Em política, como na guerra, é importante conhecer o adversário.
Principalmente se ele é multiforme, ataca desde várias posições, é poderoso,
mais experiente e usa de meios que não nos estão acessíveis.
Essa afirmação tem muito a ver
com o quadro sucessório nacional. Salvo imprevistos, a cena eleitoral está
posta. De um lado, o atual presidente e, de outro, a atual oposição, talvez
dividida, que chegará ao segundo turno unificada em torno do PT. A tentativa
de restaurar a estratégia da tesoura, com um candidato de esquerda
representando a direita fica tão parecida com o produto oferecido ao Brasil
durante os anos da roubalheira que não vejo como possa prosperar
(eleitoralmente, claro).
O perfil desse futuro adversário é bem conhecido. É muito capaz; capaz de fazer
coisas que sequer imaginamos, como confessou Lula em 2014. No entanto, quero
expor aqui duas características extremamente graves que não costumam ser
devidamente analisadas e explicitadas.
A primeira é o desamor ao
Brasil. Para melhor entendimento, estou usando aqui a palavra “esquerda”
sabendo de todas as suas limitações para fins conceituais. A esquerda é
histórica e internacionalmente apátrida. É universalista, coletivista, se diz humanista,
mas de um curioso humanismo onde o indivíduo não conta. Já na segunda página,
então, o coitado desaparece como sujeito de qualquer ação livre.
Por isso, a rejeição e os maus
adjetivos a quem canta o hino nacional, exibe a bandeira verde e amarela e ama
o Brasil. Por isso, as bandeiras vermelhas proporcionam a cor característica de
suas manifestações mundo afora. Por isso, viajam ao exterior, à nossa custa,
falando mal do país, promovem eventos internacionais para dirigir ao governo daqui
ataques que causam mal à nação. Temos um governo de perfil conservador que
ousou se opor ao falso progressismo, ao globalismo e ao anticristianismo que
assolam o Ocidente. O mercado político internacional tornou-se, então,
comprador de toda ideia de boicote, internacionalização da Amazônia ou mentira
que nos desqualifique. Tal situação agravou-se após a derrota de Trump nos EUA.
A segunda é a dissimulação. Com raras e nobres exceções individuais, seu
diálogo não é franco. Seu antifascismo é fascista. É fascista na violência e
agressividade dos movimentos sociais, das ações rueiras, dos gestos e palavras
de ordem. O fascismo é comum aos três fantasmas que horrorizaram o século XX: o
comunismo, o nazismo e o fascismo propriamente dito. Nós não estamos associados
a qualquer dessas famílias ideológicas.
Seu pluralismo é excludente até a última gota da divergência. Seu jornalismo
exclui os fatos a ele inconvenientes; sua universidade sepulta autores e
esconde obras; suas aulas suprimem verdades eternas; sua cultura, música,
teatro, manifestos são de pensamento único. Como escreveu recentemente o Dr
Alex Pipkin, que é judeu e sabe do que fala, o antirracismo da esquerda é
profundamente racista, provoca divisões e acirra animosidades.
Seu apreço à democracia só se manifesta onde ela bem ou mal já existe, porque
onde estão no poder, some na primeira página. E calam com descontraídos
sorrisos de bem-aventurança em Cuba, na Venezuela, na Nicarágua, na Coreia do
Norte.
Penso que estes exemplos pinçados do cotidiano mostrem como, dissimuladamente,
se valem de sentimentos que são de seu generoso apreço, leitor, para cooptá-lo
e lhe proporcionar o contrário disso em modo pleno.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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