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A rotina das famílias mudou
completamente durante a pandemia do novo Coronavírus. Devido ao isolamento
social, as crianças já estão há três meses em casa e ainda têm mais dois meses
pela frente até voltarem às aulas. No início os pais tinham diversas ideias de
brincadeiras e atividades para entreter os pequenos, porém, há um momento
em que as ideias acabam e os pais não sabem mais como lidar com a energia das
crianças dentro de casa ou até os efeitos negativos que o isolamento social
está causando em seus filhos. Para abordar essa questão, a psicóloga Adriana
Mikaelian dos Santos, do CAIS - Centro de Atenção Integral à Saúde do Grupo São
Cristóvão, esclarece como entender os sinais que os pequenos dão.
Se para os adultos, que
conseguem entender o momento atual, não tem sido uma fase fácil de enfrentar,
imagina para as crianças que tiveram suas rotinas mudadas completamente e ainda
não conseguem compreender na totalidade o que está acontecendo? Segundo a
psicóloga, nesse período que as crianças estão em casa, sem ir para a escola,
sem suas atividades extracurriculares e sem poder estar com seus amigos,
existem sinais que podem ajudar os pais a decifrar as perspectivas dos
pequenos.
Se a criança quer brincar o tempo todo ou não
quer brincar:
Pode ser que ela sinta que é
como se estivesse em período de férias, com menos obrigações por estar em casa,
ou até mesmo ser um traço de ansiedade, por ter mais energia acumulada. Agora,
se a criança não sente vontade de brincar, isso pode indicar que ela sente
falta dos seus amigos, necessidade de ter obrigações/recompensas e falta de
alguém que entre em seu mundo e partilhe da sua forma de brincar.
“Para lidar com ambos os
com
portamentos, é importante que o adulto se aproxime e ajuste brincadeiras que
sejam divertidas para a criança, observando suas preferências. Isso pode servir
como estreitamento de vínculos e prevenção a sofrimentos emocionais decorrentes
da situação de isolamento. Estar junto é muito mais do que a presença física, é
ter a compreensão dos processos da criança, sua concepção e possíveis
sofrimentos resultantes do momento atual, no intuito de diminuir essas
angústias. Ser empático, se colocar no lugar da criança, ajuda a entender como
está percebendo e reagindo às privações atuais, o que automaticamente torna
possível uma ação direcionada para faltas ou excessos.”, explicou a psicóloga
Adriana.
Quando a criança não expressa de alguma forma ou
verbaliza seus sentimentos:
Os sinais de desajuste
emocional podem ser notados por comportamentos atípicos, que podem ser
representados em forma de agitação, aquisição de manias, medos, dependência
crescente da presença de adultos, problemas com alimentação e sono, entre
outros, que podem ser adquiridos em determinado período, condição e/ou
situação. “A brincadeira é o grande termômetro para identificação do estado de
humor. O conteúdo lúdico da brincadeira e a forma como a criança se expressa
por meio dela nos diz muito sobre seu estado emocional. Entre os fatores
comportamentais que são analisados, temos: conteúdos, auto-agressividade,
heteroagressividade, desinteresse total, desistências, funcionalidade,
capacidade de criatividade e diversão com esses estímulos, entre outros
fatores.”, disse a psicóloga.
Como saber se é “manha” ou há algo de errado:
Segundo a psicóloga, a
“manha”, caracteristicamente, se difere do não estar bem de acordo com a
motivação de querer algo e alcançar com determinado comportamento. Isso,
geralmente é expressado como reclamação, choro ou birra de forma exaustiva. Se
o comportamento não é direcionado para satisfação de algo específico e
considerado secundário (doces, excesso de atenção, brinquedos), pode ser que a
criança realmente não esteja bem e sentido algum desconforto, seja social ou
físico. Atentar para a motivação do comportamento, além de diferir do
não estar bem, possibilita que as reações dos adultos sejam dosadas conforme a
avaliação da conduta da criança enquanto o comportamento se apresenta.
Rotina em casa:
Mesmo em casa as crianças
devem manter uma rotina, atividades fixas e, principalmente, hora para dormir e
acordar. “O sono impacta no desenvolvimento físico e tem papel regulador de
emoções e comportamentos. Uma criança que não dorme direito ou com horários
irregulares tende a apresentar irritabilidade de improdutividade. Para a
manutenção desses horários, e visando o gasto de energia em tempo correto, a
rotina de atividades da criança precisa ser mantida durante o dia sempre que
possível. Uma opção, é fazer um quadro de atividades diárias com horários
e figuras ilustrativas para auxiliar a criança no processo de assimilação de
seus afazeres. Para um sono tranquilo, recomenda-se estipular o horário de
dormir e 30 minutos antes incluir atividades tranquilas e mais relaxantes, sem
tablets, TV ou celulares.”, esclareceu a psicóloga Adriana Mikaelian.
Fazer com que a criança
participe dos afazeres da casa também é uma forma de entretê-las, ensiná-las,
torná-las independentes e mantê-las próximas dos seus pais. Os pequenos podem
ajudar a colocar e tirar a mesa nas refeições, preparar alguma receita com os
pais, estender a roupa, entre outras atividades que prezem pela segurança
deles.
O desenvolvimento da criança:
“Na psicologia, o processo de
desenvolvimento da criança é abordado sob dois aspectos: a zona de desenvolvimento
proximal e a real. A proximal é quando a criança indica capacidade de
desenvolvimento mediante auxílio. Para esses casos, a supervisão e ajuda de um
adulto dá o sentido do ‘estar junto’ e tem criação de memória de trabalho, que
é o que permite à criança expandir seu planejamento e é retomado para situações
semelhantes quando é necessário resolver algum problema. Há também a questão
afetiva, que acontece a partir de estímulos sensoriais, como cheiros,
partilhas, presenças, e é base para estabelecer sentimentos afetivos para que
determinadas atividades sejam habilidades futuras a serem estabelecidas como
reais”, explicou a psicóloga, que finalizou:
“A noção de autocuidado também
deve ser reforçada visto que gera a capacidade de independência e contribui
para constituir habilidades motoras e educativas no geral.”, finaliza a
profissional do São Cristóvão.
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