Síndrome do esgotamento profissional já atinge pelo menos 32%
dos brasileiros
A rotina de trabalho de boa parte da população
exige a habilidade de se dividir para dar conta de muitas coisas ao mesmo
tempo: reuniões, prazos curtos, pressão para cumprir metas e sobrecarga de
atividades. E embora algumas pessoas sejam mais resistentes ao estresse, não há
resiliência que aguente uma rotina assim por muito tempo. O resultado é que um
dia, sem aviso, a mente entra em pane e a saúde cobra a sua conta. Esse
fenômeno de exaustão relacionada ao trabalho tem nome: Síndrome de Burnout ou
Síndrome do Esgotamento Profissional – e já está mais presente do que
imaginamos.
De acordo com pesquisa realizada pela International
Stress Management Association (ISMA), pelo menos 32% dos brasileiros sofrem
de Burnout, o que corresponde a 33 milhões de pessoas. Quando comparado a
outros países onde esse tipo de exaustão é mais incidente, o Brasil só fica
atrás do Japão, cujo índice é de 70% da população. “Embora a síndrome tenha
começado a ganhar mais destaque recentemente, não é um problema novo. Como seus
sintomas são parecidos com os de outras desordens mentais, muitas vezes acaba
não sendo diagnosticada”, aponta o endocrinologista Guilherme Renke, consultor
da Via Farma.
E os sinais de que as pessoas estão descansando
cada vez menos não param por aí. Seja resultante do trabalho ou de outras
atividades diárias, a fadiga prevalece entre a maioria da população. Uma
pesquisa feita em 2013 pelo Ibope revelou que 98% dos brasileiros se sentem
cansados e 61% deles estão exaustos. “Rotinas intensas, que não respeitam as
horas de descanso, podem desregular o ciclo circadiano, prejudicando a saúde
física e mental”, aponta Renke. O médico ainda destaca que um sinal de alerta
para a procura de um especialista é quando o cansaço persiste mesmo após noites
bem dormidas e momentos de lazer. “Esse pode ser um indicativo de fadiga
crônica, Burnout ou outras desordens que precisam de investigação médica”,
completa.
Cérebro em combustão
O termo “Burnout” foi criado pelo psicanalista
alemão Herbert Freudenberger em 1974 e significa “queima completa”. E é
exatamente o que acontece: sobrecarregado, o cérebro entra em colapso e a
sensação é de que sobraram apenas cinzas – é o esgotamento completo. “Entre os
sintomas mais frequentes da síndrome estão os lapsos de memória, dificuldade de
concentração, ansiedade, depressão, faltas ao trabalho, agressividade,
irritabilidade, falta de produtividade e pessimismo em relação às próprias
perspectivas”, elenca Renke.
Além dos sinais cognitivos e comportamentais, o
corpo também começa a dar sinais físicos de que algo não vai bem: dores de
cabeça, crises de enxaqueca, insônia, distúrbios gastrintestinais, dores
musculares, sudorese, palpitação, pressão alta e crises de asma podem se tornar
frequentes. “Devido à elevação crônica dos níveis de cortisol, o hormônio do
estresse, também é comum que o paciente tenha a imunidade suprimida,
apresentando quadros recorrentes de doenças infecciosas, como gripes e
resfriados”, explica o médico.
Home office e “fadiga digital”
Com a adoção do distanciamento social como
forma de frear o avanço da pandemia, boa parte das empresas implantou o
trabalho remoto. À primeira vista, o home office pode parecer simples e
até mais fácil, mas não é: trabalhar de casa pode ser uma armadilha para a
saúde mental de quem não tem um bom planejamento. “Os limites entre o
expediente e o horário de descanso podem se misturar e muitas pessoas acabam
trabalhando mais do que no escritório. Também é comum que a auto cobrança por
produtividade e a carga de estresse aumentem, até porque, nesse momento, muitos
estão dividindo atenção entre trabalho, educação dos filhos e tarefas
domésticas”, diz o médico.
