Vivemos cenários existenciais marcados pelo aceleramento dos processos, muitas vezes prescindindo das pessoas, do tempo, dos projetos que cada um de nós carrega em si. E, em um movimento automático, esse modus operandi é passado às novas gerações, acelerando os processos também de nossas crianças e adolescentes. Cenários, pessoas, velocidade, ansiedade, resultados... precisamos respirar e nos perguntar sobre saúde mental.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
“saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas
próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e
contribuir com a sua comunidade”. E, nessa miríade de possibilidades, há
algumas situações em que as pessoas, inclusive as mais jovens, se sentem bem o
suficiente para lidar com as adversidades e imprevisibilidades de seu
cotidiano, onde potência e fragilidade se encontram e diante das quais a arte
de planejar pode fazer sentido e trazer benefícios.
Não se tem aqui pretensão alguma de estabelecer um
modo de vida ideal. Pelo contrário, trata-se apenas do registro de um ponto de
partida, entre tantos possíveis, para a reflexão sobre essa questão sob a
perspectiva de sua dimensão social. Pensada, portanto, com base no estar bem
consigo mesmo e com outros, na habilidade de discernir e contemporizar as
exigências da própria vida, lidando de forma proativa com suas emoções nos
contextos existenciais desafiantes em que vive e reconhecendo suas
potencialidades e limites diante dessas situações.
Nesse contexto, podemos falar sobre a importância
do planejamento como “ferramenta” de busca de equilíbrio, de “bússola” a
apontar direções que contribuam com esse estado de bem-estar. Entendemos que
planejar, com base no propósito e no essencial, implica colocar-se em
dinamismos intra e intersubjetivos que demandam processos de ruptura e
comprometimento. Mas, também, em processos objetivos e pragmáticos de escolha,
foco e comunicação assertiva.
É fundamental saber de onde se está saindo, qual
caminho tomar e para onde se vai. E, para isso, é preciso romper com o estar
disponível para tudo, a qualquer momento. Essa é uma condição imprescindível
para estar disponível para o que é essencial e necessário. Perdido nas teias
criadas por todos os “sim” apressados, perde-se o foco e o cansaço é
inevitável. Ruptura é um passo essencial para reconectar-se consigo mesmo e com
os que estão à sua volta. É condição para “contribuir com a sua comunidade”.
Comprometer-se com o essencial implica ainda
simplificar as narrativas e entregas de tal forma que se torne possível escutar
e ser escutado por seus interlocutores habituais e por outros, novos.
Comprometer-se é prometer juntos, criar cumplicidades, estabelecer vínculos,
pactuar. Foco, simplicidade e compromisso permitem caminhar juntos, acolher
diversidades, “recuperar-se do estresse do rotineiro”, compartilhar, sem
sobrecarga.
Planejar implica também discernir e escolher. Sem
discernimento corremos o risco de continuar fazendo muito do mesmo, com pouca
ou nenhuma efetividade. Isso nos faz sentir assoberbados de tarefas, presos ao
ordinário das rotinas.
Discernir nos permite escolher e a escolha brota da
priorização, da concentração de energias no essencial. Isso nos dá o direito à
ausência, o exercício da arte de estar indisponível para tudo aquilo que não é
o essencial. Planejar, discernir e escolher nos permitem desenvolver e ser
produtivos.
Enfim, buscar o estar bem e o bem-estar implica
engendrar as condições subjetivas e objetivas que permitam-nos engajar na
realização de projetos enquanto possibilidades de chegar onde queremos, com
consciência das condições de onde estamos partindo, do porquê estamos nos
colocando a caminho, da bagagem essencial que decidimos carregar e da escolha
dos melhores trajetos para atingir nossos objetivos, juntos e bem.
Flávio de Souza -
coordenador pedagógico do Sistema Positivo de Ensino
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