Era o ano de 2005, primeira semana de faculdade. Nossos professores do curso de Filosofia estavam otimistas porque no Paraná havia começado um movimento forte pela volta da obrigatoriedade da Filosofia e da Sociologia nos currículos do Ensino Médio de todo o estado, o que resultou na lei estadual 15.228 de 2006 (2 anos antes da lei nacional). Essa foi uma vitória que coroava décadas de luta e que se vislumbrava com um desafio ainda maior: organizar o currículo, a proposta pedagógica e capacitar professores habilitados para essas disciplinas. Novos cursos de Filosofia surgiram, investimentos em concursos públicos foram realizados e materiais didáticos foram produzidos.
Porém, tudo isso parece ter sido em vão: o mesmo
pioneirismo do Estado do Paraná que preconizou a volta da Filosofia e
Sociologia no Ensino Médio, agora volta para retirá-la sutilmente dos currículos,
inserindo no lugar disciplinas como Educação Financeira e Empreendedorismo. Mas
qual a importância da Filosofia em nossas vidas? Em que sentido a experiência
do filosofar pode ajudar a transformar um país como o Brasil? Quando pensamos
na importância da Filosofia, talvez muitas pessoas tenham dificuldades de
formular uma definição para ela e, muito provavelmente, pensará que ela não faz
falta à sua vida, uma vez que pelo fato de vivermos sem conseguir defini-la, já
seria argumento suficiente para desprezá-la. No entanto, os grandes problemas
do mundo são objetos de estudos da Filosofia e é ela que fornece a base para
podermos pensar em alternativas e soluções a esses problemas. Não fosse o
constante exercício filosófico, ainda estaríamos com leis baseadas em preceitos
como os de Hamurabi (olho por olho e dente por dente) e estaríamos ainda
apedrejando mulheres adúlteras em praças públicas; não veríamos perspectiva
para conter a pandemia de Covid-19; não conseguiríamos pensar em estratégias
globais que impactassem positivamente os problemas ambientais que enfrentamos
na atualidade, como o aquecimento global e o desmatamento.
Sem essa capacidade de indagar e questionar
(capacidades próprias do saber filosófico) os problemas do mundo, nossa
perspectiva de vida seria desastrosa, ainda que possa haver pessoas pensando
que viver sem questionar (como ignorantes) seria muito melhor. O simples fato
de não verbalizarmos o nome Filosofia nessas questões, não implica na ausência
dela. Pelo contrário, onde há um questionamento, uma indagação, uma
problematização, ali cresce e floresce o saber filosófico. É por isso que tudo
se torna (ou pode se tornar) objeto de estudo da Filosofia, desde um simples
“por que ainda hoje as pessoas continuam desmatando?”, ou “por que um governo
insiste em tratar Covid-19 com Cloroquina?”, até em questões do tipo “como
devemos agir para diminuir o aquecimento global?”.
Nesse sentido, a obrigatoriedade da Filosofia nos
currículos atende duplamente aos questionamentos no início desse texto: não
apenas resgata a importância da Filosofia em sua perspectiva disciplinar no
Ensino Médio, como também nos leva a refletir sobre a importância que ela
possui nos problemas que enfrentamos atualmente no Brasil e no mundo. Em vez de
retirarmos dos currículos, deveríamos estar investindo ainda mais em
infraestrutura e condições de trabalho dos professores, para que a Filosofia,
como uma disciplina que problematiza e conduz os estudantes à compreensão dessa
dupla função, possa conduzi-los ao encontro de soluções simples e viáveis que
realmente podem transformar a nossa sociedade brasileira.
Antonio Djalma Braga
Junior - Filósofo e Historiador. Doutor em Filosofia. É
professor na Universidade Positivo.
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