Como os novos profissionais de automação poderão contribuir, com uma visão mais ampla, na solução de problemas e na proposição de inovações dentro das empresas
Após um longo período de estagnação que
compreende especialmente as décadas de 70 e 80, o campo educacional brasileiro
das áreas ligadas à tecnologia, em especial a engenharia e suas
especializações, vem se atualizando constantemente, em paralelo à evolução
tecnológica global, uma vez que a área técnica é intimamente ligada à
tecnologia e suas mudanças. Essa rápida aceleração tecnológica das últimas duas
décadas vem exigindo das instituições de ensino, uma atualização constante em
todos os aspectos, em especial na grade curricular, corpo docente e na
infraestrutura.
A partir da década de 90, época de abertura inédita do mercado nacional para
importações de produtos, o Ministério da Educação (MEC) atualizou uma série de
regulamentações, o que possibilitou o aumento da variedade de cursos técnicos e
superiores na área de Engenharia, ampliando a oferta de vagas nas instituições
pública e privadas. Segundo matéria do Guia do Estudante, hoje existem 34 tipos
de cursos de Engenharia, que vão de Acústica a Têxtil, sem contar outros cursos
correlatos, como Automação Industrial, Robótica, entre outros.
Porém, essa alta quantidade de cursos não vem refletindo em uma melhor
qualidade dos profissionais formados. Segundo estudo de fevereiro de 2020 da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), cinco em cada dez indústrias
brasileiras têm dificuldade em contratar por causa da falta de trabalhador
qualificado. A pesquisa relata que a função com maior carência de trabalhador
qualificado é a de operador, que afeta 96% das empresas consultadas, seguida de
empregados de nível técnico, com 90%. Ou seja, a vaga ao recém formado existe,
mas a empresa não consegue preenchê-la adequadamente.
Além disso, o mercado que antes buscava um perfil de profissional técnico
voltado para atividades especificas a serem desempenhadas, hoje está atrás de
um profissional mais plural, que além da parte técnica, conheça e desempenhe
tarefas de outras áreas, como marketing, vendas, logística, administração,
entre outras. Portanto, há uma necessidade latente de atualização nas grades
curriculares a fim de que os novos profissionais estejam mais habilitados a
essa nova demanda do mercado.
Dessa forma, a solução aos recém formados é a capacitação extra curricular, ou
seja, a aquisição de conhecimentos além da formação, algo que hoje em dia é
muito mais fácil que a décadas atrás, umas vez que a disponibilidade de fontes
e canais de consulta e conhecimento globalizada através da Internet abrem
possibilidades quase infinitas não somente de conhecimento técnico mais
aprofundado de novas tecnologias, mas também conteúdos de outras áreas. Assim,
esses novos profissionais, poderão contribuir, com uma visão mais ampla, na
solução de problemas e na proposição de inovações dentro das empresas.
Especificamente sobre a carreira de automação, ela vem passando por essas
transformações mencionadas, ou seja, do trabalho técnico específico para uma
atuação mais dinâmica, plural e corporativa. Além disso, há uma interrelação
íntima da área de Automação com a área de Tecnologia da Informação (TI),
evidenciado por exemplo, no uso de novas tecnologias como a IoT (Internet das
Coisas).
Dessa forma, cabe ao novo profissional de Automação a capacidade analítica de,
por exemplo, aplicar tecnologias de IoT através da automação, impactando na
aquisição de dados que podem gerar conhecimento sobre como recursos naturais,
como água, são consumidos e de que forma podem ser otimizados, trazendo
impactos sobre qualidade e finanças. Por outro lado, essa mesma tecnologia,
pode gerar conhecimento sobre como um operador opera uma máquina, trazendo a
necessidade de melhor treinamento, impactando o RH na melhoria profissional
colaboradores, assim como na produção.
Considerando a questão da pandemia, ou seja, um cenário de crise e cada vez
mais competitivo, o papel da Automação torna-se ainda mais relevante. Uma
pesquisa do McKinsey Global Institute com mais de 500 executivos chegou à
conclusão de que as empresas que implementam tecnologias de automação podem
obter ganhos substanciais de desempenho e assumir a liderança em seus setores.
Ou seja, o que era um processo ainda lento de implementação da automação em
diversos setores, foi acelerado de forma colossal com a pandemia, mudando
também o seu enfoque que foi de cortar custos trabalhistas ou ganhar em
eficiência para minimizar ao máximo o contato entre humanos, evitando a
disseminação rápida do novo coronavírus.
Portanto, o profissional de automação que já tinha boas perspectivas de
carreira, passa com a evolução do mercado e com a chegada da Pandemia, a se
tornar ainda mais valorizado, cabendo a ele estar sempre atualizado e cada vez
mais multidisciplinar para ocupar ótimas posições no mercado de trabalho.
Thiago
Turcato - coordenador de suporte técnico da Mitsubishi Electric
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