A mídia militante foi buscar na covid-19 sua casa de armas. Decidiu que o Brasil deveria ficar fora dessa pandemia e que restavam ao vírus duas possibilidades: ou nos tratava com o devido respeito, ou deveria ser espatifado pessoalmente pelo presidente da República com aquela metralhadora imaginária da campanha eleitoral.
Ela, a
mídia, assumiu-se como grande reitora das políticas sanitárias do país. Houve
momentos em que quis mandar mais do que o STF, imaginem só! Não se espante, não
estou inocentando o Supremo. Devo reconhecer, porém, que a Corte, muitas vezes,
abre espaço ao contraditório. Tal condescendência nada resolve, posto que todos
têm opinião formada sobre tudo. Mas o contraditório ao menos fala. Na mídia
militante é diferente. O contraditório é relegado ao mutismo. O divergente é
lobo solitário, exército de um homem só. Eu vivi isso.
Vão
encontrar alvos para atingir o governo? Claro que sim. Certa feita, ouvi de uma
jornalista do PT que “se o adversário não tem rabo a gente põe”. E se a CPI não
consegue pôr, a mídia militante põe. Ela está com sangue nos olhos. Segundo
ela, Mandetta comprometeu Bolsonaro. Ao que vi e sei, Mandetta comprometeu Mandetta.
Foi ele que primeiro mandou não usar máscaras, depois mandou usar. Orientou
para só procurar hospital com febre ou falta de ar. Provocou um esvaziamento de
hospitais, UTIs e consultórios durante meses. Firmou inimizade com o tratamento
precoce. Para a mídia, porém, na CPI, comprometeu Bolsonaro.
Jamais
será reconhecido no foro da comissão e pela mídia militante que (dados de 5 de
maio) o Brasil é o 9º país em número de mortes por milhão, o 9º em novas mortes
por milhão. E é o 11º no quesito percentagem da população que recebeu apenas
uma dose. Tem 2,7% da população mundial e aplicou 4,2% das vacinas
disponibilizadas. É o quinto que mais vacinas aplicou. Jamais destacarão o fato
de que este último dado o situa atrás, apenas, dos quatro países que as
produzem em seus grandes laboratórios – EUA, China, Índia e Reino Unido.
Poderiam
os números ser mais elevados? De que jeito? Os países produtores seguiram a
regra de Mateus – “Primeiro os meus!” – e vêm utilizando em suas populações 62%
das 1,175 bilhão de vacinas produzidas até este momento. Fica fácil, então,
presumir o esforço comercial e diplomático para conseguir lugar na parte alta
da tabela, bem como perceber o esforço político para ocultar tais informações.
Como
brasileiro, particularmente, considero de meu dever louvar a importância da
Anvisa e de seus protocolos, que sempre foram fator de tranquilidade da nossa
população no consumo interno de vacinas e medicamentos. Ela só não é tão veloz
como alguns queriam porque seus técnicos são responsáveis, não obedecem ordens
da imprensa e conhecem o alto preço de quaisquer falhas nas autorizações que
concedem. Especialmente em relação a algo que vai ser distribuído a toda
população do país.
Um dos
episódios mais lastimáveis dos últimos meses foi a ordem do ministro
Lewandowski para que a Anvisa, em 30 dias decidisse sobre a importação da
vacina russa Sputnik V pelo Maranhão. Ora, ministro!
Com sua
licença, prezado leitor, vou parar por aqui, pois é hora de assistir o circo
montado no Senado Federal.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e
sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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