Muitas pessoas
acreditam que nunca acordarão do estado hipnótico ou que revelerão segredos
íntimos durante um transe. Trata-se de medo sem fundamento, já que hipnotizados
ficamos conscientes e bem mais alertas do que o normal
A palavra hipnose desperta na maioria das pessoas um sentimento de
fascínio e medo. É costumeiro relacionar o termo à figura de um homem, em um
palco, que balança um relógio de mão e deixa voluntários da plateia a mercê de
seus comandos de voz. Eles imitam animais, comem uma cebola inteira sem
derramar lágrima sequer, ficam com pés colados ao chão e mãos grudadas uma na
outra. Tudo isso sob o olhar incrédulo do restante do público. Não à toa o
receio, mas a hipnose não é só isso e está longe de ser essa "mágica"
que transforma pessoas em robôs. Muito pelo contrário, ao ser utilizada como
processo terapêutico, quando recebe o nome de hipnoterapia, tem forte impacto
no desenvolvimento emocional e até físico do ser humano.
A hipnoterapeuta especializada em intolerâncias alimentares, Juliana
Casagrande, explica que o estado hipnótico é mais comum do que imaginamos.
Trata-se de uma característica da mente humana que está presente em todo
indivíduo. "Hipnose é pensar, imaginar, estar focado", destaca. Um
exemplo comum de hipnose, segundo Juliana, é quando as pessoas assistem a um
filme e choram ou riem com a história contada. "Nós sabemos que se trata
de ficção, com atores desempenhando papéis, mas mesmo assim nos emocionamos,
porque imaginamos o contexto e vivenciamos como se fosse realidade", diz.
Conforme a hipnoterapeuta, ao fazemos isso estamos em estado de hipnose.
Logo, estar hipnotizado não é um bicho de sete cabeças e as pessoas
podem deixar de lado alguns medos e concepções equivocadas a respeito do assunto.
Tais como a de que hipnose induz à inconsciência. "Muitas pessoas
acreditam que dormem ao serem hipnotizadas, mas isso não é verdade",
afirma Juliana. De acordo com a hipnoterapeuta, na realidade, ocorre o oposto,
e ao serem hipnotizadas as pessoas ficam com a mente cerca de 300 vezes mais
alerta do que em estado normal de vígília. "Isso é o mais longe do sono
que alguém pode chegar na vida", diz.
Sabendo que se permance consciente durante todo o processo, outros
temores relacionados à hipnose caem facilmente por água abaixo, como, por
exemplo, não acordar depois da sessão, ficando preso no transe para sempre.
Trata-se de algo impossível de ocorrer, pois como destacou Juliana, em nenhum
momento se fica inconsciente. "A pessoa permanece o tempo todo acordada,
focada, conversando, completamente ciente do que está acontecendo",
enfatiza. Quando termina a sessão, a pessoa não acorda, mas emerge da hipnose.
Nesse sentido, destaca a hipnoterapeuta, é igualmente
impossível que a pessoa perca o controle durante a sessão e seja obrigada a
fazer aquilo que não deseja. A hipnose é consensual e para que uma sugestão do
hipnoterapeuta acesse a mente do paciente é necessário que este autorize. Caso
contrário, regressa-se ao estado normal de consciência sem prejuizos.
Tampouco a hipnose coloca a pessoa em um estado de
fragilidade emocional tão grande a ponto de ela revelar os segredos mais
íntimos para o hipnoterapeuta. Ao ser hiipnotizado, o paciente relaxa
fisicamente, porém redobra a atenção. Ou seja, tem mais controle sobre si do
que normalmente. Dessa forma, caso o responsável pela hipnose faça alguma
pergunta que a pessoa não tem interesse em responder, ela não responderá.
Há ainda aqueles que temem esquecer o que disseram no
decorrer do transe. "Isso também não é possível, pois quando a pessoa se
encontra em estado hipnótico, ela está o tempo inteiro consciente do que é
falado ou ouvido. Ou seja, lembra-se absolutamente de tudo o que ocorreu
durante a sessão", esclarece Juliana.
Por fim, a hipnoterapeuta tranquiliza as pessoas que receiam
descobrir algo do passado que não estejam preparadas para lidar; algum trauma
mascarado pelo subconsciente que ao ser revelado as façam passar por um sofrimento
muito grande. "Se houver algo escondido no subconsciente, a pessoa nao
sofrerá com as consequências. Por meio da hipnoterapia o evento será
ressignificado, fazendo com que carga emocional advinda de sua descoberta não
prejudique o paciente e que doenças físicas ou psicológicas sejam tratadas e
até evitadas", afirma Juliana.
A mente humana apresenta uma tendência a resistir a
modificações, fazendo com que o indivíduo continue com hábitos muitas vezes
prejudiciais ao seu desenvolvimento. Uma das principais barreiras para que as
mudanças ocorram é o chamado fator crítico do consciente. Ele recebe ordens
conservadoras do subconsciente, para que ponha em espera qualquer sugestão
positiva que venha da própria pessoa ou de uma fonte externa. Por isso a importância
da hipnoterapia. Como o paciente hipnotizado fica consciente, extremamente
alerta, com os sentidos bem aguçados, torna-se mais fácil que as recomendações
sejam aceitas e as transformações sejam implementadas.

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