Nunca pensei que chegaria esse dia, mas chegou! Um consenso global sobre o valor da escola para as sociedades, independentemente do seu PIB. Há relatórios contundentes dos prejuízos causados pelo fechamento das escolas, para além das questões de aprendizagem. Somos seres sociais por excelência e dependemos das interações extra familiares para aumentar as possibilidades de êxito na experiência humana. A escola, portanto, é um espaço privilegiado de “gentificação”: da construção dos contornos que nos fazem mais gente, mais responsáveis por aquilo que vamos nos tornando ao longo da vida.
Não faltam razões para que o tema de retorno às
aulas presenciais seja uma pauta de destaque. Além do dilema de quando
retornar, há outra questão relevante: quando a escola abrir, devemos iniciar
pelos estudantes menores ou maiores? Entendemos que o retorno das atividades
presenciais será escalonado. Diante de uma realidade tão diversa, só
conseguiremos chegar a um denominador comum orientados pela observação, análise
e bom senso. Se, por um lado, as crianças menores precisam mais dos adultos
para desenvolverem as atividades propostas pela escola e têm mais dificuldade
em permanecerem concentradas diante de uma tela; por outro lado, engajar alunos
maiores ao trabalho escolar diante de tantas possibilidades de distração que a
internet oferece – com pop-up de interesse brotando na tela a cada mexida de
mouse - é uma aventura desafiadora para os professores.
Se formos observar os protocolos, é difícil
acreditar que conseguiremos manter crianças pequenas com máscara e distantes
umas das outras – isso só para pensar nos itens mais simples. Na prática,
alunos trocam pertences como lápis, canetas, borrachas; partilham lanche; com
uma bola de meia iniciam um campeonato de futebol no pátio; trocam raquetes de
pingue-pongue; se abraçam quando estão com saudades, enfim, no espaço escolar
se identifica uma das principais características humanas: a interdependência,
ou seja, a necessidade da presença do outro na vida de cada um.
Mas, se tem uma coisa que escola faz é o que não é
fácil! O que é fácil qualquer um faz. Somos movidos pelo desafio de fazer a
diferença na vida dos estudantes. Por esse motivo, mesmo sendo uma atividade
muito difícil - tão logo nos seja permitido -, queremos voltar. E, a cada dia
que estivermos abertos, aprenderemos novos procedimentos, porque nossos alunos
ensinam tanto quanto aprendem. Nesse contexto, creio que iniciar com os
estudantes maiores, que possuem mais autonomia e continência, venha a ser a decisão
mais sensata e, aos poucos, ampliar para os demais segmentos da escola.
Abrindo um pouco mais o espectro de escolhas,
talvez a idade não fosse o fator mais relevante para uma escola. Uma
possibilidade a ser considerada seria a de trazer para mais perto dos
professores os seus alunos que apresentaram mais dificuldades no formato remoto
ou mesmo aqueles cujos responsáveis estejam em atividades essenciais, com pouco
acompanhamento em casa. Colocaríamos na "terapia intensiva" aqueles
que mais precisam de acolhimento, monitoramento e intervenção pedagógica,
reiterando o que é notável (digno de nota!): o esforço dos professores para
impedir que os seus alunos renunciem ao direito de aprender.
Acedriana Vicente Vogel - diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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