Após 14 dias, as feridas do animais tratados com o hidrogel
contendo AnxA12-26 já estavam completamente
cicatrizadas (imagem: acervo dos pesquisadores)
Em estudo com camundongos que tinham um quadro semelhante ao diabetes tipo 1, produto contendo a proteína anti-inflamatória anexina A1 acelerou a cicatrização completa da pele
Pesquisadores brasileiros
desenvolveram um hidrogel de baixo custo com ação anti-inflamatória que poderá,
no futuro, ajudar a tratar feridas crônicas na pele, como as que costumam
acometer pessoas com diabetes. Resultados promissores de testes em animais
foram divulgados na
revista Biomedicine & Pharmacotherapy.
De acordo com a Federação
Internacional de Diabetes, o Brasil é o sexto país em número de pessoas com a
doença, que atingiu proporções epidêmicas e se tornou a quinta causa de morte
no mundo. São 17,7 milhões de indivíduos sofrendo diariamente com as alterações
metabólicas causadas pelo comprometimento da secreção e ação da insulina, como
nefro e neuropatias e dificuldades na cicatrização de feridas. Estima-se que um
entre cinco pacientes com diabetes possa desenvolver feridas crônicas, como a
úlcera do pé diabético.
Em pessoas saudáveis, lesões
cutâneas são imediatamente seguidas de uma sequência de eventos que levam à
cicatrização: o sangramento é controlado pela agregação plaquetária,
proporcionando uma estrutura de suporte para a fixação e proliferação celular,
ocorre formação de novos vasos sanguíneos e deposição de colágeno. Para quem
sofre de diabetes, no entanto, o processo é muito mais complicado. A
hiperglicemia aumenta a produção de substâncias derivadas do oxigênio
(oxidantes) e, ao contrário da cicatrização normal, as feridas diabéticas são
caracterizadas principalmente pela resposta inflamatória exacerbada e o
processo da formação de vasos sanguíneos prejudicado.
Recentemente, hidrogéis
biológicos têm sido empregados com sucesso para acelerar o processo de
cicatrização de feridas por conta do ambiente úmido e estéril que proporcionam.
No trabalho apoiado pela FAPESP (projetos 19/19949-7, 16/02012-4 e 15/12411-0) e
conduzido durante o doutorado de Monielle Sant'Ana Leal, pesquisadores das
universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal de São Paulo (Unifesp)
desenvolveram uma fórmula à base da proteína anexina A1, cujo envolvimento na
regulação da inflamação e da proliferação celular já havia sido comprovado em estudos
prévios do mesmo grupo. No artigo mais recente, o grupo descreve que o
tratamento pode modular o microambiente da lesão, favorecendo a regeneração do
tecido.
O efeito do hidrogel contendo
AnxA12-26 (os aminoácidos que vão do número dois ao 26 na cadeia de peptídeos
que forma a proteína) foi avaliado em testes com camundongos que tiveram um
quadro semelhante ao do diabetes tipo 1 induzido. Observou-se nos animais uma
diminuição de células inflamatórias três dias após a indução das lesões. Após
14 dias, as feridas já estavam completamente cicatrizadas. A título de
comparação, os animais que não passaram por nenhum tratamento e que receberam
aplicação apenas do hidrogel apresentaram as características comuns da fase
aguda da inflamação, com lesões mais intensas no terceiro dia.
Análises mostraram que o
tratamento promoveu melhora na regeneração tecidual pela proliferação de
queratinócitos (células com papel fundamental na restauração da homeostase da
pele), redução de macrófagos (células-chave no processo de cicatrização) e
aumento do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF, que induz o
crescimento de vasos sanguíneos).
Já um ensaio de
citotoxicidade in vitro (feito para avaliar como as células da
pele reagem ao material) assegurou a biocompatibilidade do produto, sugerindo a
segurança para aplicação tópica.
“Nosso hidrogel é altamente
absorvente, mantém o meio úmido ideal para a cicatrização e mostra eficiência
para levar ao processo de cicatrização completa da lesão, com redução de tempo
de cicatrização, inclusive”, afirma Sonia Maria Oliani,
pesquisadora do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
(Ibilce-Unesp) e coordenadora do estudo. “Trata-se de uma opção eficaz e que
pode ampliar o arsenal terapêutico para o tratamento de feridas diabéticas.”
Economia
Outras vantagens do hidrogel
desenvolvido pelos pesquisadores paulistas são a facilidade de produção e o
baixo custo – este último é um fator fundamental a ser considerado, uma vez que
os gastos médicos anuais com diabetes na América do Sul e Central ultrapassam
US$ 65,3 bilhões.
O produto também tem potencial
para ser usado com outras finalidades. No momento, os pesquisadores testam seu
efeito no tratamento de lesões na mucosa bucal.
O artigo Annexin A12-26
hydrogel improves healing properties in an experimental skin lesion after
induction of type 1 diabetes pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0753332223010211?via%3Dihub.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/hidrogel-produzido-por-cientistas-da-unesp-e-da-unifesp-melhora-a-cicatrizacao-de-feridas-diabeticas/50027
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