustavo
Nazareno (Três pontas/MG), Hariel Revignet (Goiânia/GO), Helô Sanvoy
(Goiânia/GO), Josi (Itamarandiba/MG), Kika Carvalho (Vitória/ES), Lia Letícia
(Viamão/RS), Lídia Lisboa (Guaíra/PR), Lita Cerqueira (Salvador/BA), Luna
Bastos (Teresina/PI), Manauara Clandestina (Manaus/AM), Marcel Diogo (Belo
Horizonte/MG), Marcela Bonfim (Porto Velho/RO).
Marcus
Deusdedit (Belo Horizonte/MG), Maria Auxiliadora (Campo Belo/MG), Matheus Ribs
(Rio de Janeiro/RJ), Mauricio Igor (Belém/PA), Mestre Didi (Salvador/BA),
Mika (Teresina/PI), Milena Ferreira (Salvador/BA), Mônica Ventura (São
Paulo/SP), Moisés Patrício (São Paulo/SP), Mulambö (Saquarema/RJ), Natan Dias
(Vitória/ES), Nay Jinknss (Belém/PA), Panmela Castro (Rio de Janeiro/RJ), Paty
Wolff (Cacoal/RO), Pedra Silva (Fortalez/CE), Pedro Neves (Imperatriz/MA),
Priscila Rezende (Belo Horizonte/MG), Rafael Bqueer (Belém/PA), Renata Felinto
(São Paulo/SP), Ros4 Luz (Gama/DF), Rubem Valentim (Salvador/BA), Sidney Amaral
(São Paulo/SP), Silvana Mendes (São Luis/MA), Tercília Dos Santos
(Piratuba/SC), Thiago Costa (Bananeiras/PB), Tiago Sant’Ana (Santo Antonio de
Jesus/BA), Ueliton Santana (Rio Branco/AC), Victor Fidelis (São Paulo/SP), Vitú
de Souza (Belo Horizonte/MG), Washington Silvera (Curitiba/PR), William Lima
(Will) (Belo Horizonte/MG), Yhuri Cruz (Rio de Janeiro/RJ).
SERVIÇO
Exposição: Encruzilhadas da Arte
Afro-Brasileira
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São
Paulo
Período: 16/12/2023 a 18/03/2024
Ingressos gratuitos:
disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB SP.
*A partir de 08/12
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
Histórico – SP
Funcionamento: aberto todos os
dias, das 9h às 20h, exceto às terças-feiras. O CCBB não funcionará em 24, 25,
26 e 31 de dezembro e nos dias 1 e 2 de janeiro de 2024.
Informações: (11) 4297-0600
Estacionamento: O CCBB possui
estacionamento conveniado na Rua da Consolação, 228 (R$ 14 pelo período de 6
horas - necessário validar o ticket na bilheteria do CCBB). O traslado é
gratuito para o trajeto de ida e volta ao estacionamento e funciona das 12h às
21h.
Transporte público: O CCBB fica a 5
minutos da estação São Bento do Metrô. Pesquise linhas de ônibus com embarque e
desembarque nas Ruas Líbero Badaró e Boa Vista.
Táxi ou Aplicativo: Desembarque na Praça
do Patriarca e siga a pé pela Rua da Quitanda até o CCBB (200 m).
Van: Ida e volta
gratuita, saindo da Rua da Consolação, 228. No trajeto de volta, há também uma
parada no metrô República. Das 12h às 21h.
Entrada acessível: Pessoas com deficiência ou
mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem
utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal.
bb.com.br/cultura
instagram.com/ccbbsp
| facebook.com/ccbbsp
E-mail: ccbbsp@bb.com.br
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