De acordo com
estudo realizado na Fundação Valle del Lili, na Colômbia, com apoio de
pesquisadores do Hcor, técnica também reduz necessidade de suporte mecânico
ventilatório invasivo
Um estudo conduzido pelos pesquisadores do
Departamento de Medicina Intensiva da Fundação Valle del Lili, na Colômbia, com
apoio técnico do Instituto de Pesquisa do Hcor – hospital multiespecialista de
São Paulo – concluiu que o uso de oxigenoterapia de alto fluxo através de cânula
nasal diminui o tempo necessário para recuperação do paciente.
A pesquisa, conduzida pelo Dr. Gustavo A.
Ospina-Tascón, intensivista da UTI da Fundação Valle del Lili, publicada em uma
das mais importantes revistas médicas do mundo, o Journal of the American
Medical Association (JAMA), nesta terça-feira (7), também
demonstrou que a técnica reduz a probabilidade de ele ser submetido à intubação
e conexão com ventilação mecânica invasiva.
No que diz respeito ao tempo de recuperação
clínica, o intervalo caiu de 14 para 11 dias, nos pacientes que receberam a
oxigenoterapia de alto fluxo. Já o risco de intubação teve queda de 51% para
34% entre um grupo de participantes e outro, sendo o que recebeu a
oxigenoterapia de alto fluxo o maior beneficiado.
De acordo com Ospina, o ensaio clínico buscou
comparar duas estratégias de suporte respiratório não invasivo introduzidas
muito cedo após a identificação de insuficiência respiratória aguda induzida
pela Covid-19. Assim, um primeiro grupo de pacientes utilizou uma estratégia
convencional de suporte ao oxigênio (com fluxos de oxigênio de até 15 L/min)
enquanto o segundo grupo contou com uma estratégia de oxigenoterapia de alto
fluxo fornecida através de uma cânula nasal especial (capaz de gerar fluxos de
oxigênio de até 80 L/min).
Os pacientes foram separados em grupos de maneira
randomizada (aleatória) e acompanhados em três hospitais colombianos: Fundação
Valle del Lili, Clínica de la Universidad de la Sabana em Chía (Cundinamarca) e
o Hospital Santa Clara, em Bogotá.
Ainda segundo o pesquisador, a diminuição dos
níveis de oxigênio no sangue é uma das características clínicas mais
importantes dos casos graves de Covid-19. Por isso, a suplementação de oxigênio
(classificadas como invasivas e não invasivas) são um dos pilares fundamentais
na gestão desses casos, com o objetivo de ajudar a melhorar a oxigenação do
sangue e reduzir o esforço feito pelo paciente para respirar.
“O estudo tinha como objetivos (1) avaliar a
probabilidade de progressão da doença com posterior necessidade de intubação e
conexão à ventilação mecânica invasiva no prazo de 28 dias após a crise
respiratória; e (2) avaliar o impacto de cada uma das estratégias sobre o tempo
necessário para alcançar a recuperação clínica”, explica.
Para o Dr. Alexandre Biasi, diretor do Instituto de
Pesquisa do Hcor, responsável pela análise de dados do estudo, os resultados da
pesquisa são altamente relevantes em meio à situação atual mundial, uma vez que
a pandemia ainda não terminou, e o aparecimento de novos picos de infecções e,
consequentemente, de pacientes com manifestações respiratórias graves é
esperado. “A redução do número de intubações geradas pela terapia de alto fluxo
de oxigênio deve ser refletida em pacientes com menos complicações, menor tempo
de recuperação e consequente maior disponibilidade de leitos e recursos de
UTI”, prevê Biasi.
Todos os detalhes do ensaio clínico podem ser
consultados e baixados gratuitamente no site da revista (https://jamanetwork.com/journals/jama).
A corrida por respiradores
No início da pandemia de Covid-19, não havia
certeza sobre qual seria a estratégia de suporte respiratório mais adequada
para abordar inicialmente os casos mais graves. No entanto, considerando a
gravidade da queda dos níveis de oxigênio no sangue nesta doença, a primeira
possibilidade contemplada foi o uso imediato de ventilação mecânica invasiva,
que envolveu a intubação do paciente e sua conexão com um ventilador mecânico.
Assim, uma das principais inquietações em 2020 era
se o número de ventiladores mecânicos disponíveis nos sistemas de saúde seria
suficiente para lidar com a magnitude da emergência. No entanto, uma maior
preocupação foi gerada quando dados de países que inicialmente enfrentaram a emergência
mostraram uma alta taxa de mortalidade inesperada naqueles pacientes submetidos
à ventilação mecânica invasiva.
O dado contrastou com índices pré-pandemia
mostrando que, em casos graves de insuficiência respiratória aguda, o próprio
paciente poderia auto-induzir mais lesões pulmonares, aumentando brutalmente
seu esforço para respirar quando inadequadamente apoiado.
Assim, os pesquisadores se dedicaram a avaliar em
estudos clínicos respostas sobre a melhor estratégia inicial de apoio
respiratório em casos graves da doença.
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