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sábado, 21 de outubro de 2023

Câncer e a solidão feminina: Quando os parceiros se vão

Psicóloga Ana Streit comenta a importância da rede de apoio e da psicoterapia em momentos frágeis como o abandono na doença


O amor e o compromisso representam pilares de apoio para qualquer pessoa, especialmente para mulheres que enfrentam a dolorosa batalha contra o câncer. Ensinadas desde a infância a cuidar e contar com o apoio dos seus parceiros em momentos frágeis, é desolador quando isso não acontece. Foi o caso da cantora Preta Gil, diagnosticada com câncer de intestino, que precisou lidar com a traição e o término do casamento, durante o seu tratamento.  Essa é a realidade de muitas outras mulheres, prova disso são os dados da Sociedade Brasileira de Mastologia, que revela 70% das mulheres diagnosticadas com câncer lidam com o abandono do parceiro durante o tratamento.

Quando a gente olha para essa porcentagem de mulheres que são deixadas sozinha para enfrentar um câncer, é chocante e entristecedor pela gravidade. De acordo com a psicóloga Ana Streit isso acaba deixando explícito o papel da mulher de servir, de cuidar e revela o contexto machista, que ainda, vivemos. “A maioria das vezes não há reciprocidade desse cuidado por parte do parceiro e isso traz à tona a má qualidade da relação, que talvez antes estivesse camuflada. Em momentos difíceis da vida temos a oportunidade de reavaliar as relações e identificar quem pode ser verdadeiramente confiável, cuidadoso e companheiro”, diz.

Ana Streit revela que o diagnóstico de câncer desencadeia diversas reações e, em muitos casos, pode resultar em efeitos traumáticos que vão além da enfermidade. “A doença causa ansiedade e baixa autoestima, já que muitas mulheres em tratamento perdem o cabelo, sobrancelha, e às vezes até o seio, como acontece em alguns casos com o câncer de mama. Nesse momento, o que a mulher mais precisa é de apoio, principalmente do parceiro. O bem-estar emocional dessa paciente pode, inclusive, minimizar quadros depressivos e ajudar na adesão ao tratamento”, explica.

A rede de apoio é um fator que não pode faltar em um tratamento de câncer. E ela pode ser composta por amigos, parentes, grupos de apoio e profissionais de saúde. Essa rede não vai oferecer apenas suporte emocional, mas também prático, ajudando as mulheres a lidar com os desafios físicos mentais da doença. “Essa rede de apoio pode ajudar a reduzir o sentimento de solidão, fortalecer a resiliência das mulheres e auxiliá-las na jornada da recuperação. A troca de experiências e apoio mútuo nesse contexto pode ser um catalisador para o enfrentamento do câncer. A psicoterapia também pode fazer parte desse apoio, com ajuda profissional de um psicólogo a paciente pode se reerguer, reestruturar as suas forças e de fato reconstruir a sua história, e construir novas relações”, finaliza Ana, Mestre em Psicologia e Saúde.

 

Ana Streit - psicóloga clínica, Mestre em Psicologia e Saúde pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), e Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Além disso, a profissional é professora, supervisora e terapeuta do esquema, já em processo de Certificação Internacional em Terapia do Esquema pela International Schema Therapy Society (ISST). A profissional gaúcha escreve e fala sobre essência e conexões saudáveis no Instagram (@anacstreit) e no Youtube (AnaStreit).


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