TALVEZ
VOCÊ SEJA UM JOB-HOPPER!
Todo mundo conhece aquela
pessoa que não para em emprego nenhum: “sabe o fulano que trabalhava no
marketing da Billy Beans? Não está mais lá. Foi para a Marezzo!”,
“você viu que o beltrano pediu penico do Banco do Fuzil? Foi dar close
lá no Italú!” ou, ainda, “e sicrano, rei dos rumores dos
corredores? Passou no “RH” do Magazine Juíza e tchau, tchau, Cacau!
Curioso, não? De acordo com
uma pesquisa publicada no jornal norte-americano NBC News, este comportamento
atende pelo nome científico de job-hopping e ele chegou para ficar. No
levantamento, 64% dos trabalhadores entrevistados disseram que não pensariam
duas vezes na hora de trocar um emprego por outro, dado que cresceu 22% no
período de 2019 a 2023.
Quando se olha para a
geração Y, faixa etnográfica que corresponde aos indivíduos nascidos entre os
anos de 1980 e 1996, os indicadores são ainda mais alarmantes. Para eles, caso
tivessem recebido a mesma proposta laboral mencionada anteriormente, 75%
deixariam imediatamente o cargo em que exercem as suas atividades, saltando
para outra posição.
Uma vez que um novo
funcionário leva cerca de 6 meses para alcançar a máxima performance dentro de
uma empresa, a prática de pular de galho em galho tem sido vista com maus olhos
pela área de recursos humanos, afinal, os líderes precisam ter a certeza de que
o contratado remará por muitos anos junto à sua equipe antes de deixar o barco
organizacional à deriva.
Então, diante do problema, o
que fazer? Em primeiro lugar, é preciso entender o que causa o fenômeno, para
depois traçar medidas combativas eficazes. Para a psicologia profunda, a
insatisfação crônica com a realidade que se apresenta ao sujeito hipermoderno é
a raiz desta atitude, levando as pessoas a agirem por um impulso que se
sustenta na fuga do desprazer.
Na prática, é como se os
trabalhadores não conseguissem suportar a sensação de insatisfação por muito
tempo. Assim, quando aquela euforia relacionada à conquista de um novo emprego
passa, a mente do job-hopper entra em um estado melancólico, projetando
no mundo externo e, principalmente, no atual ofício, todas as suas questões
internas ainda pouco resolvidas.
Deste modo, na sentença
linguística “esta empresa não reconhece o meu valor”, é o indivíduo que
desvaloriza as coisas que faz, não vendo que as funções exercidas por ele são,
na verdade, motivo de felicidade ininterrupta. Como consequência, para fugir da
responsabilidade pela própria desgraça, ele joga o seu desvalor na firma, que
passa a ser a culpada pelo seu fracasso.
E o que dizer da frase
“aqui, é sempre assim: não muda”? Típica de um “saltador de emprego” desgostoso
e venenoso, ladrar por aí que as coisas não se modificam de acordo com a
própria vontade só deflagra uma coisa. É o funcionário que não se disponibiliza
à mudança, pois, se quisesse, já teria dado um jeito de mudar a sua atitude:
falando menos e fazendo bem mais.
A “nesta empresa, para
crescer, só fazendo o teste do sofá” é outra pérola comum aos pula-pula
corporativos. Neste exemplo, o que a expressão disfarça é a inveja de quem
fala. Uma vez que o dito cujo não corre atrás do que precisa ser feito, nem tem
a perseverança para chegar ao topo, melhor mesmo é difamar quem está disposto a
ultrapassar a linha de chegada.
Há, ainda, os que apostam em
outro tipo de lamúria: “o RH abriu a vaga que eu queria, mas eu aposto que ela
será preenchida pelo filho do diretor”. Neste exemplo, o que o cidadão aponta
no outro são as suas próprias partes boas, adotando uma espécie de
autossabotagem que direciona para si mesmo a raiva que ele não conseguiu
descarregar no mundo à sua volta.
Também é preciso cuidado
para quem está próximo de quem fala: “se eu estivesse no cargo de Joãozinho,
aí, sim, teríamos resultado”. Despido de nenhum disfarce para a sua maldade,
esta espécie de ser humano ultrapassou o limite da ética empresarial. Logo,
caso a insatisfação não passe rápido, é provável que ele comece a “pular”.
Desta vez, para a fila do desemprego.
Por fim, falar de job-hopping
é falar de vazio. Por conta disso, compete ao empregado parar e perguntar a si
mesmo: “existe um motivo concreto que faça com que eu queira mudar de
emprego?”. Se a resposta for sim, vá em frente, pois o mercado está cheio de
oportunidades. Agora, se a resposta for não, procure um bom terapeuta e encare
de frente as suas verdades.
Renan Cola - psicanalista
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