A palavra comum é a corrupta do sentido “como
um”. Sua origem monta os princípios da sociologia e busca dar sentido aos
fenômenos sociais que atingem a todos, “como um”.
Vamos dando botinadas, cabeçadas nos portais e
caneladas em tudo que não vemos - até que um outro se comporte “como um” e mais
alguém se comporte “como um”. Quando uma massa de “como um” se forma, é porque
o comportamento da maioria orientará a todos, deixando então de ser “comum” e
passa a ser reconhecido como “normal” - aquilo ou aquele que segue a norma.
Apenas déspotas ou ditaduras corruptas promovem o
“normal” em detrimento ao comum. Norma que se evade do senso comum só funciona
“sob vara”.
Eu estive por duas vezes na Tailândia e, em ambas,
tive a oportunidade de treinar no camp com Khaosai Galaxy - peso pena com 41
vitórias por KO na sua carreira. Ele deve ter uns 1,60m e pesar algo ao redor
de 55kg. É quase imbatível para todas as categorias mas para um adversário peso
pesado, não tem “quase” não... é impossível acertá-lo dentro das regras
tailandesas. Uma vez durante os ensinamentos depois do treino, ele nos contou a
fábula da iluminação de Bangcoc. Ele nos contou que o rei Rama I, olhando para
porção mais pobre de sua cidade do outro lado do Rio, separou uns bons cobres e
determinou a iluminação noturna da cidade. Seu ministro então recolheu o
cascalho do rei e guardou. Ato contínuo, determinou ao seu chefe de polícia que
obrigasse, sob pena de morte, a todos os moradores de ambas as margens do rio,
a iluminar suas casas com lampiões fortes o suficiente para iluminar suas casas
e calçadas.
No dia seguinte, o rei Rama I, antes de cair nos
braços de Morfeu, foi até a varanda do seu novo palácio e contemplou seu nome,
a ser escrito com luz na história. O seu ministro então... ficou duplamente
feliz: por ter cumprido com folga as ordens de seu rei tanto quanto engordou e
muito suas finanças pessoais com sua parte do butim.
Não houve nem “eu” nem “você” nem o “como um”. Não
houve o que fazemos em comum nem nada que justificasse o estabelecimento de uma
nova “norma”. Simples assim, como costuma dizer o meu brilhante amigo,
Arquiteto Eduardo Manzano: acende ou morre. O normal em Bangcoc já em 1700 e
bolinho era de cumprir a ordem. Eventualmente, esta ordem minguou e o rei
“quem-quer-que-seja” passou a iluminar a cidade. Normal? Novo normal? Faltou
povo nessa história absurda... lembra alguma coisa? Tipo, “Todo poder emana do
povo e em seu nome será exercido”?
Notem que o primeiro conjunto de leis e
regulamentos sociais que reconhecemos como normal, tem seis mil anos. O Código
de Hamurabi, cuja a origem se reputa ao grande Rei Hamurabi, foi um exercício
de compilação de conhecimento comum. Ao Rei coube apenas compilar e observar o
que já era praticado “como um” e daí colocar sua assinatura e transformar em
“norma”. A partir da iluminação de Bangcoc e a partir de inúmeros exemplos de
atos de governo, fica convencionado entre os historiadores que “a norma é
consequência natural do senso comum e de sua observação.”
O que temos então para o jantar de hoje?
“A consciência cívica da classe média co-existe com
o “medo da vara” que atinge as classes mais baixas.”
Dá uma folhada aí no filósofo Austríaco Hans Kelsen
(que na verdade nasceu em Praga) ou no francês Emile Durkheim e tudo ficará
mais claro, além de divertido!
Achar que o mundo mudará, igual roteiro de “Guerra
dos Mundos” é tomar partido político contra a nação, qual seja, contra si
próprio. Precisamos antes de mais nada, observar se agimos “como um”, se temos
um senso que privilegia a sociedade e que podemos chamar de comum. Um novo
normal, quando não há concordância sobre o que é ou não aceito pelo bem comum,
está fadado a virar o “quase normal” ou mesmo, um “anormal”.
Há um ditado em comunicação que diz que a “verdade
é a primeira vítima da guerra.” Aqui, nos jatos de tinta da minha impressora,
parece-me que emergencialmente um certo Estado quer impor a uma certa Nação,
seus fios de marionete. Óquei, entendi. Emergencialmente, temporariamente. Mas,
se temos governos nas 3 esferas que não são assim tão confiáveis; se temos
órgãos de imprensa que são simbioticamente alimentados pelo governo e deste
governo tiram seu sustento; se temos oposição que (...) não quero nem pensar e
finalmente; se temos um judiciário que jamais! jamais! teve legitimidade para
nos representar como nação, eu devo admitir que estamos meio perdidos
mesmo...
Ordens, contra-ordens, desobediência civil e a
falsa independência dos poderes operam seus milagres para que a
sociedade exista a sombra da democracia. Porque? Sei lá. Eu deixo a
resposta com vocês.
Mas normal e/ou anormal, precisam de um pouco de
participação da sociedade.
Algo ali, tipo 99%.
Julio Gavinho - executivo da área de hotelaria com
30 anos de experiência, sócio e Diretor da MTD Hospitality, Diretor Executivo”
da Dee Participações e professor do curso de MBA em hotelaria de luxo e do
curso de MBA em arquitetura de luxo da Faculdade Roberto Miranda.
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