A crescente demanda e exploração de recursos naturais alteraram os ecossistemas e levaram as populações humanas a cada vez mais se aproximarem de animais selvagens que podem ser vetores de doenças. Acredita-se que o surto de Covid-19 começou em um mercado úmido, na China, quando a doença foi transmitida de um morcego para um pangolim, e de um pangolim para um humano. Além disso, o tráfico de animais selvagens e outros problemas ambientais relacionados à alteração, destruição e invasão de ecossistemas pela humanidade aumentam a probabilidade de doenças zoonóticas contaminarem populações humanas e atingirem níveis endêmicos.
Isso não é apenas uma teoria. Aconteceu com o vírus
de Nipah, em 1999, na Malásia; com o vírus SARS, em 2003, na China; com o vírus
Ebola, em 2014, na Guiné, e com os vários casos de influenza (gripe aviária,
suína, etc.) que o mundo já enfrentou. Todos esses surtos surgiram de animais
e, no caso do vírus de Nipah e do Ebola, devido à aproximação de populações em
ecossistemas outrora isolados.
Há várias causas da destruição e invasão dos
ecossistemas, porém, as mais relevantes são o crescimento da população humana
global, a urbanização e a industrialização da agricultura. O crescimento
populacional resulta no aumento da procura por recursos naturais. A tendência
de migração para centros urbanos resulta na sua contínua expansão. Esses
centros urbanos sempre sobrecarregam mais os ecossistemas por serem grandes
consumidores de materiais e energia e também por produzirem altas quantidades
de resíduos e esgoto, que acabam impactando o ambiente. A industrialização da
agricultura resulta em monoculturas, que ameaçam a biodiversidade e a
resiliência dos ecossistemas. Insetos e roedores, por serem vetores principais
de doenças, tendem a ser os animais que mais se beneficiam desses impactos antropogênicos.
Além disso, o uso excessivo de pesticidas, medicamentos e outros contaminantes
que são lançados no ambiente acarretam em mudanças genéticas em microrganismos
e aumentam a probabilidade dessas doenças zoonóticas alcançarem populações
humanas.
Essas tendências não acontecem por acaso. Os
motores centrais da destruição e invasão dos ecossistemas são econômicos e
sociais e requerem soluções complexas que, por conseguinte, dependem de
profissionais com visão interdisciplinar. São necessárias também pesquisas que
fundamentem a proposição de políticas públicas de incentivo para que todos os
envolvidos (sociedade, governo, empresas privadas, ONGs) valorizem esses
benefícios dispersos e possam, cada vez, mais negar mercados que não considerem
os custos verdadeiros das atividades humanas.
A pandemia que estamos vivendo e seus impactos
multidimensionais (ambientais, sociais, econômicos e governamentais) nos fazem
refletir sobre cenários futuros de dificuldades que ainda enfrentaremos diante
de outros problemas altamente complexos, como as mudanças climáticas. Para
resolver tais desafios multidimensionais, é importante que os governos orientem
suas decisões a partir do fortalecimento da educação e da ciência, porque
embora não possamos evitar a próxima pandemia, podemos tomar medidas para
recuperar e fortalecer os ecossistemas que, em última instância, servem como
barreiras para o surgimento de doenças.
Prof.
Dr. John James Loomis - doutor em Gestão Ambiental, mestre em Gestão
Internacional de Fluxos de Materiais (Trier University of Applied Sciences);
bacharelado em Ciências Políticas e Filosofia (American University). É
professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental (PPGAMB) e da Business
School na Universidade Positivo (UP).
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