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quarta-feira, 12 de maio de 2021

O caminho das infecções hospitalares pode começar na boca

Nesses casos, são os cirurgiões-dentistas que também salvam vidas, auxiliando na recuperação e reabilitação dos pacientes


A missão do Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares (15/5) passa pelas mãos de pouco mais de 600 cirurgiões-dentistas que atuam em hospitais no estado de São Paulo. Esses profissionais lidam diariamente contra doenças que podem se originar na boca e agravar o quadro dos pacientes em leitos hospitalares, seja em enfermarias ou nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Em meio à pandemia da Covid-19, o desafio do cirurgião-dentista é ainda maior entre os trabalhadores da Saúde por atuarem diretamente na cavidade oral dos pacientes infectados. 

Enquanto antes do novo coronavírus, a atuação dos profissionais de Saúde Bucal chegou a reduzir em até 56% as infecções respiratórias nas UTIs, segundo dados de 2018 da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), hoje, o cuidado odontológico se faz ainda mais necessário. “A pandemia trouxe vários desafios aos profissionais de Saúde e, muito mais, ao cirurgião-dentista pelo contato direto que temos com a boca e a via respiratória. Sabemos da relação entre o aumento do tempo de internação e a piora da saúde bucal em qualquer paciente hospitalizado. O que nos chama atenção nos infectados pelo Sars-CoV-2 é o aumento do tempo de permanência em UTI e da necessidade da intubação orotraqueal com ventilação mecânica, o que ocasiona lesões orais traumáticas, por conta da presença dos mantenedores de vida, assim como infecções oportunistas orais e lesões orais inespecíficas. Ou seja, o paciente permanece mais tempo em UTI, intubado por longos períodos, muitas vezes pronado (quando colocado de bruços para melhor ventilação pulmonar), e com muitas demandas odontológicas”, explica Juliana Bertoldi Franco, cirurgiã-dentista que integra as câmaras técnicas de Odontologia Hospitalar e de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).


Riscos evitados pelo cirurgião-dentista hospitalar

Pneumonia associada à ventilação (PAV) - nos casos de intubação, sangramentos, ressecamento dos lábios e da mucosa oral, quadros de babação, traumas orais por mordedura e candidíase oral são algumas das condições que podem ser diagnosticadas e tratadas pela Odontologia Hospitalar. Mas o cenário, assim como nos demais departamentos de Saúde diante da crise sanitária, não é favorável. Dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) somam quase 24 mil leitos de UTIs em todo o estado de São Paulo, uma proporção de cerca de 40 leitos para cada cirurgião-dentista habilitado em Odontologia Hospitalar. 

Juliana também é cirurgiã-dentista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, atua no Hospital Auxiliar de Suzano e no Instituto Central, além de coordenadora Clínica da Assistência Odontológica em UTI, e tem visto de perto os esforços para atender todos esses pacientes. “Dentro do hospital, o cirurgião-dentista atua em equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, assistentes sociais e farmacêuticos. O entendimento das ações de cada um é primordial para os melhores resultados conjuntos e, quando temos profissionais da Odontologia realizando ou treinando o time de especialidades sobre procedimentos orais à beira leito, temos inúmeros benefícios ao paciente, em qualquer cenário, durante a internação”, afirma.


O caminho da infecção

“A cavidade oral é o começo de dois importantes sistemas do corpo humano: o respiratório e o digestivo. Nosso objetivo é o diagnóstico de infecções odontogênicas, ou seja, de origem dentária ou periodontal, e a remoção através dos procedimentos odontológicos, auxiliando na melhora clínica do quadro geral do paciente, na reabilitação e na prevenção de outras infecções”, conta Juliana. Ou seja, por mais que a infecção esteja localizada em um dente ou no tecido periodontal, como é chamada toda a parte que dá suporte aos dentes, ela pode ser disseminada pelo sangue e modificar todo o curso do tratamento médico ou até agravar as condições do paciente. Isso quer dizer que mesmo a boca sendo a entrada para os sistemas respiratório e digestivo ela também pode oferecer condições para a piora de outras patologias devido à produção e liberação de toxinas bacterianas e mediadores inflamatórios.

Até 2019, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a taxa de infecção hospitalar atingiu 14% das internações no Brasil. O número pode mudar consideravelmente com os registros da pandemia. Por isso, a presença dos profissionais da Odontologia Hospitalar é tão fundamental, atuando na prevenção das infecções hospitalares e no tratamento dos agravos decorrentes da longa hospitalização. Ainda que sejam poucos, eles trabalham todos os dias para salvar vidas e, consequentemente, resgatar verdadeiros motivos para sorrir.



Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP

www.crosp.org.br


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