Estudos Preliminares Sobre Suicídios de Autistas são Bem Preocupantes e Pouco Valorizados
Entramos em setembro e com ele temos a Campanha de
prevenção ao suicídio, comemorada em várias partes do mundo, e
que foi iniciada oficialmente em 2003 quando a OMS (Organização Mundial da
Saúde) instituiu o dia 10 de setembro como o Dia Mundial
da Prevenção do Suicídio. Por aqui no Brasil, ela e
chamada de Setembro Amarelo, e teve oficialmente seu início em 2015
através da CVV (Centro de Valorização da Vida), do Conselho Federal
de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria.
O que não se fala comumente, é sobre a TAXA DE
SUICÍDIO ENTRE AS PESSOAS COM AUTISMO.
A falta de debate para trazer este tema à luz, faz com que até mesmo a classe médica, não tenha uma compreensão maior desse problema, ou que tenha interpretações equivocadas, muitas vezes por desconhecimento das pesquisas e estudos mais recentes sobre como identificar o paciente autista com potencial ao suicídio, ou mesmo as pesquisas que apontam que o índice de suicídio entre autistas é real e alarmante.
O QUE NÃO SE VÊ
Foi observado que, no geral, profissionais da área
da saúde cometem erros muitas vezes por não considerarem as emoções complexas que os
autistas possuem, ignorando que suas explosões emocionais,
podem ser sinais de alerta.
“Essa incapacidade de saber interpretar esses
sinais precisa ser corrigida para que possamos trabalhar na prevenção do
suicídio entre os autistas. Na Realidade, existe uma dificuldade em se entender
o grau de sofrimento dos autistas; Acha-se, equivocadamente, que estes podem
não ter sentimentos, que não sofrem, e não podem desenvolvem ansiedade ou
depressão. Porem, definitivamente isso não é real, essas crianças, jovens
e adultos sofrem sim! e muito!”- afirma a Dra. Gésika Amorim, Neuropsiquiatra, Pediatra com
ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil, especialista no
Tratamento do TEA.
A dificuldade de se identificar sinais indicativos
de ideias suicidas em autistas é porque, como disse a especialista, os autistas
se expressam de maneira diferente dos demais indivíduos que apresentam essas
mesmas tendências.
Essa dificuldade de saber comunicar suas próprias
emoções podem levar a situações extremamente críticas como a autoflagelação.
Embora a prática autolesiva não seja uma regra para indicar a tendência suicida
em um autista, ela acaba sendo um indicativo de risco aumentado.
ESTUDOS
De acordo com os Centros dos EUA para Controle
e Prevenção de Doenças, o suicídio entre adolescentes e jovens
é a segunda maior causa no pais. Por volta de 6.159 jovens, entre as
idades de 10 a 24 anos, cometeram suicídio em 2016.
No entanto, não há estatísticas para pessoas
autistas que cometeram suicídio.
Estudos realizados nos últimos anos apontam que a
intenção de suicídio entre autistas está aumentando. Apesar dessas estimativas
variarem com frequência, já ficou claro que autistas são realmente
vulneráveis ao suicídio.
Um estudo feito em 2015, na Suécia, concluiu que os
autistas, tem 10 vezes mais chances de morrer por suicídio do que a população
em geral; embora os homens sejam mais vulneráveis as mulheres autistas estão
particularmente em maior risco.
Em 2014, um estudo foi publicado na respeitada Revista
Lancet Psychiatry, envolvendo adultos com Síndrome de Asperger
(transtorno de espectro autistas de nível 1), mostrou que 66% dos
participantes confessaram pensar em suicídio e que 35% deles já tentaram
suicídio em algum momento. A média entre as pessoas com TEA que
detém comportamento suicida está entre 10% e 50%, segundo as pesquisadoras Magali
Segers e Jennine Rawana.
“As pessoas com espectro autista reagem e interpretam o mundo de forma diferente das demais pessoas. Os desafios para lidar com situações afetivas e sociais são enormes, principalmente por não saberem interpretar e reagir socialmente de forma “adequada”. Muitas vezes, eles sofrem e tem crises pois não conseguem se expressar. O grau de estresse é muito grande e não à toa, é comum, entre os pais, confundirem birra com crise sensorial. Eles estão em sofrimento e precisam ser compreendidos e assistidos.” – Completa a Dra. Gésika Amorim.
Em outro estudo, publicado em 2017, as
pesquisadoras Jacqui Rodgers e Sarah Cassidy da Coventry
University do Reino Unido, mostraram que o número de pesquisas
sobre suicídio entre pessoas com TEA ainda é bem pequeno, no entanto, os estudos
preliminares são preocupantes. Outros pesquisadores informaram
que uma das principais causas de morte prematura de pessoas com TEA é o suicídio.
PRINCIPAIS FATORES DE RISCO
-Depressão;
-Distúrbios de comportamento;
-Tendência marcante ao isolamento físico e falta de
interação com outros autistas da mesma faixa etária;
-Ter um histórico como vítima de bullying;
-Situações de estresse emocional;
-Ter histórico de abuso sexual;
-Faixa etária mais vulnerável relacionada ao início
da adolescência.
Em um artigo publicado na Autism
Research, as pesquisadoras Magali Segers e Jennine Rawana
relatam alguns métodos usados por pessoas autistas nas tentativas de suicídio,
e que no geral acabam sendo mais efetivos, se comparados com outras pessoas com
o mesmo comportamento suicida.
Entre esses métodos estão:
-Uso de objetos perfurantes (19%);
-Enforcamento (15%);
-Precipitação de altura ou atropelamento (13%);
-Overdose com substâncias.
“Diante da gravidade do problema, há de se buscar
uma avaliação mais criteriosa para diagnosticar o potencial suicida desse
grupo, principalmente depois dos 10 anos de idade, em que os fatores de risco,
tornam-se mais evidentes” – diz a neuropsiquiatra Gesika Amorim.
ALGUNS FATORES QUE PODEM ATENUAR OS RISCOS DE
SUICÍDIO SÃO:
-Um suporte familiar e social adequado;
-Uma adaptação adequada e efetiva e inclusão
escolar;
-Maior flexibilidade cognitiva e capacidade de
tolerar mudanças de padrões;
-Buscar maior habilidade para resolução de
problemas da vida diária.
Esses são alguns fatores importantes além do
acompanhamento de profissionais capacitados para as entrevistas e avaliações.
Outros fatores de prevenção, presentes na população
geral, podem dar bons resultados, como a espiritualidade e o comprometimento
religioso.
Para concluir, a neuropsiquiatra, especialista em
tratamento do autismo, Dra. Gesika Amorim,
diz: “O tratamento do paciente no espectro vai muito além do conseguir falar
e ser funcional. É primordial que eles se conheçam, saibam lidar com sua
personalidade, suas características, seus anseios e fraquezas. Todos tem
direito à felicidade. Se o autista porventura demonstra sinais de e
sofrimento, quaisquer que sejam, procure um especialista. Muito provavelmente
ele está pedindo ajuda.”
Dra Gesika Amorim - Médica Pediatra e Neuropsiquiatra com ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil. É pós graduada em psiquiatria, e neurologia clínica. É também referência no Tratamento de TEA- Transtorno do Espectro Autista com utilização de HDT – Homeopatia Detox – Tratamento Integral do Autismo E Medicina Integrativa.
Instagram: @dragesikaautismo
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