Pesquisas científicas de vanguarda tornam tratamentos oncológicos mais eficientes no controle dos tumores, além de trazer qualidade de vida para os pacientes
A análise do Peso
Global do Câncer, publicado no final de 2021, com
dados de 204 países e territórios, incluindo o Brasil, estima mais de 250
milhões de anos de vida perdidos por incapacidade devido ao câncer em 2019.
Desses, 45,9 milhões foram perdidos por causa de câncer de traqueia, brônquios
e pulmão, que continua sendo o tipo mais comum, exceto o câncer de pele do tipo
não melanoma. O indicador utilizado é o DALY (Disability Adjusted Life Years -
anos de vida perdidos ajustados por incapacidade), que mede, simultaneamente, o
efeito da mortalidade e dos problemas de saúde que afetam a qualidade de vida
dos indivíduos.
Apesar dos números alarmantes, há boas
notícias que devem promover a melhora desse cenário: graças ao avanço
proporcionado pelas pesquisas científicas nos últimos anos, os tumores de
pulmão atualmente contam com um arsenal poderoso, que, somados à quimioterapia,
radioterapia e outras condutas de cuidado, tem inovado o combate a esse tipo de
câncer.
A Imunoterapia está entre as mais
recentes e é apontada como uma aliada valiosa e eficaz em muitos casos, podendo
ser combinada a outras alternativas terapêuticas. “É um tratamento que faz uso
de medicamentos biológicos avançados para estimular o sistema imunológico do
paciente a reconhecer e destruir células cancerígenas de forma mais eficaz”,
explica Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e Presidente do Instituto
Oncoclínicas.
Outra novidade que vem mudando a
maneira de tratar o câncer é a oncologia de precisão. “Técnicas de análise
molecular são utilizadas para identificar as alterações genéticas - que podem
ser hereditárias - das células cancerígenas e compreender como elas se
comportam e, partir daí, avaliar as possibilidades de atingir especificamente
essas alterações para controlar o tumor”, diz o médico. “A medicina de precisão
é animadora, visto que cada tumor é diferente do outro e apenas conhecendo com
precisão a célula cancerígena o profissional de saúde conseguirá especificar o
melhor tratamento para aquele caso”, afirma.
Pesquisa
continuada
Um estudo canadense recente avaliou o efeito da terapia direcionada
e imunoterapia nos resultados avançados do câncer de pulmão de células não
pequenas na sobrevida dos pacientes de um programa de tratamento de câncer (BC
Câncer) que atende a uma população de 5,1 milhões de residentes na Colúmbia
Britânica (BC). Com base em relatórios para o Registro Canadense de Câncer e a
análise da Unidade de Vigilância e Resultados do Câncer do BC, aproximadamente
80% dos pacientes com este tipo de câncer avançado são encaminhados para o
programa. O exame dos resultados de sobrevida pela exposição a diferentes
terapias sistêmicas mostrou claramente que a terapia direcionada e a
imunoterapia, respectivamente, foram superiores à quimioterapia isolada.
Prêmio Nobel de
Medicina
O tratamento imunoterápico recebeu dedicatória do Prêmio Nobel de Medicina em 2018 e, desde então, se estabeleceu como caminho importante para pacientes com câncer de pulmão, inclusive aqueles que apresentam metástases, por seu potencial de ação em tumores mais complexos, com um acúmulo de mutações genômicas alto. Dados apresentados na Associação Americana de Pesquisa do Câncer, em Chicago, no mesmo ano, já mostravam a imunoterapia como a responsável por maior qualidade de vida e probabilidade de sobrevivência, modificando de forma imediata as práticas médicas no tratamento de algumas formas da doença desde então.
Segundo Carlos Gil Ferreira, nem todos
os casos de câncer podem ser tratados com uso de imunoterapia, mas estudos para
descoberta de novas drogas imunoterápicas seguem em curso, o que permitirá que
cada vez mais pessoas sejam beneficiadas. Atualmente, além da indicação para
alguns tumores de pulmão, os imunoterápicos podem ser adotados para tratar
cânceres de bexiga, rins, cabeça e pescoço, melanoma e linfoma de Hodgkin.
Estudos clínicos apontam ainda para avanços consideráveis em alternativas de
uso para subtipos específicos de câncer de mama e colorretal.
Dr. Carlos Gil
Ferreira - graduação
em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1992) e doutorado em
Oncologia Experimental - Free University of Amsterdam (2001). Foi pesquisador
Sênior da Coordenação de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) entre
2002 e 2015, onde exerceu as seguintes atividades: Chefe da Divisão de Pesquisa
Clínica, Chefe do Programa Científico de Pesquisa Clínica, Idealizador e
Pesquisador Principal do Banco Nacional de Tumores e DNA (BNT), Coordenador da
Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos Anticâncer (REDEFAC/SCTIE/MS) e
Coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC/SCTIE/MS).
Desde 2018 é Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo
Oncoclínicas.
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