O
ser humano passa, aproximadamente, um terço de sua vida dormindo e uma boa
noite de sono contribui para um dia a dia com mais saúde. Durante o sono,
o ronco é algo que afeta muitas pessoas e que tornou-se anedota ao longo do
tempo. Na roda de amigos se diz que todo homem nasceu para casar, engordar e
roncar! Normal? Não! Por trás de um barulho intenso podem-se esconder problemas
graves de saúde. Muitos até são alertados pelo cônjuge da existência
incômoda desse som, mas, geralmente, negam e apenas uma pequena parcela, a muito
custo (ameaçados, algumas vezes, por um divórcio iminente) procuram orientação
médica. A procura por ajuda vem aumentando, já que a incidência da doença
cresce, chegando a atingir mais de um terço de homens acima de 40 anos e cerca
de um quarto das mulheres nessa mesma idade.
Mas, de onde vem esse barulho?
O ronco é característica praticamente exclusiva da espécie humana.
Isso por dois motivos: é o único que pode assumir uma posição de “barriga para
cima”, ao dormir e, outro detalhe, é a presença de uma faringe (garganta) mais
alongada e sem um arcabouço rígido (ósseo) que impeça o seu colabamento. Desvio
de septo nasal, pescoço curto e pequeno, amígdalas grandes, úvula (campainha)
edemaciada, maxila (queixo) pequeno são algumas das características naqueles que
roncam, todas situações avaliadas pelo otorrinolaringologista. Fatores
genéticos e ambientais também contribuem para o desenvolvimento do distúrbio e
a obesidade é um fator muito prevalente.
Esse som perturbador sugere a presença de um fechamento parcial
das vias aéreas e pode ser sucedido pela apneia, que é uma parada completa do
fluxo de ar. Pacientes com a síndrome da apneia obstrutiva do sono podem ter
também agitação ao dormir, despertares
recorrentes com sensação de sufocamento, sonolência diurna excessiva, cefaleia
matinal, irritabilidade e baixa concentração.
Talvez você conheça o quadro
Seu (sua) companheiro (a) reclama
que você está roncando em demasia à noite e, inclusive, está apresentando
paradas na respiração seguidas por um barulho estranho, parecendo que está se
afogando. Ele(a) está assustado (a) e algumas vezes acha que você não vai
voltar a respirar mais. Às vezes, perde a paciência e insiste para você dormir
em outro quarto. E você, por mais horas que fique na cama, ainda acorda cansado(a)
e o dia custa a passar, sempre sentindo muito sono, irritabilidade no trabalho
e diminuição da concentração.
No caso daqueles que trabalham no trânsito, são motoristas ou
lidam com máquinas pesadas, outro sinal preocupante e perigoso é a sonolência
diurna excessiva – causa comprovada de acidentes, já que gera uma diminuição dos reflexos e um aumento no tempo de
reação.
Como o sono não é de qualidade por causa de múltiplas
interrupções, o organismo pode sofrer com vários outros problemas secundários,
como arritmias cardíacas, hipertensão arterial sistêmica (pressão alta),
infarto agudo do miocárdio (infarto), derrame cerebral (AVC) e impotência
sexual. A cada pausa na respiração provocada pela apneia, existe uma descarga
de adrenalina, que aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial. Esse
processo se repete várias vezes na mesma noite e por vários anos fazendo com
que a pressão arterial desses pacientes aumente à noite, em vez de diminuir
como se espera, costumando exigir várias medicações para controle. Há também um
aumento do hormônio do estress (cortisol), que repercute negativamente no seu
coração. O paciente que não trata adequadamente o ronco e a apneia possui
também maior incidência de complicações anestésicas e pós-operatórias, maior
chance de precisar dos cuidados de UTI e de morte prematura.
O tratamento, em geral, envolve vários profissionais, e deve ser feito o mais rapidamente possível, para evitar sequelas em médio e longo prazo ao seu coração. Dependendo da causa, ele pode incluir cirurgias, uso de aparelho dentário e até um equipamento usado toda a noite que gera pressão no ar (empurra o ar) através de uma máscara na face (o mais conhecido é o CPAP). São também importantes medidas gerais, como perda de peso, hábitos de sono regulares e alimentação saudável. Procure o seu cardiologista para averiguar a saúde do seu coração.
Para finalizar, segue um teste padronizado
internacionalmente para avaliar a qualidade do seu sono. Responda as perguntas
dando notas de 0 a 3:
Qual
possibilidade de você cochilar ou adormecer nas situações abaixo?
Dê uma nota de 0-3
0 -
nenhuma chance de cochilar
1 -
pequena chance de cochilar
2 –
moderada chance de cochilar
3 - alta
chance de cochilar
Situações
1.
Sentado e lendo
2.
Vendo televisão
3.
Sentado em lugar público sem atividades como sala de espera, cinema,
teatro, igreja
4.
Como passageiro de carro, trem ou metrô andando por 1 hora sem
parar
5.
Deitado para descansar a tarde
6.
Sentado e conversando com alguém
7.
Sentado após uma refeição sem álcool
8.
No carro parado por alguns minutos no durante trânsito
Total:
Caso atinja 10 pontos, fique alerta e procure por um especialista para descartar a presença de apneia!
Dr. Fernando
Cesar Mariano - otorrinolaringologista especialista em Medicina do Sono e
cirurgião de ronco e apneia e Dr. Rodrigo Cerci é cardiologista e diretor
científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia.
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