Nagorno-Karabakh faz parte do Azerbaijão, mas sua população é majoritariamente armênia. Grandes potências locais como Rússia, Turquia e Irã ficam próximas da região do conflito. Com o colapso da União Soviética na década de 1980, Nagorno-Karabakh votou para se tornar parte da Armênia - desencadeando uma guerra que parou com um cessar-fogo em 1994. Desde então, Nagorno-Karabakh permaneceu parte do Azerbaijão, mas é controlado por armênios de etnia, apoiados pelo governo em Yerevan.
A
Armênia é majoritariamente cristã, enquanto o Azerbaijão, rico em petróleo, é
de maioria muçulmana. A Turquia tem laços estreitos com o Azerbaijão, enquanto
a Rússia é aliada da Armênia, embora também tenha boas relações com o
Azerbaijão, e venda armamentos para os dois países. Apesar da diferença
religiosa, o conflito não tem uma relação direta com esse fato, sendo uma
disputa principalmente territorial histórica.
Os
confrontos entre Armênia e Azerbaijão foram retomados no dia 27 de setembro de
uma forma semelhante e até mais impactante que os de abril de 2016, tornando a
maior ofensiva desde a guerra, que durou até 1994. Não há consenso sobre quem
desencadeou essa nova escalada de conflitos.
Com
a tensão a níveis extremos, os dois países decretaram lei marcial, a Armênia
decretou mobilização total e o Azerbaijão uma mobilização parcial. As ameaças
constantes de confrontos na fronteira do Azerbaijão, com a Região ocupada do
Nagorno-Karabakh, dia após dia sem resolução, aumentam a impaciência do
Azerbaijão para a retomada de seus territórios. As pressões para um confronto
direto estão relacionadas ao incremento na política de assentamentos dirigidos
ao Nagorno-Karabakh pelos armênios, em um território que foi historicamente
ocupado e teve sua população original massacrada e expulsa.
O
território ocupado se autoproclama uma república autônoma, porém nenhum país
(isso inclui a própria Armênia) reconhece oficialmente como tal. Durante o
conflito, quatro resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas
demandavam a retirada das tropas da região e de sete distritos adjacentes, que
também foram ilegalmente ocupados, tomando cerca de 20% do território total do
Azerbaijão.
Após
um frágil cessar-fogo assinado em 1994, sem nenhuma força de paz estabelecida e
com acordos aos cuidados do Grupo de Minsk (com os principais líderes Estados
Unidos, Rússia e França), várias violações a ele foram efetivadas desde então,
em escalas diferentes. O confronto dessa semana, vem com uma grave ameaça de
retomada da guerra em larga escala, especialmente com conquistas parciais de
regiões montanhosas estratégicas e vilarejos ocupados a mais de duas décadas,
que pode estimular a busca pela retomada dos territórios a força.
As
principais potências e organizações internacionais conclamam pelo diálogo e
cessar-fogo, mas a ineficiência da participação delas na negociação e a falta
de comprometimento da Armênia, principalmente para desocupar os sete
distritos adjacentes a região do Nagorno-Karabakh, muito ocasionada por
pressões eleitorais internas em vários momentos; fazem com que o Azerbaijão se
sinta cada vez mais impaciente para a retomada de suas terras, mesmo com graves
consequências humanas e econômicas para toda a região.
As
duas principais possibilidades no momento são: a mais provável que é a
manutenção de combates na região por alguns dias ou semanas até que
organizações internacionais atuem para costurar um cessar-fogo e com pequenas
mudanças na dimensão da ocupação armênia na região; ou uma perigosa retomada de
guerra, com terríveis consequências para as duas partes.
Enfim,
o cenário ideal de atuação internacional dos estados é uma coligação entre
Turquia e Rússia, potências regionais, com interesses e possivelmente a
habilidade de administrar eventual missão de paz, de preferência com base nas
resoluções do conselho de segurança, nos princípios do direito internacional e
nas tentativas de negociação anteriores. Porém com o crescente envolvimento direto
no conflito essa solução se torna cada vez mais improvável e a situação requer
um rápido engajamento internacional para evitar a escalada.
João
Xavier - mestre em ciência política e pesquisador especialista sobre Azerbaijão
e o Conflito do Nagorno-Karabakh.
André
Frota - professor dos cursos de Relações Internacionais e Geografia no Centro
Universitário Internacional Uninter.
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