As primeiras análises dos dados do censo da Educação
Superior, indicam que o segmento agora está sustentado e direcionado para o EAD
- Educação a Distância. O número total de alunos matriculados teve um ligeiro
crescimento, de 8,3 milhões de alunos para 8,4 milhões, aumento de 1,2 %.
Enquanto a quantidade de alunos matriculados nos cursos presenciais de
graduação caiu de 6,5 milhões, para 6,4 milhões, decréscimo de 1,5%, os alunos
cursando graduação a distância cresceram de 1,8 milhão, para 2 milhões,
representando incremento de 11,1%.
Um resumo de números absolutos mascara a tendência não só
de oferta, mas também de procura pela modalidade EAD. Observa-se que, no total,
o aumento foi de 100 mil alunos, o presencial perdeu 100 mil alunos, e o EAD
ganhou 200 mil alunos. Porém na análise de gradiente de crescimento, o EAD vem
crescendo a sua base de alunos em índices de 2 dígitos mais de 10% ao ano.
Outro fator a ser considerado quanto a tendência e a
provável predominância do EAD em poucos anos, é que nas Instituições de Ensino
Superior Privadas, onde está o grande número de alunos cursando, as matrículas
novas em cursos na modalidade EAD corresponderam a 84% do número de matrículas
novas nos cursos presenciais.
Mais importante ainda, ao vermos os números apresentados,
é que precisamos olhar além da foto do momento. A análise deve abordar, ao
menos, os dados dos censos anteriores, e a tendência dos números é percebida a
partir de análise de uma série. Em sete anos, de 2011 a 2018, o número de novas
matrículas em EAD triplicou, saindo de pouco mais de 400 mil alunos para quase
1,4 milhões. Por outro lado, as matrículas nos cursos presenciais caíram para o
menor número no período.
Ao contrário do que se apregoa em eventos de carreira e
inovação, esta mudança de tendência para uma nova mídia com tecnologia não
representa uma escolha de novas carreiras, que são ofertadas, como design de
games, ciber risks. Os três cursos com mais matrículas em EAD são tradicionais
e de histórico de existência longa, permanecendo com a mudança de mídia de
oferta, são eles Pedagogia (23,4%), Administração (11,4%) e Ciências Contábeis
(7%).
Apesar de existir um esquecido Plano Nacional de Educação
(PNE), que estabelece metas de quantidade de alunos matriculados no
ensino superior (entre outras) que não serão atingidas por falta de políticas
públicas para tal, o cenário da educação superior tem tendência de estagnação
do número de estudares, mas com mudança de escolha do presencial para o
EAD.
Tal fato leva a outra importante preocupação: como será a
aplicação dos recursos tecnológicos na contribuição da formação dos graduandos
que se tornarão profissionais em todos os segmentos? Neste sentido, excetua-se
Medicina e no Direito, carreiras controladas por seus órgãos de classe que
impedem os cursos 100% EAD, por enquanto.
Não podemos esquecer que parte das IESs passou a ofertar
cursos de graduação a distância para reduzir custos e sem qualquer proposta
pedagógica diferenciada, e que 8 entre 10 IESs ofertantes de EAD utilizam um
dos três ambientes virtuais de aprendizagem que se estabeleceram na educação
superior do Brasil. Tais ambientes são funcionais na apresentação dos
conteúdos, mas não trazem nenhuma experiência diferenciada para os alunos.
Como destacado por muitos dos pesquisadores do mercado de
inovação, parte das grandes empresas de 2025 ainda não existem. Pode ser que na
Educação Superior ainda esteja por vir um ou mais players realmente preparados
para esta nova realidade. É preciso que sejam ofertadas propostas pedagógicas
adequadas ao EAD, com plataformas de ensino aprendizagem diferenciadas, com
features que permitam uma nova experiência aos alunos e que uma adesão, uma
construção de grupos de estudos que diferenciem a participação dos alunos e
passe a permitir indicadores de evasão muito menores. Somente desta forma o EAD
deixará de ser o presencial com redução de custos e passará a ser uma proposta
de investimento. O cenário proporciona esta expectativa.
César
Silva - presidente da Fundação FAT (Fundação de Apoio à Tecnologia)
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