“Quem já convive com o Burnout ou tem tendência
a desenvolver a síndrome pode sofrer pioras nesse período. Por isso, é
importante contar com a telemedicina para não abandonar o acompanhamento do
psicólogo e do psiquiatra nessa fase”, destaca. A falta de contato humano
também pode pesar com o home office e já estão surgindo novas formas de
fadiga relacionada ao trabalho. Batizado de “zoom fatigue”, em
referência a uma plataforma de vídeo conferência, esse tipo de cansaço mental
se tornou comum na quarentena. “Para compensar a distância, as reuniões online
podem se tornar excessivas, se estendendo por mais tempo do que o normal. Esse
tipo de interação é mais cansativo para o cérebro e pode aumentar os níveis de
estresse”, afirma.
Cansaço que contamina os hábitos
Outro ponto de atenção para quem luta contra o
Burnout são as mudanças negativas que a desordem pode trazer para o estilo de
vida. “É comum que o estresse crônico leve ao consumo excessivo de álcool e ao
uso de cigarro e outras drogas, como forma de promover relaxamento”, alerta
Claudia Luz, nutricionista do Departamento de Inovação da Via Farma. “Mas esses
hábitos trazem um falso bem-estar, que é momentâneo e altamente prejudicial
para a saúde, piorando o quadro já existente”, completa.
Tomar café em excesso e recorrer aos doces como
forma de aumentar os níveis de energia também não é a solução. “A alimentação
saudável é essencial para potencializar os resultados das abordagens
terapêuticas adotadas para reverter o quadro. Recomenda-se optar por alimentos
orgânicos, fontes de gorduras boas, proteínas de qualidade, alimentos ricos em
antioxidantes, vitamina C e do complexo B, além de zinco e magnésio”, indica
Claudia.
Para potencializar a recuperação, também é
possível contar com a prescrição de alguns fitoterápicos. “Podem ser indicados
ativos como Ashwagandha, Rhodiola rosea e Panax ginseng, por exemplo.
Uma opção mais recente é o extrato de carvalho francês, conhecido como
Robuvit, que age mais especificamente no alívio dos sintomas do Burnout e
também da Síndrome da Fadiga Crônica, reduzindo a fadiga e aumentando os níveis
de energia por meio da regeneração das mitocôndrias e do aumento do número de
ribossomos” explica a especialista.
Diagnóstico e tratamento
Apesar do crescimento rápido da Síndrome de
Burnout, os números ainda não são fiéis à realidade, devido à dificuldade de
diagnosticar a desordem. “Diante desse momento que vivemos, é esperado que haja
um boom de transtornos mentais, inclusive de Burnout e Síndrome da
Fadiga Crônica. Nesse cenário, os médicos que estão na linha de frente na luta
contra o Covid-19 podem ser os mais afetados”, pontua Renke. De acordo com o
médico, é preciso um olhar atento do profissional de saúde, principalmente em
relação à rotina de trabalho do paciente, já que os sintomas são facilmente
confundidos com outros transtornos, como depressão e Síndrome do Pânico.
Feito o diagnóstico, pode ser recomendado o
tratamento com antidepressivos em associação com psicoterapia, para
potencializar a recuperação. Além disso, é indicada a avaliação da troca
de trabalho, com a adoção de um estilo de vida mais regrado e livre de estresse
excessivo. “Também é importante destacar que nem sempre será necessário um
tratamento farmacológico. Muitos pacientes se saem muito bem com a
suplementação fitoterápica, como no caso do extrato de carvalho francês, que
reduz significativamente a fadiga física e mental”, afirma o endocrinologista.
“O que as pessoas precisam saber é que existe qualidade de vida após o Burnout
ou qualquer outro distúrbio mental. Só é preciso que elas deem o primeiro
passo, se livrem de preconceitos e busquem a ajuda de um especialista”,
finaliza.
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