Em meio à campanha eleitoral que agora entra
no segundo turno, ouvimos muitos doutores em oratória puxando para si o papel
de especialista em medicina e saúde. Vimos propostas das mais absurdas, até com
aplicativos para transformar atendimento humano em Uber
Certo é que candidato algum foi ao âmago da questão. Temos centenas de problemas na assistência aos cidadãos. Só para enumerar poucos, cito a abertura em massa de escolas médicas sem estrutura para formar adequadamente, a falta de investimentos na saúde, a ridícula remuneração de médicos e demais profissionais, as negativas de cobertura de planos e seguros de saúde, o descaso com a residência medida, a incompetência de muitos gestores e o descompromisso absoluto da maioria da classe política. Isso sem falar no entrave campeão dos campeões, a corrupção.
O custo corrupção do Brasil chega a ser algo quase que incalculável. Estimativas indicam que, apenas em 2017, R% 100 bilhões dos investimentos em saúde saíram pelo ladrão. Aliás, expressão perfeita para conceituar o que ocorre em nosso País em todas as áreas.
Entretanto, algo que nunca vem à discussão, nem em momento eleitoral nem em outro qualquer, é a questão do cuidado. Lamento. O cuidar, sim, é a receita para resolvermos nossas mazelas sociais e para o resgate da cidadania.
Cuidar tem sentido amplo. Segundo o Dicionário Aurélio, cuidar é: imaginar; supor; pensar; ter cuidado em; tratar de; interessar-se por, entre várias significâncias. Então, proponho aqui uma reflexão sobre esse precioso vocábulo.
Na coisa pública, queremos a gestão cuidadosa, que se interesse pelo destino das pessoas, que tenha imaginação para criar políticas que atendem as principais demandas dos brasileiros, que pense no valor do nosso trabalho.
Feito isso, todos os caminhos ficarão mais transitáveis. Olhando a saúde por esse aspecto, os gargalos se resolverão como em efeito dominó. Os investimentos se darão por atender ao bem social, a administração será transparente e idônea, a lei de Gérson será revogada, recursos humanos terão a valorização justa e os profissionais terão condição adequada para a prestação de um atendimento de nível elevado.
Neste contexto, entra uma parte que conheço bem: o exercício da medicina. Nossa obrigação, como médicos, é estabelecer uma interação com o paciente, não importam sua classe, sua cor ou seu credo.
É necessário gostar de gente. Saber que não existem doenças, e sim doentes. Exercer essa profissão é pôr em prática o amor ao próximo. O doente deve morrer de mãos dadas com o seu médico e este necessita de tranquilidade e de ferramentas ideais para um atendimento no qual possa oferecer o melhor do seu conhecimento, toda a sua atenção e, principalmente, todo o seu respeito. Ele precisa de tempo suficiente para conhecer o paciente, descobrir suas queixas, averiguar seu passado, seus anseios e suas angústias. E fazê-lo sair aliviado, com a perspectiva de ter seu problema solucionado.
Dar e receber assistência médica de qualidade e universal, mais do que um anseio, é um direito de todos.
Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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