Os protestos
deixaram mais de 270 pessoas mortas, centenas de feridos e desabrigados
Após uma semana de agitação nas províncias de
KwaZulu-Natal e Gauteng, a população ainda sente os efeitos da violência com
muitas comunidades vulneráveis – principalmente nos assentamentos informais -
relatando dificuldades no acesso a alimentos e cuidados de saúde. Apesar do
retorno calmo, as unidades de saúde ainda estão lutando devido ao aumento do
número de casos de traumas, durante a terceira onda COVID-19.
Mais de 270 mortes foram registradas durante os
protestos, que também interromperam o acesso a serviços de saúde, alimentos,
combustível e outros itens essenciais. Caminhões, lojas e shoppings
foram queimados e saqueados, além de 90 farmácias e alguns centros médicos. A
desigualdade social de longa data, os altos níveis de pobreza, uma taxa de
desemprego de mais de 30% e as consequências econômicas devastadoras de um ano
de sucessivos lockdowns provocados pela COVID-19 deixaram milhões de pessoas na
África do Sul desesperadas e insatisfeitas.
Durante a violência, alguns hospitais e centros de
saúde foram forçados a fechar, enquanto outros ficaram inacessíveis para
equipes médicas e para a população. Muitos departamentos de emergência de
hospitais estavam sobrecarregados com o aumento de pacientes com traumas e a
falta de profissionais.
Resposta de emergência
“Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançou uma resposta
de emergência para fornecer apoio emergencial às comunidades e unidades de
saúde afetadas pela violência”, disse Philip Aruna, coordenador da equipe de
apoio de MSF da África do Sul.
Em Joanesburgo, profissionais de MSF avaliaram
várias áreas afetadas pela violência e disponibilizaram enfermeiras com
experiência em traumas às salas de emergência de uma clínica em Alexandra e a
um hospital em Vosloorus.
“Nosso objetivo era permitir que essas instalações
sobrecarregadas atendessem melhor o grande número de casos trauma, enquanto
alguns profissionais de enfermagem não conseguiam chegar às instalações.
Esperamos que, à medida que as unidades de saúde forem reabrindo e a sensação
de estabilidade retorne, uma onda adicional de pacientes irá para os centros de
saúde para retomar o tratamento que atrasaram durante o período de violência,
bem como para renovar prescrições para condições crônicas, como HIV,
tuberculose, hipertensão e diabetes”, disse Aruna.
Pacientes graves com COVID-19
Na província de KwaZulu-Natal, em Pietermaritzburg,
MSF forneceu concentradores de oxigênio, que foram cedido de um outro hospital
em Eshowe, no qual MSF atua, para garantir que pacientes graves com COVID-19
recebessem assistência adequada.
Neste hospital, tratar simultaneamente um grande
fluxo de casos de trauma e de casos críticos de COVID-19 colocou uma grande
pressão sobre a capacidade sobrecarregada de atendimento. Dias após a
violência, muitos pacientes ainda estavam recebendo tratamento para lesões,
ocupando leitos de unidades de terapia intensiva que não podem ser alocados
para casos críticos de COVID-19.
Famílias desabrigadas
Em Durban, as equipes de MSF também fornecem apoio
direto ao assentamento informal de Briardene, desde 18 de julho.
“Cerca de 250 famílias perderam suas casas e
pertences em incêndios que destruíram o assentamento informal durante a semana
de violência. Mães e crianças pequenas foram forçadas a dormir ao ar livre e a
comunidade enfrentou dificuldade de acesso a alimentos. Muitas pessoas não
conseguiram chegar ao atendimento médico por conta da insegurança ou pelo fato de
algumas clínicas terem fechado”, explica Adeline Oliver, enfermeira da equipe
de emergência de MSF.
Os profissionais de MSF montaram uma tenda para
fornecer abrigo de emergência no assentamento informal e distribuiu 600
cobertores, 250 kits de higiene e outros itens essenciais. Uma equipe médica
ofereceu consultas e cuidados básicos.
“Quatro dos primeiros 10 pacientes que tratamos no
assentamento informal, em Durban, sofreram lesões traumáticas, três delas
causadas pela violência. Montamos uma estação onde podíamos tratar dos
ferimentos. Conforme continuamos trabalhando na comunidade, vimos pacientes
afetados pela inalação de fumaça de quando o fogo estava forte e eles tentavam
salvar seus pertences. Também descobrimos que existem necessidades significativas
de saúde mental na comunidade”, diz Oliver.
MSF continuou oferecendo serviços de saúde
independentes e imparciais em Briardene até o final desta última semana. Nossa
avaliação das lacunas de saúde em KwaZulu-Natal está em andamento.
O projeto de HIV e tuberculose de longo prazo de
MSF em Eshowe, distrito de King Cetshwayo, foi reaberto em 19 de julho, com
atividades de sensibilização da comunidade, hospitalares e clínicas totalmente
restabelecidas em 21 de julho. As atividades na enfermaria de COVID-19 apoiada
por MSF no Hospital Ngwelezana, perto de Empangeni, foram retomadas em 19 de
julho.
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