O assunto relativo ao desequilíbrio orçamentário do Estado brasileiro acentua-se em momento no qual a pandemia que assola o país e o mundo tem agravado nossas carências e mazelas, com número crescente de contágios e de mortes, decorrendo daí reflexos críticos como o agravamento da crise econômica, a redução do consumo de bens, o aumento do desemprego, a redução da atividade econômica e da arrecadação tributária.
A equação é impiedosa, já que, com menor
arrecadação, inevitavelmente o déficit orçamentário aumenta, o que se dá
justamente em momento no qual há urgência de mais gastos públicos, seja com
ações imediatas de combate à Covid-19, ou com ações de proteção social e
assistencial para a população, de modo tal que a equação não fecha e o socorro
governamental torna-se insuficiente.
Se por um lado não se questiona a necessidade de
maior presença do Estado em momento de crise sanitária e humanitária como a que
se atravessa atualmente, por outro lado, não se pode descurar de assunto tão
sério e premissa tão básica como a de não gastar mais do que se arrecada. É bem
verdade que a solução encontrada pela maioria dos países em momentos como este
é o aumento do endividamento público. Mas o que fazer diante de um contexto no
qual tal endividamento já está nas alturas em decorrência de irresponsabilidade
fiscal de sucessivos governos que acarretaram em crise sem precedentes?
Por certo, a melhor solução não passa por um
subterfúgio populista de acabar com o chamado “teto de gastos” decorrente de
recente Emenda Constitucional e que, na prática, significa algo óbvio: limitar
as despesas públicas para evitar que o Governo gaste mais do que tenha
capacidade de arrecadar e de pagar. Algo simples que todos aplicamos, ou
tentamos aplicar, em nossa vida, em nosso orçamento doméstico. Não é o objetivo
de comprar um automóvel novo importado ou de fazer uma viagem de férias dos
sonhos ou de mandar um filho estudar no exterior que nos afasta da necessidade
de manter o equilíbrio em nosso orçamento; ao contrário, são justamente
objetivos como estes que impõem a nós a firmeza para mantermos o orçamento
doméstico equilibrado, sem o que não só não alcançaremos tais objetivos como
inclusive comprometeremos o pagamento de boletos e despesas usuais como o plano
de saúde, o condomínio, o supermercado, etc.
Definitivamente, ainda que seja necessária
flexibilização temporária durante este ano de 2020, em que as finanças estão em
colapso em face da pandemia, o oportunismo político-eleitoreiro, o populismo e
as falácias não podem se descurar da realidade: a necessidade de mantermos um
mínimo de racionalidade orçamentária e fiscal.
Flávio de Azambuja Berti
- mestre e doutor em Direito do Estado, procurador do Ministério Público de
Contas do Paraná, coordenador da Pós-Graduação em Direito Tributário da e
professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo.
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