A
notícia me pareceu demasiado bisonha. Embora divulgada num site sério como a
Gazeta do Povo, fui atrás da mesma em jornais espanhóis. Quem sabe o autor da
matéria entendeu algo errado? Mas não, ele descrevera com a habitual precisão
os acontecimentos que forneciam irrecusável testemunho do caráter doentiamente
malévolo da ideologia de gênero.
Na edição em idioma catalão do dia 11 de
abril, o jornal El Nacional noticiou que:
“... Os membros do comitê de gênero da Escola Pública Tàber de
Barcelona e os membros da Associação Espai i Lleure (Espaço e Lazer), decidiram
dar uma olhada na biblioteca infantil da escola para analisar o grau de
machismo das histórias que os mais jovens leem. Isso levou à retirada de 30%
dos livros por promoverem valores sexistas e discriminatórios, num total de 200
títulos. De acordo com o The Confidential, eles não teriam concluído com a
retirada, que chegaria a 60% dos livros, para não deixar as prateleiras vazias.
Apenas 10% das histórias foram escritas desde uma perspectiva de gênero.”
Comitê
de gênero é dose, mas vamos em frente. Um dos autores da iniciativa, responsável
pelo tal comitê na escola, falando à Betevé (uma TV de Barcelona), afirmou: “Estamos muito longe de bibliotecas iguais,
onde personagens masculinos e femininos aparecem meio a meio, onde fazem o
mesmo tipo de atividade.” A
diretora do Espai i LLeure, Anna Tutzó, também na Betevé, observou que
“histórias como o Chapeuzinho Vermelho, ou a Bela Adormecida, promovem valores
de gênero que são prejudiciais às crianças que ainda não formaram a capacidade
crítica.
Haverá
quem não veja nisso um trabalho ideológico, coisa de degenerados, de engenharia
social? Haverá quem não perceba a utilização do sistema de ensino para
introduzir ideologia nefasta nas escolas, criando comitês, concedendo-lhes
autoridade para promover essa Bücherverbrennung (queima de livros pelos nazistas em 1933)?
Felizmente, a sociedade brasileira foi alertada em tempo,
mobilizou-se, e desfez a arapuca que estava preparada na proposta do Plano
Nacional de Educação, a partir do qual se estenderia aos 26 Estados, ao
Distrito Federal e aos 5570 municípios do país.
Contra tais militâncias não existem, porém, vitórias
definitivas. Elas consideram cada derrota, legislativa ou eleitoral, como etapa
de uma luta ao cabo da qual alcançarão seus objetivos. Por isso, jamais
desistem ou esmorecem em suas iniciativas.
É exatamente por isso que defendem com unhas e dentes seus
dois baluartes: a autonomia escolar e a liberdade de cátedra, que funcionam
como porta e ferrolho para fazerem o que bem entendem com as crianças e jovens
que a sociedade lhes confia. Foi assim que, na evoluída Barcelona, Savonarolas
de araque retiraram das prateleiras das bibliotecas, mais de 200 obras, entre
elas os clássicos Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida e Cinderela. Afinal,
são livros sedutores, perigosos à formação infantil e não se enquadram nos
estereótipos supostamente não estereotipados da ideologia de gênero. A maldade
perde o constrangimento.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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