Isolamento social pode comprometer o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento dos pacientes
Embora o tema saúde mental
venha ganhando notoriedade nos últimos anos, a esquizofrenia ainda é um assunto
pouco abordado, o que acaba acentuando o estigma e contribuindo para que haja
demora na busca por um diagnóstico ou tratamento corretos. Estudo mostra que a
chegada da Covid-19 tende a piorar o cenário da doença. Além da dificuldade do
diagnóstico, potencializada pelo isolamento social, a pandemia pode aumentar o
risco de recaídas em pacientes com esquizofrenia, pois o estresse e restrições
resultantes da quarentena podem acarretar a piora dos sintomas psiquiátricos
que, quando não estabilizados, têm mais chances de resultar em novos surtos[i].
Dados de uma pesquisa
realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)[ii], em 130 países, mostra
que a pandemia de Covid-19 interrompeu os serviços essenciais de saúde mental
em 93% dos países em todo o mundo. Mais de 60% relataram interrupções nos
serviços de saúde mental para pessoas vulneráveis (incluindo crianças e adolescentes,
adultos mais velhos e mulheres que precisam de serviços pré-natais ou
pós-natais). Cerca de 67% alegaram interrupções no aconselhamento e
psicoterapia, e cerca de 30% relataram interrupções no acesso a medicamentos
para transtornos mentais e neurológicos.
Um dos principais
obstáculos para tratar a esquizofrenia é a adesão ao tratamento. Segundo
especialistas, cerca de 2/3 dos pacientes com transtornos psicóticos não tomam
a medicação corretamente[iii]. Em um período de cinco anos, aproximadamente 80% dos
indivíduos apresentam recaídas após o primeiro episódio da doença[iv]. As
recaídas múltiplas culminam em uma perda progressiva da funcionalidade. Dessa
forma, evitar recaídas desde o princípio da doença é uma prioridade no
tratamento, e um potencial fator modificador da doença[v].
"Pessoas com
essa condição, desde que diagnosticadas e tratadas corretamente, podem levar
uma vida socialmente ativa, trabalhar, estudar, casar, ter filhos e serem
independentes como qualquer outra. A questão é que em alguns casos, por
preconceito, medo ou falta de conhecimento, as pessoas acabam não buscando
ajuda médica especializada, o que pode dificultar o diagnóstico e comprometer o
tratamento", alerta o Dr. Cristiano Noto, médico psiquiatra da Escola
Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ainda de acordo com
a pesquisa da OMS, 70% dos países alegaram ter adotado a telemedicina ou
teleterapia como opções para contornar as interrupções nos serviços presenciais
durante a pandemia. Há, no entanto, disparidades significativas na aceitação
dessas intervenções, já que 80% dos países que relataram a implantação do
serviço são de alta renda; países de baixa renda representam menos de 50%. Essa
lacuna de cuidado representa um desafio importante, já que são justamente estes
os países que mais precisam fortalecer seus sistemas de saúde e os cuidados em
saúde mental.
Segundo o Dr.
Rodrigo Bressan, médico psiquiatra e professor da UNIFESP, apesar da
dificuldade de tratamento, houve grande avanço nos medicamentos para o
transtorno nos últimos anos e, atualmente, existem opções no mercado capazes de
controlar as diversas fases da esquizofrenia e prevenir possíveis recaídas, com
efeitos colaterais mínimos. Para facilitar a adesão às terapias, em alguns casos,
são recomendados medicamentos de longa duração, capazes de controlar o quadro
com aplicações mensais ou até mesmo trimestrais.
A esquizofrenia
é uma condição crônica ainda muito estigmatizada que afeta cerca de 1% da
população mundial. No Brasil, a enfermidade atinge cerca de 1.6 milhões de
pessoas[vi]. Consiste em um transtorno mental complexo caracterizado por
distorções no pensamento, percepção, emoções, linguagem, comportamento e
consciência do "eu". Os sintomas podem incluir alucinações (ouvir, ver
ou sentir coisas que não existem) e delírios (falsas crenças mantidas mesmo
quando há provas que mostram o contrário)[vii].
De acordo com a
Organização Mundial de Saúde, a enfermidade é considerada a terceira doença que
mais afeta a qualidade de vida entre a população de 15 a 45 anos de
idade[viii]. A patologia geralmente tem início entre o fim da adolescência e o
começo da vida adulta.
Janssen
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